7 álbuns para “entender” o New Acoustic Movement (NAM)


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Fran Healy (Travis) | Foto: Alarmy

New Acoustic Movement foi o termo criado pelo NME, no final da década de 90, para designar bandas com arranjos enfatizando o acústico

Saem as distorções, os vocais berrados, o barulho. Entram as guitarras melódicas, os violões, o piano, o canto delicado e as melodias. Entram também as letras de cunho sentimental, exaltando sentimentos de melancolia, solidão. Assim pode ser descrita a música dos artistas que foram categorizados como parte do New Acoustic Movement (NAM), termo cunhado pelo New Musical Express (ele novamente!) no final da década de 90 e no limiar do novo milênio.

Àquela altura, o Grunge já havia ficado pra trás e mesmo as bandas Pós-Grunge soavam desgastadas com a repetição de fórmulas. O Britpop também estava esgotado, e antes que as guitarras barulhentas voltassem à pauta do dia com os garageiros de Nova Iorque, havia esse punhado de artistas fazendo música intimista e exaltando o sentimentalismo, a introspecção, resgatando uma sonoridade com influências do Folk, do Country, e também agregando elementos sutis de Psicodelia e Eletrônica, mas mantendo a sutileza à frente de tudo.

O piano e os violões, sem dúvida, eram os atores principais nas canções desses artistas e bandas, e, claro, as baladas. Era o tipo de música que parecia ser composta para ser ouvida no quarto enquanto ruminava sobre um relacionamento desfeito ou uma paixão não correspondida. Embora isso não fosse uma regra.

A sensação era de que, à beira do novo milênio, com todas as incertezas e ansiedades que cercavam o período (incluindo a sombra do bug do milênio), havia uma ressaca do barulho que dominou boa parte dos anos 90, e aquele era o momento de se embrulhar em calmaria e placidez. Curtir uma fossa, mergulhar na tristeza ouvindo suas músicas no Winamp, baixadas pelo Napster.

Ao mesmo tempo, eram bandas formadas pelo que se podia chamar de “jovens comportados”, avessos aos costumeiros excessos das bandas de Rock. O Coldplay, após problema internos, estabeleceu que “qualquer um que usasse drogas pesadas seria expulso do grupo imediatamente”.

Musicalmente, as bandas do NAM pareciam emular o lado baladeiro do Oasis, as canções mais intimistas do Radiohead (e alguma experimentação), o Indie-Twee-Pop de sutilezas do Belle and Sebastian, um pouco de Jeff Buckley, e adicionar o acento Folk e acústico de artistas como Tim Buckley, Nick Drake, Simon and Garfunkel e até Eliot Smith.

Claro que a música não se resumia a isso, mas essa era a tônica da maior parte das canções de muitos desses artistas. E teve em bandas como Coldplay, Travis, Starsailor alguns dos nomes mais comentados para além da Terra da Rainha. Por lá, outros artistas também fizeram grande sucesso: David Gray, Dido, Doves, Elbow, Turin Brakes e Badly Drown Boy, que foi convidado a fazer a trilha do filme Um Grande Garoto (About a Boy, 2002), emplacando a canção “Silent Sigh”, que se tornou um hit. Mas há outros que permaneceram na semi-oscuridade: Lowgold, Alfie, Electric Soft Parade.

A sensibilidade e delicadeza exposta nas canções incomodava. “No topo da lista do Mercury [NE:Premiação Britânica] está Coldplay: música para quem faz xixi na cama”, afirmou Alan McGee (criador da Creation Records) ao se referir ao Coldplay num texto do The Guardian em que ele comentava os indicados  ao Mercury Music Prize de 2000 – posteriormente ele se disse arrependido da frase: “comparado ao que veio depois deles, eles eram bons”, concluiu.

Esse desdém também era compartilhado por parte da crítica musical da época, que não só não comprou o termo cunhado pelo famigerado semanário inglês como costumava fazer piadas nas resenhas dos álbuns. White Ladder (2001), de David Gray, foi descrito pela Pitchfork como “um fenômeno que desafia qualquer explicação”. Já o The New York Times descreveu o Coldplay como “a banda mais insuportável da década”. Damon Albarn (Blur) chamou o Coldplay e Travis de “boring and apolitical” (chatos e apolíticos).

Apesar da rejeição, muitas das bandas categorizadas como parte do NAM fizeram bastante sucesso, lotaram shows, venderam milhões de discos, bateram nas primeira posições das paradas e ganharam premiações. De todas elas a que obteve mais sucesso em todos os quesitos, sem sombra de dúvidas, foi o Coldplay, que segue na ativa até hoje e muito maiores do que naquela época. Mudaram seu som a partir do terceiro álbum, deixando o “paradigma” NAM para trás.

