QUEM SOMOS


Do Chute no Olho ao site Urge!, vinte e cinco anos de palavras queimando por dentro

Editor: Luciano Ferreira
Redatores e Colunistas: Luciano Ferreira, Daniel Rezende, Eduardo Juliano, Sthefaniy Henriques, Apolo Andrade, Rodrigo Melão, Bruno Lisboa, Leonardo Lima, Leonardo Tissot e Gabriel Farina.
Ex-Colunistas: Marta Figueiredo (Vi e Recomendo, aos domingos), Pedro Damian (Shoegazer Alive)
Ex-Redatores: Ângelo Fernandes, Eduardo Salvalaio, Isaac Martins, Leinne Portugal e Marcello Almeida
Quadrinista: Ângelo Fernandes
Colaborador: Bruno Aziz: Charges


Chute no Olho

Em 1992, sentindo a necessidade de expressar minhas ideias resolvi criar o zine “Chute no Olho”. Naquela época já escrevia poesias e alguns contos. O zine seria um veículo para colocar no papel essas e outras ideias que gritavam cá dentro para que fossem impressas. Embora fosse um zine, não sei porque calhei de chamar de “Informativo Cultural”. Segue a introdução: “Chute no Olho é um informativo Cultural que tem como objetivo, como o próprio nome já diz, dar um chute no olho desse marasmo suicidante desta cidade. Dar um chute no olho de pessoas que não tem pensamentos próprios. Dar um chute no olho da desinformação e da burrice, tão comum a essa geração. E, por fim, dar um chute no olho/cérebros cobertos de teias de aranha”.

Era setembro de 1992 quando esse primeiro número foi lançado. Com distribuição gratuita, o mesmo consistia de apenas uma página de papel A4, com colagens de textos e fotos tanto para ilustração como plano de fundo. Além de textos críticos e poesias, o “Chute” trazia dicas de discos, filmes e livros. Os textos eram datilografados numa máquina Olivetti de minha irmã, e as imagens eram retiradas de jornais e revistas.

Chute no Olho #1

Para participarem da empreitada, convidei os amigos Ângelo Fernandes e Alex Costa, que contribuíram com textos e poesias.

O “Chute no Olho” buscava fazer uma crítica a sociedade capitalista/consumista baseada no “ter” e sem se preocupar com o “ser”. Uma crítica ao “ser” que está sempre a nadar seguindo a maré, caindo sempre no senso comum.

Continuamos “chutando”, e o zine foi evoluindo e agregando colaboradores: Alessandro, Solange. Ao mesmo tempo, o retorno que tínhamos era sempre positivo e incentivador. Parecia que nossa loucura encontrava outros loucos.

Para que não fique muito extenso, vou destacar em cada número alguns textos. No número 2, lançado em outubro de 1992 (mês de meu aniversário), destaco a resenha contundente de Alex: “Geração Shopping Center”, uma crítica à sociedade de consumo. O número 3, já duas folhas de papel A4, logo com mais espaço para textos, foi lançado em dezembro de 1992. Nesse número destaco a participação do desenhista Fábio Lopes, com o personagem “Blargh, o radical”, uma tentativa de diversificar o zine. No mais, textos críticos, poesias e o de sempre.

Após um período de turbulências, o número 4 só veio a sair em agosto de 93. Ainda confeccionado graficamente da mesma forma, nesse temos a participação de Alessandro, que também tocou bateria numa banda que formei com Ângelo, a Bone Machine. Destaque para o texto de minha autoria “Pensamento em Bloco”, sobre a padronização e uniformização dos pensamentos das pessoas – sobre a perda da individualidade.

O número 5 não tem data de publicação, trazia na capa a foto do “Closer” (Joy Division). Entre seus textos destaco “Viva a Hipocrisia”, “Consciência Crítica” e “Feira de Santana e Suas Maquetes” (Alex), “Pesadelo Interior” (Luciano) e “Conformismo, caminho para o abismo” (Ângelo).

Aqui uma dúvida, duas edições com o número 6, uma lançada em outubro de 1994 e a outra em maio de 1995. Cronologicamente, a primeira publicação é o número 6 e a outra o número 7. O espaço entre as datas demonstram que a proposta de mensalidade da publicação já tinha ido pro espaço. Nessas edição, assim como a anterior, três folhas de A4, frente e verso, e muito mais textos, poesias, resenhas e contos. Destaque para a participação da amiga Solange e para os textos “Estudantes bundas moles” (Alex), “Síndrome do ano 2000” (Alex) e “MCC” (Ângelo). O derradeiro “Chute” foi lançado em maio de 1995 e tinha como fundo várias imagens da revista em quadrinhos de Sandman. Destaque par o texto “Repensando Deus” (Ângelo).


