‘Full Circle’ lida com a morte de Jason Thirsk, e foi redentor para o Pennywise


Pennywise-Band

Surgida em 1988, em Hermosa Beach (CA), Pennywise, a banda formada por Jim Lindberg (vocal), Fletcher Dragge (guitarra), Byron McMackin (bateria) e Jason Thirsk (baixo) se tornou em pouco tempo uma das mais influentes da retomada do Hardcore nos anos 90, muito em virtude de sua postura íntegra, positividade nas letras, ácidas criticas político-sociais, e por se manter independente.

Os fãs mais ardorosos da banda sempre apontam um dos três primeiros álbuns como os principais. Eu mesmo elenco Unknown Road (1993) como pedra fundamental na discografia da banda. Mas Full Circle, quarto álbum da banda, de 1997, é diferente.

À esse ponto, a banda já tinha passado por separações (Jim deixou a banda logo após o lançamento do primeiro álbum, retornando pouco depois), casamentos, paternidade, sucesso, fama, vislumbre e conflitos pessoais. Tragicamente, um desses conflitos, a luta contra o alcoolismo de Jason Thirsk, fez com que o músico encerrasse sua vida em 1996, durante o preparo de Full Circle.

O roadie e amigo, Randy Bradbury, assumiu o baixo. A convocação do músico acabou sendo natural, já que havia tocado com a banda no hiato de Lindberg. Estar entre família contribuiu para que a banda compusesse o álbum mais maduro de sua, então, curta carreira.

Fletcher talvez tenha reservado seus melhores riffs para o álbum. E Byron brilha, tocando na velocidade da luz, com dinâmica e brilhantismo. Bradbury assume com muita postura e força o espaço de Jason.

Para muitos, o Hardcore segue uma fórmula: riffs ‘metaleiros’, sessão rítmica ultrarrápida e melódica, e letras que transitam do positivismo às sarcásticas críticas sociais e métricas vocais velozes. O Pennywise parecia querer entregar seu álbum mais sólido, pungente, enérgico e, por que não, mordaz, da carreira.

A abertura, “Fight Till You Die”, faz críticas à sociedade, que despreza os menos favorecidos. O refrão, que entoa que devemos “lutar até morrer”, aponta para o tema central do álbum: a morte. “A Date With Destiny” explicita o tema central do álbum: o destino implacável a que estamos fadados. A banda parece cercar o tema, talvez na intenção de curar as feridas deixadas por Thirsk ao tragicamente adiantar seu destino – ao deixar de lutar a tal luta.

O Pennywise sempre ergueu os punhos e convocou seus seguidores a LUTAR. Luta que pode ser contra o governo, o ‘sistema’, a polícia, o moralismo, contra o que queira lutar.

“Final Day” é comovente. Sim, é uma porrada, com ‘pausas rítmicas’, refrão pra cantar junto. Mas comove pela sinceridade com que a letra aborda o sofrimento de quem está perdendo a luta da vida. A mesma comoção acontece em “Broken”, que aborda, à maneira Lindberg, o positivismo para enfrentar esses sofrimentos que nos derrubam: cabeça em pé, esforço e força. Broken é a minha favorita do álbum, muito por conta da performance de Bradbury e pela surpreendente sessão rítmica proposta por Byron.

“You’ll Never Make It” é ainda mais contundente na mensagem central do álbum, e parece ser uma mensagem póstuma e bastante crua, mas direta e apenas para Jason Thirsk.

Claro, não seria um álbum do Pennywise sem as mensagens políticas, e as excelentes “Running Out Of Time”, “Nowhere Fast” e “Society” só comprovam essa teoria, mas, desta vez, o tema central é mesmo esse drible na morte. Ou, esse drible na vontade de se encontrar com ela.

+++ Leia na coluna ‘Prazeres Plásticos’ sobre ‘Live at CBGB’, do Agnostic Front

O álbum encerra com a regravação de “Bro Hymn”, canção positivista icônica do primeiro álbum da banda, mas que ganhou leve alteração na letra para homenagear Jason, bem como um coro, que em estúdio contou com a voz do irmão de Jason, Justin Thirsk. “Bro Hymn”, em sua versão original, é uma das poucas letras não escritas inteiramente por Lindberg, pois Thirsk havia escrito para três amigos que haviam morrido. A canção, como diz o título, virou, de fato, um hino. E, sendo acelerada, virou também uma celebração. Celebração à vida.

Pennywise-Full CircleFICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 1997
GRAVADORA: Epitaph Records
FAIXAS: 14
DURAÇÃO: 60:36
PRODUTOR: Pennywise, Eddie Ashworth
DESTAQUES: “Fight Til You Die”, “Date With Destiny”, “You’ll Never Make It”, “Bro Hymn Tribute”
PARA FÃS DE: Hardcore, NOFX, Agnostic Front

 

 

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