“Terror livremente inspirado em HQ prova que nem sempre uma boa ideia rende um bom filme”
E se o Superman fosse na verdade um psicopata assassino?
Partindo desse inquietante exercício imaginativo, o filme Brightburn destila a paixão dos seus criadores por duas vertentes: o terror gore e as histórias em quadrinhos.
Produzido por James Gunn, diretor contratado pela MARVEL para capitanear os sucessos Guardiões da Galáxia e Guardiões da Galáxia Vol.2 e escrito por Mark Gunn e Brian Gunn (irmãos do James), este filme é um projeto menor, familiar e autoindulgente que só saiu do papel devido à grande influência e fama repentina de seu produtor.
Para dirigir o longa, a família Gunn chamou o inexpressivo David Yarovesky, que dirigiu o fraco A Colmeia em 2014. Yarovesky até que se esforça e consegue disfarçar o baixíssimo orçamento do filme utilizando algumas soluções bem criativas, como o uso de planos extremamente fechados ou extremamente abertos para sugerir, por exemplo,que o personagem esteja flutuando ou para imprimir um certo realismo a algumas cenas que claramente necessitariam de um maior investimento, principalmente em efeitos especiais, o que acaba dando ao filme uma áurea “trash” e amadora.
Na história, acompanhamos um casal de fazendeiros com dificuldades para engravidar, que são surpreendidos por uma explosão provocada por algo que caiu em seu celeiro. Em seguida, vemos imagens de vídeos caseiros de uma criança sendo criada por eles com todo amor e carinho. Para quem acompanha quadrinhos e sabe o mínimo sobre a história do Superman, fica fácil fazer a relação entre a história do “homem de aço” e o que está sendo sugerido aqui.
O problema é que quando o garoto entra na adolescência e começa a descobrir seus poderes, todos iguais ao do Superman, passa também a demonstrar claros sinais de psicopatia grave. Ao ser contrariado por colegas de escola, parentes ou qualquer pessoa que o desagrade, o garoto reage violentamente, causando desespero e terror na pacata cidadezinha em que vive.
Pena que a premissa, que por si só já garante o interesse inicial do público, não é bem desenvolvida. A história, que poderia seguir por vários caminhos e render ótimas situações, simplesmente não vai a lugar algum.
O protagonista é vivido de maneira vergonhosa pelo ator Jackson A. Dunn, que fez ponta em Vingadores Ultimato como o jovem Scott Lang (o Homem-Formiga) e apesar dos esforços da ótima atriz Elizabeth Banks, de Jogos Vorazes, fazendo o papel da mãe do “filho das trevas”, ela não consegue segurar o filme sozinha.
Violento demais para ser um típico filme de anti-herói e cartunesco demais para ser considerado um terror, o filme opta por permanecer numa área cinzenta entre o fantástico e o repugnante, sem saber ao certo com qual tipo de audiência quer dialogar. Só resta mesmo enveredar pela sanguinolência gore ao exibir mortes que, apesar de graficamente impressionantes e bem realizadas, são tão exageradas que acabam não chocando ninguém e parecem servir apenas para satisfazer o ego de seus realizadores.
Brightburn é inconclusivo, sugerindo que deve haver uma continuação, não provoca medo e não diverte, portanto falha como filme de terror e como entretenimento inspirado em quadrinhos. Seus noventa minutos parecem durar muito mais e apesar da premissa “inovadora” o resultado é totalmente genérico e esquecível.
NOTA: 3,5
NOTA DOS REDATORES:
EDUARDO SALVALAIO: –
ISAAC LIMA: –
LUCIANO FERREIRA: –
MÉDIA: 3,5
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:: FICHA TÉCNICA:
Gênero: Horror, Sci-Fi
Duração: 1h30min
Direção: David Yarovesky
Roteiro: Brian Gunn, Mark Gunn
Elenco: Elizabeth Banks, David Denman, Jackson A. Dunn, Abraham Clinkscales, Christian Finlayson e outros
Data de Lançamento: 23 de maio de 2019 (Brasil)
Censura: 16 anos
IMDB: Brightburn
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