Em ‘Iboru’, Marcelo D2 celebra o Samba conciliando tradição e modernidade


marcelo-d2-fotografia-rodrigo-ladeira
Foto | Rodrigo Ladeira

Marcelo D2 durante toda a sua vasta e versátil trajetória artística construiu relações intrínsecas entre a sua cidade natal (o Rio de Janeiro) e a música em seus mais variados estilos e formatos. Como líder do Planet Hemp, Marcelo soube cadenciar Rap, Rock’n’Roll, Psicodelia, Hardcore e Ragga (como bem diz uma das canções do grupo) com letras ácidas/mordazes sobre a realidade brasileira e a descriminalização da maconha.

O sucesso alcançado fez com que D2, em carreira solo, se aproximasse ainda mais de suas raízes sonoras ligadas a Música Popular Brasileira (o Samba em especial) que somados ao Rap e Rock gerariam discos antológicos como Eu Tiro é Onda (1998) e A Procura da Batida Perfeita (2003).

O Samba, como já dito, é umas forças motrizes de D2, mas, até então, o gênero não tinha assumido o protagonismo devido na musicalidade do artista. O disco tributo ao sambista Bezerra da Silva, lançado em 2010, foi um aceno para algo maior em termos de homenagem. Eis que em 2023 o músico decidiu que era chegada a hora de seguir em frente e dar a esperada vazão a sua verve sambista. E é no recém lançado Iboru que D2 concretiza sua imersão no gênero musical, e o faz em grande estilo.

Produzido por Mario Caldato, Nave, Barba Negra, Kiko Dinucci e Fejuca, em Iboru D2 concilia tradição e modernidade, marcas que lhe são peculiares no seu fazer artístico.  O disco reúne ao longo das 16 faixas ícones da velha guarda do Samba como Zeca Pagodinho e Alcione, mas também se aproxima das gerações posteriores aos mestres. Esse é o caso de Xande dos Pilares, Nega Duda, Mumuzinho, o grupo Metá Metá (formado por Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França), BNegão e Pedro Garcia (ambos  parceiros no Planet Hemp), mais o mestre Mateus Aleluia.

Musicalmente, o novo projeto promove junções estéticas que conciliam beats da cultura Hip Hop e as harmonias do Samba, mas num caminho inverso das propostas anteriores já que aqui o tradicional ritmo brasileiro tem maior protagonismo. Liricamente, o disco é versátil, pois promove justas homenagens aos arquitetos da Música Popular Brasileira, mas também versa sobre fé e religiões de matrizes africanas. Há espaço também para análises pontuais sobre as mazelas da sociedade contemporânea.

Para essa empreitada, o músico contou com a colaboração de diversos compositores como Moacyr Luz, Diogo Nogueira, Marcelinho Moreira, João Martins, Inácio Rios, Arlindinho e Marcio Alexandre, além dos já citados Zeca Pagodinho e Xande de Pilares, que tem como elemento comum relações intrínsecas com o samba.

+++ Leia a crítica de ‘Jardineiros’, do Planet Hemp

Faixas como o single “Povo de Fé”, “Até Clarear”, “Tempo de Opinião”, “Só Quando Meu Samba Morrer”, “Abrindo os Caminhos” e “O Samba Falará + Alto” são só alguns bons exemplos de um disco ambicioso esteticamente e que deve fazer barulho por um bom tempo.

marcelo-d2-iboru-capa

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2023
GRAVADORA: Pupila Dilatada
FAIXAS: 16
DURAÇÃO: 48:02
PRODUTOR: Marcelo D2, Barba Negra, Mário Caldato, Nave, Kiko Dinucci, Fejuca
DESTAQUES: “Povo de Fé”, “Até Clarear”, “Tempo de Opinião”, “Só Quando Meu Samba Morrer”, “Abrindo os Caminhos” e “O Samba Falará + Alto”
PARA FÃS DE: Samba, Hip Hop, MPB, fusão de estilos

Previous Subestimado 'Head Over Heels' é a pedra angular na sonoridade do Cocteau Twins
Next Sigur Rós disponibiliza 'ÁTTA', seu novo álbum em dez anos; Ouça

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *