Nunca fico confortável ao resenhar discos de Rap ou Hip Hop, exatamente por gostar bastante, mas não saber muito sobre! Portanto, puristas, perdoem-me!
Hoje falo de Black Sunday, segundo álbum do Cypress Hill, lançado em julho de 1993, e que completará 30 anos logo mais.
O Cypress Hill é da Costa Oeste americana. Surgiu em 1988, quando Senen Reyes (o Sen Dog), imigrante cubano, se uniu a Lawrence Muggerud (o DJ Muggs), e a Louis Freese (o B-Real). No início, o irmão de Sen Dog fazia parte do grupo, e já não integrava o grupo quando gravaram o primeiro álbum.
Nos anos 80, B-Real fez parte da cena nos bastidores: quando Ice Cube deixou o lendário NWA, ele era parte da gangue de Cube, andando armado e o defendendo das muitas tretas que arrumava – principalmente com Eazy-E, que permaneceu no NWA, iniciando uma rivalidade interna na cena Hip Hop da Costa Oeste.
O Gangsta Rap, em contrapartida ao Rock, vinha se tornando o gênero mais consumido na música. O Rap havia conquistado espaço com nomes como MC Hammer, ou Will Smith (ainda representando o Fresh Prince, de Bel-Air), e o Gangsta Rap tomava o espaço de assalto. Nomes como Snoop Dogg e Tupac Shakur dominavam as paradas, e a mídia explorava, e de certa forma incentivava, a briga entre a Costa Oeste e a Costa Leste.
A MTV, no idos de 1993, meio que divulgava o Cypress Hill como “latinos apologistas à maconha”, e o primeiro vídeo que realmente pipocou na programação foi “Insane In The Brain”. Esteticamente, o vídeo mostrava a banda no palco interpretando a música com alguns parcos efeitos visuais. Mas o que se via, na prática, era um “show punk”. O Cypress Hill parecia ser mais hedonista do que a galera Gangsta, mas com uma postura de “mão mexa conosco”. E Black Sunday traduz musicalmente uma proposta estética que funcionou e os catapultou ao estrelato.
O disco tem em suas letras DEZENOVE declarações favoráveis ao plantio e consumo da erva em seu encarte.
É um disco de apologia à maconha? Sim!
De batidas e loops preguiçosos, vagarosos, a audição envolve numa preguiça lisérgica e contagiante. Ainda que não seja apreciador da leseira, é impossível dissociar o som que se ouve à chapação.
Mas, seria Black Sunday um álbum também dentro do contexto Gangsta? Sim!
Apesar de lisérgico, ele tem muitos temas sobre vingança, assassinato, violência e sangue. A capa do álbum, por sinal, emula um álbum de Metal. Isso, unido à estética do grupo e ao vídeo de “Insane In The Brain” (camisas xadrez num show de stage dives), aproximou o trio dos garotos roqueiros brancos, ainda que esse não tenha sido o plano inicial.
Com bases que sampleavam faixas do primeiro álbum, Rita Marley, Dusty Springfield, Black Sabbath, James Brown, bem como vinhetas extraídas de filmes da Blaxploitation, a colagem sonora de DJ Muggs funciona de forma eficiente. B-Real é um estupendo MC, e sua voz anasalada é facilmente compreendida pela vagarosidade que emprega ao cantar – ainda que a linguagem das ruas não seja para iniciantes, como eu. Sen Dog, por sua vez, rima pouco, mas assume uma função mais “responsiva”, seja respondendo a uma provocação de B-Real ou repetindo a última frase. Talvez esse jogo de estrofe-refrão/resposta tenha aproximado o trio da estética Rock daquele período.
Além do já citado hit, outros singles foram extraídos: “When The Shit Goes Down”, “I Ain’t Goin Out Like That” e “Lick a Shot”, essa última, talvez, a mais rápida do álbum. Várias outras mereciam ter virado single, como “Hits From The Bong” (com base deliciosa de “Son Of A Preacher Man”, de Dusty Springfield), “A To The K”, “Break ‘Em Off Some”, e a brisante “I Wanna Get High”, que tem como base um cover de “Taxman”, dos Beatles, feito em 1970 por Little Junior Parker.
Black Sunday é um clássico absoluto do Hip Hop que completará 30 anos nesse 2023.
INFORMAÇÕES:
LANÇAMENTO: 20 de julho de 1993
GRAVADORA: Ruffhouse / Columbia Records
FAIXAS: 14
TEMPO: 43:38 minutos
PRODUTOR: DJ Muggs e T-Ray
DESTAQUES: “Insane In The Brain”, “When The Shit Goes Down”, “I Ain’t Goin Out Like That” e “Lick a Shot”, “Hits From The Bong”
PARA QUEM CURTE: Hip Hop, Gangsta Rap,
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