30 Álbuns que completam trinta anos em 2025 (Parte 1)


30 Álbuns que completam trinta anos em 2025

O ano de 2025 marca o aniversário de vários álbuns que foram lançados em 1995, ou seja, prestes a completarem 30 anos. Como forma de homenageá-los e viajar no tempo, resolvemos fazem uma listinha de 30 Álbuns que completam trinta anos em 2025.

Historicamente, pode-se dizer que 1995 foi o ano do boom do Britpop. Blur e Oasis, dois standards do gênero lançaram álbuns naquele ano, assim como diversas bandas que de alguma forma acabaram associadas ao gênero musical inglês: Pulp, Cast, Gene, Marion, Echobelly, Elastica, Supergrass, Sleeper, dentre outras.

Em paralelo, o Trip-Hop dava mostras de sua sonoridade e encantava o lado musical mais “undergound” da mídia e do público, com trabalhos seminais do gênero, embora não exatamente lançados em 1995, mas que repercutiram naquele ano, casos de Dummy, do Portishead e Protection, do Massive Attack. Tricky foi o responsável pelo lançamento de maior porte no ano de 95.

Enquanto o chamado Shoegaze dava seus últimos suspiros – com quase todas as bandas dando uma guinada em sua sonoridade -, apenas Slowdive, Swervedriver e The Boo Radleys (todos já com outra sonoridade) deram as caras em 95, o Radiohead dava início a sua revolução, que não viria a acontecer naquele ano, mas cujas sementes foram plantadas ali com o lançamento de The Bends já no primeiro trimestre.

Nos Estados Unidos, o furacão Grunge havia passado e deixado sequelas em todo universo musical do alternativo ao mainstream, principalmente após a morte de Kurt Cobain em 1994. O efeito foi tão devastador que a única banda associada ao chamado som de Seattle a lançar álbum foi o Mudhoney. Curiosamente, uma banda iniciante de um ex-Nirvana lançava seu disco de estreia. Era o início da carreira vitoriosa de Dave Grohl com seu Foo Fighters. E dentro dessa lacuna, uma banda de Chicago tomaria de assalto as paradas mundiais com um ambiciosoe multiplatinado álbum chamado Mellon Collie and the Infinite Sadness.

Se o Grunge havia chegado ao fim em 95, uma série de atos musicais – eclipsados pela poeira levantada pelas guitarras barulhentas sob o comando de distorção Fuzz e Overdrive – ganharam um pouco mais de espaço. Surgidos a partir do Rock Alternativo, novas vertentes musicais ganhariam termos como Slowcore ou Sadcore (Red House Painters, Hum) e Lo-Fi ou Slacker Rock (Pavement, Guided By Voices).

Claro que o ano de 1995 vai muito além dos álbuns listados nesse especial, e a pretensão aqui não é “esgotar” os lançamentos daquele ano, mas traçar um panorama musical daquele ano com alguns lançamentos daquela época.

Seguindo a cronologia de lançamentos, trazemos nessa primeira parte os veteranos Siouxsie and the Banshees, os estreantes, Tricky, Sleeper, Gene e Elastica, e outros em segundo ou terceiro álbuns enfrentando situações diversas na carreira, caso de Radiohead, Leftfield, Slowdive, PJ Harvey e Tindersticks.

Quem envelheceu melhor nesses 30 anos?

Siouxsie and the Banshees – The Rapture (01/95)

Siouxsie and the Banshees - Rapture

Surgida na segunda metade dos anos 70, em 1995  Siouxsie and the Banshees  já era um ícone do Pós-Punk e do Gothic Rock,  e uma das poucas bandas “sobreviventes” daquele período. Foi na dobradinha 70/80 que a banda lançou seus álbuns clássicos Join Hands, Kaleidoscope e Juju, além dos excelentes A Kiss in a Dreamhouse, Hyaena e Tinderbox e, claro, o seminal The Scream. À margem do que acontecia na música em seu ano de lançamento, The Rapture é seu álbum de despedida e nem por isso um álbum ruim, apenas mais um trabalho que foge de tudo que a banda fez em seus primeiros anos, se aproximando musicalmente dos seus antecessores (Peepshow e Supertition): com uma veia mais pop e arranjos ancorados em teclados e sintetizadores. Produzido em parte por John Cale (Velvet Underground), The Rapture traz faixas que rememoram a fase áurea do grupo seja nos toques orientais de “Stargazer”, na percussiva “Not Forgotten”, ou nas climáticas “Forever” e “Double Life”.