Entre a rejeição por parte da crítica e a aclamação do público, essas bandas marcaram de tal forma um período específico na música britânica e, de certa forma, mundial, que ganhou até livro. Em 2001, o jornalista musical Tom Clayton lançou When Quiet Was a New Loud: Celebrating the Acoustic Airwaves 1998-2003. O autor pega emprestado para seu livro o título do álbum de estreia dos noruegueses Kings of Convenience, outro ato ligado diretamente ao NAM, e não podia ser mais apropriado. Ou seja, embora praticamente restrito ao Reino Unido, o Kings of Convenience conseguiu romper as fronteiras.

“A música tranquila de 1998-2003 preencheu a lacuna entre duas culturas, duas gerações e dois séculos. À medida que os anos noventa terminavam e um novo milênio se aproximava, o Reino Unido começou a olhar com nostalgia para o passado – e com hesitação para o futuro… Embora Travis, Dido, Coldplay e David Gray possam ter brilhado mais, nomes como Kings of Convenience, Badly Drawn Boy e Turin Brakes também produziram álbuns clássicos e conquistaram legiões de fãs”, diz o anúncio do livro.

Conforme explicitado no título, o livro de Clayton se concentra num período de aproximadamente cinco anos, focando nesses artistas já citados, mas trazendo muitos outros. “Tinham harmonias próximas, letras suavemente tristes, musicalidade que combina calor e exatidão de uma forma que poucos conseguiram antes ou depois”, comenta Clayton

+++ Leia em LISTA DE 7 sobre bandas essenciais para entender o Synthpop

A ascensão dos Strokes, e tudo que veio junto com o quinteto, impôs uma guinada musical. Sufocou um paradigma, substituindo-o por um novo.  Além disso, resgatou as guitarras sujas dos anos 70 e colocou o Rock de garagem na pauta do dia. Tão rápido quanto inventaram o New Acoustic Movement, inventaram o termo New Rock Revolution. Mas essa é uma outra história.

Abaixo, listamos 7 álbuns que dão uma “ideia” do New Acoustic Movement. E ressaltamos que há muitos outros.


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Travis – The Man Who

A escocesa Travis foi formada no início dos anos 90’s, mas só debutaria em 1997, com Good Feeling. A estreia mostra o grupo fortemente influenciado pelo Britpop e também pelo Radiohead. Com The Man Who (1999) o quarteto comandado pelo vocalista e compositor Fran Healy resolveu abrandar sua sonoridade e se esbaldar em guitarras acústicas e canções melodiosas, o resultado dessas mudanças estão presentes em The Man Who – e também no seu sucessor, The Invisible Band (2001). Repleto de melodias assobiáveis, refrãos fortes, elementos acústicos, vocais frágeis e letras sentimentais, o Travis acabou se tornando, ao lado foi uma das bandas que obtiveram maior êxito comercial. Dois dos grandes êxitos do álbum, “Writing to Reach You” (repleta de romantismo) e “Why Does It Always Rain on Me” (sobre auto-comiseração), são exemplos do texto sentimental do Travis, e se tornaram hits radiofônicos. Fran Healy, chegou a dizer que o Coldplay “roubou” seu som.

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Coldplay – Parachutes

Formado em Londres, em 1997, o Coldplay – de Chris Martin, Jonny Buckland, Guy Berryman, e Will Champion – já havia dado uma amostra de seu som através dos EP’s Safety (1998) e The Blue Room. Mas foi do segundo que saíram “Don’t Panic” e “High Speed”, duas das faixas de Parachutes (2000). Apesar da ênfase no acústico, com influências de Jeff Buckley, Parachutes tem seus momentos distorcidos e esbarra aqui e ali no Radiohead, por exemplo, em “Shiver”; um dos grande hits do álbum e também da banda, “Yellow”, puxada pelo videoclipe em alta rotação na MTV, também tem riffs distorcidos mas controlados, assim como “Spies”. O álbum traz ainda baladas ao piano, como no single “Trouble” e “Everything’s Not Lost”. Chris Martin, disse que Travis foi “a banda que inventou minha banda e muitas outras”.

