Domingo no parque: Seis shows do C6 Fest no Ibirapuera


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C6 Fest | Black Country, New Road

O C6 Fest foi anunciado em fevereiro como “herdeiro” do Free Jazz e do Tim Festival, eventos exemplares na união entre música inovadora e nomes consagrados de todo o mundo.

Alguns chiaram pelo festival estar ligado a uma marca de banco, outros reclamaram dos preços dos ingressos… Mas aqui vamos focar na música ouvida durante um domingo no Parque do Ibirapuera, onde a versão paulista do evento ocorreu entre os dias 19 e 21 de maio — os cariocas tiveram sua edição no Vivo Rio, entre os dias 18 e 20/05.

A seguir, um relato do que a reportagem do Urge! acompanhou durante o último dia da Edição Paulista do Festival. Faltaram vários shows por colisão de horários, incluindo Tim Bernardes canta Gal Gosta, Caetano Veloso, Samara Joy, entre outros.


O ANO DE 1973: KIKO DINUCCI E JUÇARA MARÇAL COM ARNALDO ANTUNES, GIOVANI CIDREIRA, JADSA, LINN DA QUEBRADA E TULIPA RUIZ

Homenagens a canções cinquentenárias têm resultados variados

O terceiro dia do C6 começou às 16h, no palco externo, com o show intitulado “O Ano de 1973: Kiko Dinucci e Juçara Marçal com Arnaldo Antunes, Giovani Cidreira, Jadsa, Linn da Quebrada e Tulipa Ruiz”. Ainda que tenha reunido dois dos nomes mais celebrados da música brasileira nos últimos anos — Dinucci e Marçal — não dá para dizer categoricamente que a apresentação deslanchou.

A ideia, conceitualmente, era boa: apresentar releituras de clássicos da música brasileira que completam 50 anos em 2023, com Kiko e Juçara servindo como anfitriões para seus convidados. Na prática, sabe-se que nem sempre isso funciona tão bem assim.

Entre os destaques, Linn da Quebrada mostrando sua versão de “Abundantemente Morte”, de Luiz Melodia, e Arnaldo Antunes tentando fazer as vezes de Tim Maia em “O Balanço”. Mas o melhor ficou mesmo para o final: a homenagem a Rita Lee, com todos os convidados sobre o palco, mandando boas vibrações para a rainha do rock com “Mamãe Natureza”.

BLACK COUNTRY, NEW ROAD

Talento com pinta de conservatório de música

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Para quem não conhece, o Black Country, New Road é uma banda de jovens talentos britânicos, na faixa dos vinte e poucos anos, com dois álbuns na bagagem: os interessantes For the First Time (2021) e “Ants From Up There” (2022), ambos lançados com o guitarrista e vocalista Isaac Wood ainda na formação. Após a saída de Wood do grupo no ano passado, o agora sexteto lançou o disco ao vivo “Live at Bush Hall” (2023), que serviu de base para os shows apresentados no C6 Fest, tanto no Rio quanto em São Paulo.

Curiosamente, o repertório do álbum ao vivo não serve como um “best of” dos discos de estúdio, e na verdade traz novas canções. Além disso, com a saída de Wood, todos os integrantes foram transformados em vocalistas de meio-período em diferentes faixas (e, consequentemente, em diferentes momentos do show). Não há como negar o talento dos músicos, seja no domínio de seus instrumentos (violão, guitarra, baixo, bateria, violino, teclado…), seja na hora de mostrar que a aula de canto deu resultado.

Em um show bonito, o BCNR garantiu a alegria do público que foi até o Parque Ibirapuera num fim de tarde de domingo só para assisti-los. Embora soe em muitos momentos como uma banda de conservatório de música e alguns possam se queixar da falta de alguma sujeira — ou do excesso de bom mocismo da apresentação —, a verdade é que ninguém pareceu muito decepcionado ao final dos cerca de 50 minutos de show. Ainda que um tanto inofensivo, o som do Black Country, New Road tem seu público — e, esperamos, muito ainda a crescer nos próximos anos.

WEYES BLOOD

Simpatia, boa voz e canções para a vida toda

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Weyes Blood subiu ao palco da Tenda Heineken do C6 Fest precisamente às 19h10 com o jogo ganho — e esbanjou competência e carisma para carregar consigo o público (ou torcida) que estava ao seu lado sem deixar que uma virada no placar ocorresse. Do início ao fim da apresentação, uma hora depois, Blood manteve os fãs hipnotizados, na palma da mão.

Entre os destaques, hits como “Grapevine” e “Everyday” foram cantados de cabo a rabo pelos jovens fãs da cantora. Fazendo um estilo Laurel Canyon dos anos 70 — cabelo comprido, figurino riponga, excelente voz e violão em punho — Weyes Blood parece querer evitar modismos descartáveis e, em vez disso, construir uma carreira a partir de canções com as quais poderá contar daqui a 30 ou 40 anos. Se vai conseguir, são outros quinhentos…

Desinibida, a cantora conversou com o público, falou de astrologia, insinuou que queria ver a galera fazendo mosh e conquistou ainda mais os fãs — e até uma parte dos rockers que já ansiavam pela chegada de Adam Granduciel e seus comparsas ao palco. Um acerto da escalação do festival e uma bela aposta para o futuro, Weyes Blood mal foi embora e já deixa saudades.