Leftfield – Leftism (01/95)

Leftfield - Leftism

Neil Barnes e Paul Daley é a dupla responsável pelo combo Leftfield, que mistura em Leftism música eletrônica (Trance, Techno, House) com Dub, Reggae e música tribal, também categorizados como Progressive House, gênero surgido na Inglaterra nos anos 90 e considerado uma evolução da House Music. Leftism consiste, em grande parte, de singles lançados anteriormente e retrabalhados para o álbum. Para a empreitada, a opção foi escolher vocalistas não ligados à cena de Dance Music: John Lydon (Sex Pistols / P.I.L.), Toni Halliday (Curve), Danny Red e Lemn Sissay, ambos ligados ao Reggae. Apesar de certa cautela da dupla, que acho que faltou coesão ao resultado final do álbum, Leftism alcançou um sucesso considerável, e foi indicado ao Mercury Prize de 1995. Esse é o tipo de disco pra colocar pra tocar e dançar do início ao fim. Destaques? “Afroleft” (com toques de berimbau), “Original” (com vocal de Haliday) e “Open Up”, em que Lydon clama para que Hollywood queime.

Tricky – Maxinquaye (02/95)

Tricky - Maxinquaye

Os anos de 1994/1995 podem ser considerados chave para o gênero Trip-Hop, embora seu impacto tenha sido amortecido principalmente pela ascensão do Brit-Pop, que dominou esse biênio. Surgido lá em Bristol, no sudoeste da Inglaterra, o Trip-Hop tem em nomes como Portishead e Massive Attack dois de seus representantes mais populares. O rapper e produtor Adrian Nicholas Matthews Thaws, mais conhecido como Tricky, estava lá nos primórdios de tudo, inclusive na formação do próprioMassive Attack. Frustrado com seu papel no grupo, Tricky resolveu pular fora e seguir em carreira solo. Lançado pela 4th & B’way Records, uma subsidiária da Island Records,  Maxinquaye é o álbum de estreia do músico e conta com a produção de Mark Saunders (que também é co-autor em várias canções), que impressionou Tricky por seus trabalhos com o The Cure. Soturno e denso (como grande parte dos álbuns de Trip-Hop), o álbum mistura vários elementos presentes no Trip-Hop: Hip-Hop, Dub, música eletrônica e R&B, avançando ainda por música étnica, riffs de rock e experimentações, enquanto as letras versam sobre as experiências do músico com drogas e paranoia sexual; e ainda conta com a presença luxuosa dos vocais de Martina Topley-Bird. Detalhe: em “Hell is Around the Corner”, Tricky usa o mesmo (e famoso) sample que o Portishead usou em “Glory Box”.

Sleeper – Smart (02/95)

Sleeper - Smart
Junto com o Elastica de Justine Frischmann e o Echobelly de Sonya Madan, o Sleeper de Louise Wener é o lado feminino do Brit-Pop sem necessariamente soarem como as bandas convencionais do Brit-Pop, parte disso talvez se deva por terem aberto shows do Blur na turnê de Parklife. Com seu nome tirado do filme de Woody Allen, o Sleeper sempre esteve musicalmente mais próximo da sonoridade de bandas alternativas americanas do que do próprio Reino Unido – pense em nomes como Pixies e Hole, por exemplo. Álbum de estreia do Sleeper, Smart foi lançado pelo selo Indolent Records, uma subsidiária da gravadora RCA Records. O disco foi puxado principalmente pelo single “Inbetweener”, embora “Swallow” e”Delicious” tenham sido lançadas previamente. Smarte vendeu mais de cem mil cópias, sendo certificado como disco de ouro. A capa do álbum traz uma foto dossete astronautas do Mercury Seven selecionados para pilotar naves espaciais para o Projeto Mercury.