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Badly Drown Boy – The Hour of Bewilderbeast

Em 2000, The Hour of Bewilderbeast superou Coldplay e Primal Scream, Doves, Delgados e  Kathryn Williams. Disco de estreia do Badly Drawn Boy, na verdade um projeto de Michael Gough, famoso também pelo seu indefectível gorro (indumentária indispensável), o álbum traz canções acústicas de Folk-Pop e arranjos entre o Chamber-Pop e o Lo-Fi, com influências de Eliott Smith, Beck, Grandaddy e Tindersticks, e incorporação de estilos e sonoridades diversas. “Eu gostava de trovador porque era no estilo Dylan, mas lo-fi era uma descrição mais precisa da minha música do que acústico”, disse o músico anos depois. A acústica “Pissing in the Wind” é o grande hit do álbum, que tem participação do pessoal do Alfie e Doves.

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Kings of Convenience – Quiet Was a New Loud

Dupla norueguesa, o Kings of Convenience compôs Quiet Was a New Loud (2001), seu álbum de estreia, no estilo voz e violão, com a dupla Erik Glambek Bøe e Erlend Oye e sentada no sofá de casa da mãe de Erick. O próprio título do álbum é uma carta de intenções das pretensões do duo, algo como “a quietude é o novo barulho”. O álbum é bastante intimista, como se cantassem ao lado do ouvinte, e formado por um apanhado de canções acústicas conduzidas por violões acústicos, vocais límpidos e alguma instrumentação de apoio. Quiet Was a New Loud alcançou o primeiro lugar na parada norueguesa. Estão na ativa até hoje, mas não obtiveram tanta repercussão fora do velho continente, apesar de serem cultuados por fãs do seu estilo, que tem bastante influência de Simon & Garfunkel, e se conecta com a música dos escoceses do Belle & Sebastian.

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Turin Brakes – The Optimist LP

Amigos de infância, Olly Knights e Gale Paridjanian fundaram o Turin Brakes em 1999. Após um primeiro EP, The Door, lançado no mesmo ano, a banda atraiu a atenção de algumas grandes gravadoras. Lançariam outros dois EP’s em 2000, até assinarem com a Source Records, que lançou The Optimist LP, seu álbum de estreia, em 2001. O álbum traz o single “The Door”, o maior hit do grupo. Canções lentas e guitarras acústicas são os atributos da música do querteto de Londres, que raramente abandona esse paradigma. Num álbum de 13 faixas, “State of Things”, com elementos de Reggae, e “Slack”, com riffs distorcidos que remetem ao Rock dos anos 70, dão uma ligeira “mudança de ares”. O grande hit de The Optimist LP é “The Door”. O álbum foi indicado ao Mercury Music Prize a a banda ganhou elogios do semanário NME: “Turin Brakes habita um espaço que é inteiramente seu, totalmente formado e brutalmente emotivo… dê-lhes a devoção que merecem”.

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Starsailor – Love is Here

O Starsailor foi formado em 1996 por James Walsh, James Stelfox e Ben Byrne. Nas palavras da banda, a ideia era que Love is Here, seu álbum de estreia soasse como Grace, de Jeff Buckley, e Harvest, de Neil Young. Lançado em 2001, o álbum se junta aos trabalhos do Travis e Coldplay, no sentido de manter-se preso ao que pode ser considerado o paradigma do New Acoustic Movement: ênfase em arranjos acústicos (violão e piano) e letras românticas e emotivas, mas sem  cair na autocomiseração, e falando ainda sobre alcoolismo e uso de drogas. Sobre o título do álbum, Walsh declarou que a ideia pretendida era de algo “edificante e positivo, porque tudo ao redor no momento parece ter um toque bastante cínico”. O álbum chegou ao segundo lugar na parada britânica e foi bem recebido pela crítica. “Alcoholic” foi a canção que alcançou a melhor posição, um décimo lugar.

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Keane – Hopes and Fears

Apesar de formada em 95, o Keane chegou atrasado com seu álbum de estréia (Hopes and Fears) ao NAM, que só foi lançado em 2004, quando a tendência acústica já havia arrefecido. Isso não impediu do trio formado por  Tim Rice-Oxley (piano e backing vocals, que quase entrou para o Coldplay), Tom Chaplin (vocal e guitarra) e Richard Hughes (bateria, percussão e backing vocals) – o baixista Jesse Quin deixou a banda em 2001 – alcançar o sucesso e emplacar canções como “Somewhere Only We Know” e “Everybody’s Change”. A força das canções do Keane estão no uso do piano como elemento principal, e nos vocais poderosos de Tom Chaplin. Hopes and Fears alcançou o topo das paradas e foi o segundo álbum mais vendido no Reino Unido em 2004.

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2 Comments

  1. Rocque Moraes
    18/03/2024

    Parabens amigo, excelente materia !

  2. 20/03/2024

    Que bom que gostou. Muito grato pela leitura e pelo retorno. Abraço.

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