‘Ghosted: Sem Resposta’ é uma aula de como não se fazer uma comédia romântica

As comédias românticas eram febre entre a década de 2000 e começo de 2010. Elas estavam nos cinemas, eram sucesso nas tardes – e noites – da TV aberta e até em locadoras. Com o tempo, os mais diversos romances foram desaparecendo, principalmente do cinema, mas não chegaram a deixar de serem produzidos, graças às plataformas de streaming, com ênfase a Netflix, que deu continuidade a projetos baratos e que sempre ofereceram um bom retorno. Entretanto, a coragem para se voltar a investir no gênero aparenta retomar, e o “passo a mais” das comédias românticas no streaming não foi abrigado pela vermelhinha e sim pela Apple TV, que recebe Ghosted: Sem Resposta e seu surpreendente orçamento.

É uma lástima que todo projeto caro não garanta a qualidade, e o filme termina por ser aquela obra onde há um efeito oposto ao desejado quando se aplica muito dinheiro, a começar pelo par de atores principais que, já de inicio, mata qualquer possibilidade do filme se sustentar a partir da química, caso todo o resto fosse um desastre, o que seria revelado não muito tempo depois.

É compreensível que juntar nomes conhecidos (e caros) para um projeto amplie o interesse popular por ele, porém Chris Evans e Ana de Armas é o casal mais deprimente e apático que eu vi desde Águas Profundas (2022), quando Ana contracenou com seu ex-namorado, Ben Affleck. Parece que durante a seleção do filme não foram testados juntos, e o material de teste deu-se por projetos anteriores: Entre Facas e Segredos (2019), onde a química é inexistente, e Agente Oculto (2022), produção que compartilham tela por pouquíssimos segundos.

Nascendo basicamente morto, ao falhar no principal elemento de uma boa comédia romântica, cabe assistir a confusão que Cole (Chris Evans) arrumará quando vai para Londres fazer uma surpresa a Sadie (Ana de Armas) e, por lá, descobre que ela é uma agente secreta dos Estados Unidos. Se no quesito romance a situação do filme já não estava boa, na ação consegue ficar ainda pior quando entram em campo as situações criadas pelo roteiro, principalmente o péssimo CGI e a horrível condução das performances.

Com CGI pior que os apresentados nos últimos projetos da Marvel, as cenas de combate e tiroteios se tornam ainda mais desestimulantes quando, além de não se esforçarem para disfarçar o telão verde, também não demonstram interesse em fazer um trabalho mais competente quanto a esconder a dublê de Ana de Armas em cenas até de cambalhota, o que é ainda mais inexplicável pois a cubana é “A list” quando se trata de performances de combate.

Como se o longa estivesse com saldo positivo, Rhett Reese e Paul Wernick ainda tiveram a brilhante ideia de criar uma sequência com diversas participações especiais de colegas da Marvel. Pensado para ser, supostamente, uma grande piada, o efeito – assim como tudo na produção – foi o oposto, garantindo mais um momento vergonha alheia de uma produção vergonhosa.

+++ Leia a crítica de ‘Não Se Preocupe Querida’, de Olivia Wilde

Ghosted: Sem Resposta é uma comédia romântica que não tem comédia e nem tem romance. E eu certamente daria um ghosting nessa produção após assisti-la, caso ela não fosse uma forte concorrente para minha lista de piores filmes de 2023.