PJ Harvey – To Bring You My Love (02/95)

Pj Harvey - To Bring You my Love

Após dois álbuns funcionando como banda, PJ Harvey dissolveu o trio em 1993, afinal eram dela todas as composições tanto em Dry quanto em Rid Of Me. Também são dela todas as composições nesse To Bring You My Love. Produzido a três mãos (Flood, John Parish e PJ), o terceiro trabalho da musicista é marcado fortemente por influências de Blues, com espaço para experimentações vocais de Polly Jean (“Long Snake Moan” e “I Think I’m a Mother”) – algo que ela também exploraria mais adiante em sua carreira. É possível perceber por baixo dos arranjos, mesmo quando cobertos por distorção ou outros elementos, o processo de composição de PJ com o seu violão (atenção em especial em “C’Mon Billy”, “The Dancer” e “Send His Love to Me”), de onde surgem suas composições – pelo menos em seus álbuns iniciais, já que posteriormente ela usaria instrumentos como a autoharp para compor. PJ apresenta em To Bring You My Love um punhado de histórias sobre relacionamentos despedaçados, crianças afogadas no rio, e também sobre morte, e o uso recorrente de termos e imagens religiosas – apesar de não ser religiosa.  O álbum foi puxado pelo sucesso do single “Down by the Water”, que teve alta rotação na finada MTV e obteve excelente repercussão.

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Slowdive – Pygmalion (02/95)

Slowdive - Pygmalion

O Shoegaze havia chegado ao fim em 1995. Calma! A afirmação refere-se às bandas que deram início ao gênero lá no final dos ano 80 e início dos 90 – as chamadas old school do gênero. No caso do Slowdive, Pygmalion marca a “despedida” de um dos ícones da cena com um trabalho que musicalmente foge de tudo que o quinteto havia apresentado até então nos clássicos Just For a Day e Souvlaki. As paredes de guitarras dão lugar aos sintetizadores, loops, ambientações e guitarras texturizadas em delay e reverb. O Shoegaze dá lugar à Ambient Music, com canções longas e repetitivas. Pygmalion é praticamente um álbum solo do vocalista, guitarrista e principal compositor da banda Neil Hastead, com participação pontual da vocalista e guitarrista Rachel Goswell. O álbum também marca a presença do baterista Ian McCutcheon, substituindo Simon Scott, mas que tem uma participação praticamente nula na maior parte do álbum. Uma crítica do NME chamou Pygmalion de “suicídio de carreira”, parecia uma premonição. O Slowdive se separaria no final de 1995 (retornaria triunfalmente em 2014), após serem dispensados pela gravadora Creation Records.

Radiohead – The Bends (03/95)

Radiohead - The Bends

Pablo Honey, o álbum de estreia do Radiohead, não teve lá tanta repercussão, mas “Creep”, uma de suas faixas, fez um sucesso estrondoso, principalmente nos Estados Unidos, e gerou alguma atenção para quinteto de Oxford, cujo destino parecia se transformar em mais uma “one hit wonder”, ou seja, banda de um hit só. Pressionados pela gravadora, os rapazes até pensaram em cancelar o contrato, mas seguiram adiante, com Thom Yorke assumindo as composições. Enquanto a gravadora exigia novos hits do quilate de “Creep”, Yorke condensava em suas composições esse ambiente pesado e muito do que viu na turnê de Pablo Honey. Pra piorar, a banda teve algumas dificuldades com o produtor John Leckie. O resultado foi The Bends, álbum que mostrou o rápido amadurecimento de Yorke como compositor e da banda como um todo. Entre riffs distorcidos de guitarra e baladas cativantes, The Bends acabou se tornando um marco na carreira do Radiohead, abrindo um mundo de possibilidades e dando início ao processo de “dominação” mundial, com hits poderosos como “Fake Plastic Trees” e “Street Spirit (Fade Out)”, além de dar início a frutífera parceria com Nigel Goodrich.