Pandemonium #1

Pandemonium Zine

Alguns anos depois, um novo comichão levaria à criação de um outro zine, o Pandemonium, que teve apenas quatro edições. Com uma diagramação melhor, já que era todo feito em computador, e com textos melhor acabados, o Pandemonium parecia anos luz à frente do “Chute no Olho” em todos os sentidos. Nossa carta de intenções pode ser resumida no parágrafo final da abertura: “Pretendemos expressar nossas ideias, soltar nossa imaginação, e o que advir disso será fruto da cabeça de cada um”.

Tínhamos muito mais recursos e nossos textos estavam bem melhores. O ponto negativo é que o mesmo não possui data de publicação, culpa do diagramador, que passou a ser Alex. Embora dê pra ter como certo que foi em 98, pois em junho daquele ano o jornalista Hagamenon Brito, em sua seção Pop Takez, no jornal Correio da Bahia, destacou o Pandemonium com as seguintes palavras: “Prosa, verso e música, o zine feirense Pandemonium chega ao number two fugindo dos clichês adolescentes do gênero, mesmo porque os redatores Alex, Ângelo e Luciano tem idade média de 26 anos. Em pop-music, Pandemonium sente saudades dos anos 80, em especial”. E em setembro do mesmo ano voltaria a comentar: “Pandemonium, zine legal dos feirenses Alex, Z’Ângelo e Luciano, chega à terceira edição e segue mixando cultura pop, poesia e prosa.

Vou destacar alguns textos de cada edição do Pandemonium. No número 666, que seria o primeiro: “Um Novo Deus, Não Tão Novo Assim” (Luciano), um texto sobre o poder do dinheiro; “Visitantes do Espaço” (Alex); “Dona Tecnologia e Dona Angústia de Mãos Dadas Pelo Mundo” e “Hip-hop e Techno: o Que Há de Errado com o Rock?” (Ângelo). No número dois, “Balada do Anjo Caído” (Ângelo), “Liberdade” (Luciano) e “Era Digital” (Alex), além da loucura dos “Quadrinhos Imaginários”, já que nossa experiência com alguém fazendo desenhos não deu certo. Nessa edição também tinha uma promoção que sortearia uma fita VHS de “The Wall” do Pink Floyd. Outra coisa, nessa época o zine era vendido, salvo engano, por R$ 1,00.

A edição número 3 do Pandemonium foi uma das que deu mais trabalho pra ficar pronta. Tínhamos muitas ideias para usar, já que a tecnologia facilitava isso. Trabalhávamos no programa de diagramação Pagemaker, e o uso de fotos já não era problema como antes. Inclusive solicitamos a ajuda dos amigos Francisco Omar e André Cocorese para escanear algumas fotos, não lembro se nessa edição ou nas anteriores. De qualquer forma, o número três é o que tem a diagramação que considero ideal, e os textos estão bem afiados: “O Milagre da Multiplicação” e “A Morte é uma Festa” (Alex), “Os Mortos Podem Dançar”, sobre o Dead Can Dance, e “Panis et Circenses” (Luciano), “Dos sentimentalóides, espertalóides e imbecis (Sou brasileirooo, com muito orgulhooooo!)” e “Ser Pop é Pecado?” (Ângelo).

Costumávamos dizer que o Pandemonium era uma celebração da amizade. Não era apenas um grupo de amigos escrevendo e criticando a sociedade e suas mazelas e hipocrisia, mas três caras que tinham ma amizade intensa e que celebravam essa amizade escrevendo e levando adiante uma publicação, que inclusive era vendida na rua, feita totalmente de forma independente e com recursos próprios, salvo uma edição que teve uma ajuda de custo da loja de discos, a CD House.

A derradeira versão do Pandemonium, ou o número 4, também tinha uma diagramação interessante e textos concisos, além de poesias e dicas de discos. Dentre os textos destaco: “Cabaret Voltaire – Uma Geração Underground” e “Não Pecar é um Pecado” (Ângelo), “CD versus Vinil” (Luciano), e “Escravo pós-moderno” e “Ode ao Rock” (Alex).


Urge Zine

Com o fim do Pandemonium, a amizade se tornando um tanto distante, e num período de sentimento de extrema solidão, em maio de 2000 lancei o zine Urge. Nessa época, havia descoberto que uma nova geração de bandas que estavam fazendo barulho em um bar no final da Av. Getúlio Vargas chamado Mc Rei.

O Urge, conceitualmente, era uma ideia pessoal, pretendia falar mais de cultura pop, deixando de lado os textos de crítica social. Com Iggy Pop ilustrando a capa do primeiro número, com a experiência adquirida em diagramação, lancei o número 1, contando com textos de amigos: Ângelo (sempre comparecendo), Noel e Ângelo Fernandes Neto, primo de Ângelo. A música era o foco, com espaço para quadrinhos e cinema. Algo próximo do que é hoje o site Urge.

