Adam Granduciel fala sobre Brasil, Kurt Vile, Bob Dylan, shows pós-Covid e o futuro disco do The War On Drugs


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Com dois shows no C6 Fest, o primeiro no Rio (20/05) e o segundo em São Paulo (21/05), a banda The War On Drugs finalmente fez sua estreia no Brasil. Fundado em 2005 por Adam Granduciel, o projeto teve como primeiro sucesso global o álbum Lost in the Dream (2014), que entrou nas principais listas de discos do ano na época.

Desde então, a banda lançou A Deeper Understanding (2017) e, em 2021, colocou no mundo I Don’t Live Here Anymore, disco que ainda vem rendendo shows pelo mundo.

Depois da vinda ao Brasil — único país sul-americano visitado pela banda na turnê, o que trouxe fãs de outros países, especialmente da Argentina, para assisti-los no festival brasileiro —, o grupo tem shows programados para a Europa, na temporada de festivais locais, até setembro. Em dezembro, a banda viaja para a Austrália e a Nova Zelândia, para algumas apresentações com o Spoon.

A reportagem do Urge! teve acesso à parte da passagem de som do The War On Drugs na tarde do último domingo (21/05), quando fechou a noite na Tenda Heineken do C6 Fest. O guitarrista e vocalista Adam Granduciel também respondeu a algumas perguntas no camarim improvisado da banda no Parque do Ibirapuera.

Confira o papo a seguir, no qual Adam fala sobre a retomada dos shows após um período de folga no começo de 2023, a relação com o ex-membro da banda, Kurt Vile, seu processo de composição e como se comportaria se o ídolo Bob Dylan o convidasse para uma parceria, entre outros assuntos.


Eu não gostaria de fazer nenhum projeto com Bob Dylan… [risos] Sem querer ofender. Eu ficaria apenas num canto observando, vendo o que ele tem na mochila ou fuçando o telefone dele — se é que ele tem um.

Então, Adam, como o Brasil tem tratado vocês? Gostaram dos shows no Rio?
R: Está tudo ótimo, tudo lindo. Tocamos bem, o público era ótimo. Foi uma noite incrível. Memorável.

Vocês não fizeram muitos shows em 2023. Como é essa retomada após alguns meses parados? Precisam ensaiar muito ou tudo entra nos eixos rapidamente?
R: Fizemos um show na Cidade do México em 4 de maio. Então, ensaiamos no dia anterior lá mesmo. E foi só isso. Não tocávamos desde dezembro. Mas tudo volta muito rápido, memória muscular e tal. E esses shows às vezes são os melhores, porque você sabe tocar a música, mas há momentos em que precisa lembrar de algo enquanto está tocando — principalmente nos solos e tal. Porque você está tão acostumado a tocar sempre do mesmo jeito que acaba não chegando a lugares diferentes. Então, quando ficamos um tempo sem tocar, é interessante.

Tem sido muito diferente tocar ao vivo após todo o lance da Covid? Vocês apreciam mais os shows agora que sabem como é não poder se apresentar para o público?
R: Saímos em turnê em janeiro de 2022, e o primeiro semestre do ano passado ainda foi muito difícil por causa da Covid e tal. Agora estamos aqui, tocando ao ar livre, viajando com tranquilidade. Ano passado foi difícil para viajar tanto quanto estávamos viajando. Tinha tantas variáveis. Por exemplo, se você estava na Europa e pegava Covid, não poderíamos voltar aos Estados Unidos. Todo mundo estava com medo de pegar e ter que ficar na Europa por três semanas. Tinha tantas coisas pra gente se estressar que estavam totalmente fora do nosso controle. Então, com certeza valorizamos mais. Estamos animados por vir ao Brasil. Dois voos e pronto, estamos aqui tocando.

Lá no começo da banda, o Kurt Vile foi um integrante do The War On Drugs. Queria saber se vocês ainda se dão bem e se há chance de fazerem algum projeto juntos novamente algum dia?
R: Hmm, não sei. Não sei se a gente vai… Quer dizer, a gente não tem se falado da mesma forma como fazíamos no passado, sabe? Passamos sete, oito anos fazendo música juntos em diversos projetos [Nota: Adam também integrou a banda de Vile, The Violators]. É um laço que vai nos unir pra sempre.

Gosto de perguntar para os artistas se há alguém com quem eles gostariam de fazer algum projeto juntos um dia. Você tem algum nome com quem gostaria de colaborar? Mas não vale o Bob Dylan.
Eu não gostaria de fazer nenhum projeto com Bob Dylan… [risos] Sem querer ofender. Eu ficaria apenas num canto observando, vendo o que ele tem na mochila ou fuçando o telefone dele — se é que ele tem um. Mas não sei, há vários artistas que respeito, mas nunca penso sobre alguém com quem gostaria de compor. Pode ser que eu faça uma música para a Molly [Rankin], do Alvvays.

Estou pensando em fazer um disco mais caseiro da próxima vez. Mas os planos são ver o que me mantém animado a respeito da música, que é o mais importante.

E como é seu método de composição? Você é conhecido por ser muito meticuloso com arranjos e com seu trabalho no estúdio. Consegue escrever enquanto está em turnê ou precisa estar em casa ou no próprio estúdio para compor?
R: Não, eu consigo escrever algumas ideias na estrada. Às vezes tem um piano no backstage, você toca por cinco minutos… Mesmo estando em casa, nem sempre tudo que você toca é legal. Então, às vezes, quando estou na estrada, tenho um violão e sai algo interessante. Sempre que tem um instrumento à disposição, fico à procura daquela sequência de acordes que chega a algum lugar especial. Estou sempre pescando ideias.

E você grava essas ideias ou consegue mantê-las apenas na cabeça?
R: Sempre gravo no meu telefone. Você sempre acha que vai lembrar, mas nunca lembra, então é preciso registrar. Daí levo pra casa e ouço novamente, vejo o que dá pra aproveitar e o que não será usado.

Vi que vocês têm shows agendados até setembro [as datas com o Spoon na Oceania, em dezembro, foram anunciadas horas depois da entrevista]. Quais os planos da banda depois disso? Já estão pensando em um disco novo?
R: Já comecei a trabalhar em algumas coisas. Estou pensando em fazer um disco mais caseiro da próxima vez. Mas os planos são ver o que me mantém animado a respeito da música, que é o mais importante. Viver minha vida, encontrar uma razão para continuar fazendo o que faço. E aí, em algum momento, voltaremos pra cá, tenho certeza.

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