THE WAR ON DRUGS

Som datado e bem feito colocou quarentões pra poguear

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Uma das mais esperadas da noite, a banda americana The War on Drugs cumpriu seu papel com louvor ao longo de 1 hora e 15 minutos de som. Com arranjos cada vez mais sobrecarregados de instrumentos e efeitos, o grupo vem crescendo — a banda escalada a dedo pelo líder Adam Granduciel para executar suas composições já chega a um total de sete músicos no palco desde o início da turnê de I Don’t Live Here Anymore, disco lançado em 2021.

Da abertura, com a bela “Pain”, ao final ensandecido, com a épica “Under the Pressure”, Granduciel passeou pelos três últimos álbuns do grupo, ignorando os primeiros lançamentos. O público, encantado pela presença da banda pela primeira vez no Brasil, vibrava a cada nota dos principais hits do grupo — com destaque para a springsteeana “Red Eyes”, a oitentista “I Don’t Wanna Wait” e a contemplativa “Strangest Thing”.

Originário da Filadélfia, o The War on Drugs faz um som que poderia ser a trilha sonora de filmes de outro personagem nascido na cidade: Rocky Balboa. Com aquele som de bateria datado, a tecladeira onipresente, saxofone e toda uma estética fortemente inspirada na fase oitentista de Bruce Springsteen e Tom Petty, o grupo parece um elo perdido em 2023 — justamente o que o fã de Rock das antigas insiste em buscar na música atual, mas que simplesmente não encontra.

É um negócio meio ultrapassado? E daí? A roda de pogo formada por quarentões felizes da vida na frente do palco não deixa esse escriba mentir: enquanto os joelhos dessa galera resistirem, o The War on Drugs terá seu lugar garantido nos festivais de Rock mundo afora.

DOMi & JD BECK

Dupla de prodígios que vem renovando o Jazz

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Com pinta de youtubers, a dupla formada pela organista francesa DOMi, de 23 anos, e o baterista americano JD BECK, de 20, faz bonito quando o assunto é… Jazz. Se o disco “NOT TiGHT”, de 2022, não chega a emocionar, a história é diferente quando a duplinha sobe ao palco.

Eles encantaram o público remanescente do Auditório Ibirapuera após o show da vencedora do Grammy, Samara Joy, dando mais vida e dinâmica para as faixas de “NOT TiGHT”. Diferentemente do estúdio, o clima descontraído de DOMi e JD BECK no palco torna tudo mais leve e descompromissado. Mas isso não significa desleixo na execução das músicas, muito pelo contrário.

A velocidade e precisão de DOMi nas teclas é impressionante, e o domínio de diferentes técnicas de bateria por JD, com tão pouca idade, é de deixar os ouvintes com o queixo caído. E eles ainda cantaram algumas músicas — ainda que um tanto contrariados.

Para esquentar um pouco mais o repertório do show, a dupla adicionou faixas de nomes como Wayne Shorter (“Endangered Species”), Weather Report (“Havona”) e Mac DeMarco (uma versão instrumental para “TWO SHRiMPS”, parceria com o cantor que integra o álbum de estreia do duo).

Além de um grande show, DOMi & JD BECK deixam a gente com a curiosidade de ver o que eles estarão fazendo daqui a cinco anos… Esperamos que voltem pra mostrar aqui no Brasil.

THE COMET IS COMING

Show histórico para poucos

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O cometa veio, mas será que alguém conseguiu anotar a placa? A apresentação do The Comet is Coming começou à meia-noite da segunda-feira e dificilmente ficará fora do pódio das melhores do festival. Com um show completamente acachapante para pouquíssimos felizardos (talvez umas três centenas de pessoas), o trio britânico formado por Shabaka Hutchings (saxofone), Danalogue (sintetizadores) e Max “Betamax” Hallett (bateria) colocou abaixo o sisudo Auditório Ibirapuera e transformou um ambiente destinado à música sofisticada em uma verdadeira rave.

O público não topou ficar sentadinho, apenas ouvindo o trio botar pra quebrar, e se aproximou do palco para dançar e fazer valer o suado preço do ingresso. Não era pra menos: a banda, turbinada, transformou o que já era bom em disco em um show arrebatador. Como se fossem um verdadeiro cometa, invadiram a órbita terrestre, caíram na capital paulista e provocaram um turbilhão de som provavelmente ainda inédito nesta primeira edição do C6 Fest.

A apresentação já é considerada histórica — e não deve se repetir em terras brasileiras tão cedo. No começo de maio, o grupo anunciou uma pausa na carreira, para que os integrantes se dediquem a outros projetos. Antes, o The Comet is Coming tocará em festivais no verão europeu. Se tiver a chance de vê-los nos próximos meses… Bem… Não diga que não foi avisado. Cometas não costumam passar novamente tão cedo.

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