Urge #1

Para o primeiro número do Urge, consegui uma entrevista com a banda local Sugarpie, que fazia um HC melódico misturado com Punk-Rock. Há ainda uma resenha sobre o primeiro show do Los Hermanos na cidade, graças ao hit radiofônico “Ana Júlia” e um texto sobre os Stooges. Na abertura falei um pouco sobre a briga que rolava na época entre o Metallica e o Napster.

Em julho de 2000 saía o segundo e último número do Urge Zine, embora até tenha chegado a preparar o terceiro, que acabou inviabilizado. Um detalhe é que o Urge era vendido durante os shows lá no MC Rei.

Se eu achava o Pandemonium 3 como o melhor diagramado, o Urge #2 conseguiu superá-lo em todos os sentidos, inclusive é o zine com maior número de páginas que já havia feito, ou seja, um projeto bem ambicioso. Ficou bonito, até hoje me emociono quando folheio, pois fiz praticamente sozinho, na cara e na coragem. Tem em sua diagramação muita influência de um zine de sampa que recebia pelos Correios, o Scream and Yell impresso. Nesse segundo número, o destaque é a entrevista com a banda Pornô, primeira banda de Wendell, atualmente na Novelta.

 


Blog Urge 

Com o fim dos zines e o advento da internet, resolvi criar (não recordo em que ano) um blog para falar de música. Surgiu assim o Urge, um blog que falava de coisas que gostava e tinha um lado bem pessoal, coisa de blog mesmo. Lá rolava alguns comentários e houve algumas tretas devido a isso. O blog estava hospedado no Blogger, pertencente a Globo, e um belo dia, após postar o link para download do álbum “Boy” , do U2, o blog foi tirado do ar sem qualquer aviso. Perdi todos os meus textos e entrei numa quase depressão após isso.


Lovenomore/Music Non Stop Blog

Levou algum tempo até me recuperar e criar um outro blog, não mais no Blogger, no WordPress. Surgia assim o Lovenomore, em homenagem à banda de Manchester Durutti Column, já que é o titulo de uma música do álbum Vini Reilly. Antes disso, estava escrevendo em outros sites como o Outernative (finado) e o Muzplay (que ainda mantém meus textos lá).

O Lovenomore entrou no ar em novembro de 2008, com reedição de textos meus do Muzplay. Inicialmente só quem escrevia no blog era eu. Em maio de 2009, Eduardo Salvalaio, que também participou do Outernative e Muzplay, depois de um convite meu, começou a escrever para o blog também. Por sinal, é o cara que manteve o blog vivo em diversas ocasiões em que por um motivo ou outro me afastei.

Em abril de 2009, Ângelo, amigo de longa data e que sempre esteve colado em todos os projetos de escrita em que estive envolvido, incluindo aí o “Clube do Conto” (essa é uma outra história, assim como as bandas que fizemos), também começou a colaborar com o blog.

Em fevereiro de 2016, o blog ganhou mais um colaborador, Isaac Lima (Zach), um amigo que conheci nos idos de 2000, na época de noites perdidas do antigo/dinossauro MIRC.


Urge!

Então, após nove anos funcionando como blog, o que já não me dava mais muito ânimo – a maioria dos blogs que surgiram na mesma época que o meu já não existiam -, resolvi que era chegada a hora de dar o passo que já deveria ter sido dado alguns anos antes, transformar o blog em um site.

Nesse novo formato, na minha cabeça, uma série de projetos que imaginei possíveis a partir do momento que o blog virou site, nem todas se concretizaram. A cobertura do Festival local Feira Noise foi uma das que conseguimos levar adiante. A criação de um selo, promover eventos sob o nome do site estão no congelador, assim como alguns outros projetos.

O site manteve os colaboradores do blog e agregou novos: Eduardo Juliano, Marta Figueredo, Leinne Portugal, Marcello Almeida, Pedro Damian. Durante algum tempo publicamos charges do genial Bruno Aziz e a original série de quadrinhos de Ângelo.

Ao longo do percurso, devido às idiossincrasias, alguns colaboradores saíram, e outros entraram: Daniel Rezende, Eduardo Juliano, Sthefaniy Henriques, Apolo Andrade, Rodrigo Melão, Bruno Lisboa, Leonardo Lima, Leonardo Tissot e Gabriel Farina.

E aqui estamos e seguimos em frente com a proposta de sempre: Ser um veículo de Cultura Pop independente, produzir conteúdo relevante, original e de qualidade, de forma ética, consciente e engajada em questões sociais.

Atualização, 23/04/2023