‘Sanguinho Novo’, o inusitado e oportuno tributo a Arnaldo Baptista


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A coluna Esse Eu Tive em Vinil revisita a compilação/tributo ‘Sanguinho Novo: Arnaldo Baptista Revisitado’, lançado em 1989

Em 1989, estava ainda começando a minha formação musical “adulta”, digamos assim. Enquanto parte da infância foi ouvindo o que os vizinhos, principalmente, ouvia, já que só alguns anos depois teria um aparelho de som em casa: Luiz Ayrão, Benito di Paula, Moraes Moreira, Beth Carvalho, Martinho da Villa; a outra parte foram os LP’s que meu pai comprava, que ia de trilha sonora de novela a sucessos da FM, passando, obrigatoriamente por discos de Roberto Carlos e até os discos de Dodô & Osmar e Armandinho.

Após um “limbo musical”, ouvindo principalmente rádio FM, descobri a loja Cabaret Voltaire (já comentada em textos anteriores dessa coluna) – já na fase pré-adulta – a Revista Bizz, e tudo mudou. Surgia assim uma avidez por música nova cada vez maior, uma sede que parecia insaciável. Se não dava pra ter o LP, gravava uma fita K7. O que não foi o caso de Sanguinho Novo. O disco apareceu na Modinha, uma loja de discos da cidade que pra gente era um verdadeiro mistério. La era possível encontrar desde coisas como Heaven Up Here (do Echo and the Bunnymen), Thunder and Consolation (do New Model Army) e todos os álbuns dos primeiros anos do Midnight Oil, a discos de Roberto Carlos e Chiclete com Banana.

A Modinha Discos era uma loja comercial e não segmentada, diferente da Muzak, especializada principalmente em Rock, e o “paraíso na terra” para fãs de Rock Alternativo ou clássico, Heavy Metal, e afins. Foi lá que desembarcou a chamada “2ª Invasão Britânica” anunciada na Bizz pelo selo Stiletto: The Fall, Joy Division, The Durutti Column, etc. Mas foi na Modinha que calhou (e encalhou) esse Sanguinho Novo: Arnaldo BAptista Revisitado em 1989…mas pode ter sido em 1990.

Já tinha visto uma chamada do disco na Bizz e, provavelmente, lido a resenha publicada na revista. Mas quem era Arnaldo Baptista? Bem, no meu radar musical a informação era que havia feito parte dos Mutantes. Eu gostava de A Divina Comédia, mas não conhecia o trabalho de Arnaldo solo, que vim a descobrir posteriormente e tem composições sensacionais. Ainda assim, comprei o disco, afinal tinha alguns nomes da cena musical nacional, principalmente alternativa, que gerava o interesse: Sexo Explícito, Vzyadoq Moe, Fellini, Atahualpa y us Panquis, Maria Angélica Não Mora Mais Aqui, alguns conhecidos e outros apenas de resenhas da Bizz.

Embora a capa me desagradasse e a seleção de artistas presentes parecesse bem “salada de frutas”, a presença de alguns dos nomes de interesse faziam valer à pena a aquisição do disco. Outra coisa que achava interessante era um tributo a um artista vivo, algo bastante incomum naquela época, pincipalmente no Brasil. Mais que isso, ficava imaginando por que um tributo ao Arnaldo e não ao Mutantes? Embora tenha canções de Arnaldo que foram lançadas em disco dos Mutantes e Rita Lee.

Aí vem o outro lado da estória. Um disco de covers de Arnaldo Batista nas mãos de uma pessoa que não conhecia nenhuma das versões originais. Hoje seria fácil, só abrir qualquer programa de streaming ou o Youtube e tá tudo lá pra comparar o original com as versões. Naquela época, era ouvir a versão e pensar em ouvir o original algum dia.

Não há versões ruins, algumas se destacam mais que outras, mas cada artista/banda conseguiu dar seu próprio toque pessoal à canção escolhida. A que mais se aproxima da original é “Cê Tá Pensando que Eu Sou Lóki?”, feita pelo Fellini. Sanguinho Novo tem bandas/artistas de estilos diversos da então cena musical nacional, de nomes do underground (Maria Angélica Não Mora Mais Aqui, Atahualpa y us Panquis, 3 Hombres, ùltimo Número e Vzyadoq Moe) a emergentes (Sepultura, Ratos de Porão), consagradas (Paulo Miklos) e promessas (Sexo Explícito, Skowa, Fellini, Akira S. e as Garotas que Erraram).

Minhas preferidas seguem sendo as mesmas de sempre: “O Sol” (Sexo Explícito), “Dia 36” (3 Hombres), “Bomba H Sobre São Paulo” (Vzyadoq Moe), “Cê Tá Pensando que Eu Sou Lóki?” (Fellini).

Olhando de uma perspectiva posterior, é interessante perceber como cada artista/banda pescou nas composições de Arnaldo, espalhadas em trabalhos diversos, aquela composição com os elementos que “casam” com a sua sonoridade, em especial o Sepultura (“A Hora e a Vez do Cabelo Crescer”), o Ratos de Porão (Jardim Elétrico), com uma pegada mais de guitarras, e, em especial, o Vzyadoq Moe, com uma versão totalmente personal para a enigmática “Bomba H Sobre São Paulo”, das melhores do disco.

Sanguinho Novo não era aquele disco da coleção que ouvia muito, e quando ouvia sempre pulava uma faixa ou outra. Como homenagem a Arnaldo Baptista é excelente.

+++ Leia outras colunas ESSE EU TIVE EM VINIL

Quem desejar conhecer as versões originais, fizemos uma Playlist com todas as canções versionadas em Sanguinho Novo (OUÇA ABAIXO).

PS: Esse Eu Tive em Vinil é uma coluna que foi criada há vários anos, quando o vinil tinha praticamente desaparecido, sendo preterido em relação ao CD, e onde falo de discos que fizeram parte da minha coleção (já não os tenho mais) e falo um pouco sobre mim mesmo.

 

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