Kevin Cummins, o fotógrafo que moldou a imagem do Joy Division


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“Gostaria de pensar que os salvei de serem Bon Jovi; eles queriam ser uma banda de Rock” (Kevin Cummins)

O trabalho fotográfico de Kevin Cummins é gigantesco, o dizem os diversos livros publicados, os 25 anos em que trabalhou no semanário NME e as mais de 250 capas da influente publicação que foram ilustradas com uma foto sua. Numa carreira de quase cinco décadas, inúmeros artistas passaram pela sua lente. Do inicio, ainda amador, com as fotos da turnê Ziggy Stardust, de David Bowie (quando ainda estava na Universidade) ao que seria definida de foto definitiva dos Stones Roses – aquela em que a banda está esparramada pelo chão e coberta de tinta azul e branca -, ou a premiada foto de Richey Edwards (o sumido vocalista do Manic Street Preachers) com o corpo coberto de carimbos com o rosto de Marilyn Monroe.

Nascido em Manchester, em 1953, Cummins estudou fotografia no Salford College, e seus primeiros trabalhos foram fotografias amadoras. O início de sua carreira como fotógrafo profissional coincide com formação do Joy Division.

A aproximação com o quarteto aconteceu quando foi contratado pelo NME, junto com o repórter Paul Morley, para fazer um artigo sobre a música de Manchester, escolhendo três ou quatro bandas para destacar. Das escolhidas, o Joy Division foi a que mais impressionou a dupla: “Havia uma banda chamada Spherical Objects e o vocalista era Steve Solamar, que era um cara interessante”, disse Cummins em entrevista. Ele foi o fulcro da peça até que nos sentamos com o Joy Division, conversamos com eles adequadamente e percebemos que eles tinham um plano melhor e estavam famintos”, concluiu.

Se Martin Hannet foi responsável por definir a sonoridade do Joy Division com seu métodos meticulosos de produção; e Peter Saville, enquanto designer da gravadora Factory Records, por criar as capas enigmáticas e cheias de simbolismo dos álbuns e singles; Cummins, teve papel preponderante na criação da imagem pública da banda, sempre apresentada em imagens em preto e branco, geralmente em locais abertos da cidade, e com semblante sério, especialmente o vocalista Ian Curtis: “Eu queria… criar uma imagem para eles que as pessoas os olhassem e pensassem que talvez fossem muito mais cerebrais do que eram e os tornassem um pouco inatingíveis”.

São de sua autoria algumas das fotos inesquecíveis do quarteto Pós-Punk: a clássica foto da banda em meio à paisagem repleta de neve, tirada na ponte Epping Walk sobre a Princess Parkway, em Hulme, Manchester, no inverno de 1979 (FOTO ABAIXO) – que seria usada anos mais tarde usada como capa da coletânea The Best of Joy Division (2008) -, e a foto de Ian Curtis sentado segurando um cigarro com o olhar perdido, são dois pequenos exemplos de como as “lentes” do fotógrafo criaram a imagem pública do grupo. Sobre a primeira, considerada a foto mais conhecida da banda feita por Cummins, o fotógrafo afirmou gostar da inocência capturada pela imagem e da maneira como o quarteto não está se passando por uma banda: “Não é uma foto de banda, é uma foto arquitetônica de Manchester naquela época. É uma imagem que não apenas define a banda, mas define aquela época. Diz muito sobre Manchester e é interessante colocar tanta informação numa imagem com tão pouca informação”.

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Joy Division na ponte Epping-Walk / Foto de Kevin Cummins

Torcedor do Manchester City e também responsável por ter contribuído com a cena Britpop dos anos 90, Kevin Cummins, ao longo dos anos, se tornaria um dos fotógrafos de Rock mais conceituados do Reino Unido, contribuindo para publicações como The Times, The Guardian, The Face e Vogue, e expandido seu trabalho também por outras áreas.

Cummins foi o fotógrafo que esteve mais perto do Joy Division, o que lhe permitiu fazer fotos da banda também em seu local de ensaio e em momentos bastante particulares. Em uma entrevista ao The Quietus, Cummins revelou que há poucas fotos de Ian Curtis sorrindo, porque encorajou intencionalmente o vocalista a não sorrir para as fotos: “pare de sorrir, pare de brincar, só me restam cinco fotos”, ele gritava para o vocalista. Ao The Observer, ele afirmou que Ian Curtis, Bernard Sumner, Peter Hook e Stephen Morris eram rapazes típicos, e que raramente tirou fotos deles brincando: “não era assim que eu queria que eles fossem vistos”.

Ao retratar a banda a partir do seu próprio olhar, Cummins conseguiu associar a imagem sisuda da banda em suas fotografias ao conteúdo amargurado das letras de Ian Curtis, que casava com perfeição com a sonoridade limpa, densa e claustrofóbica, construída em estúdio por Hannet. Dessa forma, Cummins ajudou a construir toda a aura de melancolia que acompanharia o nome do grupo, amplificada pelo fim trágico de Ian Curtis em 1980.

Voltando à foto na ponte, o fotógrafo comentou em uma entrevista: “Tive que fotografá-los em preto e branco porque a imprensa musical só publicava em preto e branco, ninguém publicava em cores”, explicou Cummins. “Consequentemente, tudo daquele período é preto e branco. O que aconteceu ao longo dos anos é que define a maneira como você pensa sobre a banda”. “De certa forma, tivemos sorte”, continuou ele. “O frio e a neve ajudaram muito porque metade da sessão eu fiz em ambientes fechados, mas metade fizemos na neve, o que deu uma qualidade mais gráfica e nítida do que teríamos se fosse apenas um típico dia cinza chuvoso de Manchester”.

+++ Leia a crítica de ‘Unknon Pleasures’, do Joy Division

Em 2002, Cummins foi abordado por uma jovem após dar uma palestra em Manchester. Era Natalie Curtis – filha de Ian Curtis, e ela queria fazer uma pergunta simples: Cummins tinha alguma foto de seu pai sorrindo?

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