Gene – Olympian (03/95)

Gene - Olympian

O que foi o Brit-Pop senão um resgate da música britânica dos anos 60/70? Alguns pegaram as influências dos Beatles, outros do The Kinks, Small Faces, T-Rex, Roxy Music, do The Jam, e houve ainda quem se inspirasse nos contemporâneos do Suede, e quem adicionasse os oitentistas The Smiths em sua paleta de referências, caso do Gene em Olympian, seu álbum de estreia. Alguns ganharam condescendência, o Gene foi massacrado por parte da mídia por esse “pecado” – algo que o tempo trataria de remediar em alguma medida. Não que musicalmente o Gene se pareça tanto com os Smiths (vá lá o uso de algum dedilhado melódico), mas o grande X está nas inflexões vocais de Martin Rossiter e no conteúdo de suas letras. A despeito dessas comparações, não há como negar a força de muitas das composições do debut do Gene, que teria sido maior ainda se eles tivessem incluído os dois ótimos singles lançados em 1994 (e mais sucesso fora da ilha): “For the Dead” e “Be My Light, Be My Guide”. Ainda assim, Olympian consegue “caminhar” e bem sem esse dois singles, trazendo algumas faixas que entram tranquilamente entre as melhores produzidas pelo chamado Brit-Pop: “Haunted by You”, “London, Can You Wait”, “To The City” e “Olympian”. Olympian alcançou uma oitava posição na parada britânica, sua capa traz uma imagem do ator Max von Sydow  no filme “O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman.

Elastica – Elastica (03/95)

Elastica - Elastica

Justine Frischmann (voz e guitarra) e Justin Welch (bateria) eram dois músicos egressos do Suede quando formaram o Elastica em 1993. Após alguns singles bem sucedidos, a banda chegaria ao seu homônimo primeiro álbum como uma grande sensação: foi o álbum de estreia a entrar mais rápido no topo da parada britânica. Inicialmente enquadrados (a contragosto) como membros da New Wave da New Wave, também conhecido como NWONW – uma criação de três jornalistas do NME que segundo Justine “durou apenas três semanas” – e era usado ao falar de nomes como S*M*A*S*H, These Animal Men, Sleeper, Echobelly, Sleeper, Shed Seven, Menswear e Elastica. Sumindo tão rápido quanto surgiu, parte das bandas pegaria uma carona no Brit-Pop, ainda que muitas delas compartilhassem pouco ou nada daquilo que que define o Brit-Pop. No caso do Elastica, as referências estão na segunda metade dos anos 70 – tanto do Punk quanto do chamado Art-Punk e da New-Wave -, de Buzzccocks a Blondie, passando pelo The Stranglers e Wire. O Wire os acusou de plagiar “I Am the Fly” em “Line Up”; e o Stranglers de surrupiarem a sua “No More Heroes” para “Waking Up”, a a banda acabou fazendo um acordo. Polêmicas à parte, o disco de estreia do Elastica dominou parte do ano de 1995. Com 16 canções e pouco mais de 40 minutos, o álbum é carregado por um punhado de conhecidos riffs rápidos e distorcidos, mas ainda assim mantendo atratividade nas canções.

Tindersticks – Tindersticks (04/95)

Tindersticks - Tindersticks (1995)

Uma das grandes qualidades da música do sexteto Tindersticks é permanecer atemporal, isso vale para qualquer disco do grupo e, claro, para esse seu segundo trabalho. Isso porque a música do grupo não está filiada a um gênero musical específico, o que lhes permite transitar por diversas décadas sem estar presos a modismos ou tendências passageiras. E essa é uma das qualidades dos grandes artistas. Não só isso é encontrado no trabalho do Tindersticks, a elegância e riqueza instrumental que preenche cada canção, junto aos vocais barítono e as narrativas de Stuart Staples (em geral sobre relacionamentos), é o casamento perfeito dentro da proposta do grupo britânico, que alguns classificam como Chamber-Pop ou Baroque-Pop, dada a suntuosidade dos arranjos. E essa veia sonora gerou gerou filhotes, podendo ser encontrada desde os novaiorquinos do The National até os trabalhos solo de Gruff Rhys (Super Furry Animals) e de Antony and the Johnsons . Tindesticks, também conhecido como The Second Tindersticks Album, é uma evolução quase que natural de seu antecessor, lançado dois anos antes, só que mais melancólico. Traz toda a gama de elementos sonoros que compunham o disco de 93, apresentando de diferente um domínio maior das canções pela banda e dos vocais por Staples. Dentro do cenário musical dominado pelas guitarras do Brit-Pop, poderia ter sido um álbum deslocado. E foi! O que não impediu de ser, também, um oásis (sem trocadilho!) no meio da repetição. Na dúvida dentro dos longos 70 minutos, vá direto em “A Night In” ou “Tiny Tears”.

 

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