“Uh, foi estranho porque Murph não estava se adaptando bem. Éramos apenas uma dupla, e eu estava tentando ensinar músicas para ele para que pudéssemos gravá-las, e ele não estava aparecendo para praticar. Não sei… Ele simplesmente não estava muito a fim” (J Mascis respondendo sobre ele ter feito as baterias de ‘Green Mind’)
Após três álbuns de estúdio lançados por pequenos selos e todo um rebuliço criado na cena musical independente americana dos anos 80, o final da década acenava para o Dinosaur Jr. com um contrato com uma grande gravadora, ancorado pelo relativo sucesso alcançado pelo single Freak Scene. Os anos 90 se mostravam promissor para o trio, só na aparência. Após a turnê de Bug (1988), o baixista Lou Barlow, que mantinha uma relação tempestuosa como guitarrista J Mascis, foi expulso (há controvérsia, Mascis afirma que ele quis sair) da banda. Com a saída de Lou, para as gravações de Green Mind, seu quarto álbum de estúdio, o núcleo de banda de Amherst (Massachusetts) estava reduzido a um duo, Mascis e mais o baterista Murph.
Com esse formato, Mascis decidiu que levaria adiante seu rebento. Para as gravações de Green Mind, ele criou uma dinâmica em estúdio em que ele mesmo compunha, produzia e tocava todos os instrumentos, inclusive as partes de bateria – ele já havia tocado o instrumento antes de assumir a guitarra -, que posteriormente seriam repassadas ao dono oficial do posto. Se esse novo modus operandi foi favorável para Mascis, que se sentiu livre de Lou, para Murph não foi tão agradável.
“Você tem que entender que, naquela época, era assim que J operava”, afirmou Murph em entrevista a Spin quando dos 30 anos de Green Mind. “Você meio que ouvia as coisas de última hora, de forma muito prática. Tipo, duas semanas antes, ele diz, ‘Aqui estão as músicas, cara. Se você conseguir aprender todas essas músicas em duas semanas, ótimo.’ Normalmente, levo dois meses — talvez um mês e meio — para aprender um álbum inteiro. Eu pensava, ‘Vou fazer o melhor que puder’, e essas três músicas” — “Thumb”, “Water” e a favorita dos fãs “The Wagon” — “foram meio que o que passou em duas semanas, então foi mais apenas ‘The J Show”.
“Eu não tinha o estresse do Lou, então eu estava empolgado para gravar”, explicou Mascis na mesma entrevista. “Para mim, foi divertido apenas construir as músicas e tocar tudo. É definitivamente um álbum com um som estranho, e eu questiono algumas das escolhas que fiz no processo. Quando eu o ouço, ele definitivamente soa estranho; ele definitivamente tem seu próprio som, mas é, tipo, não é exatamente o som de uma banda”.
Embora ele negue, muitos consideram que a partir de Green Mind o Dinosaur Jr. passou a funcionar mais como um veículo solo de Mascis do que uma banda em si, principalmente pelo modo como o guitarrista passou a controlar todos os aspectos relacionados ao “grupo”. Esse controle se tornaria ainda mais severo nos outros três álbuns lançados pelo Dinosaur Jr. na década de 90: Where You Been (1993), Without a Sound (1994) e Hand It Over (1997).
Se Green Mind é um álbum de caminhos erráticos – seja no ambiente ou em termos da sonoridade mais despojada -, a escolha da imagem para a arte da capa foi um dos maiores acertos de Mascis – a foto Priscilla, Jones Beach, 1969, do professor e fotógrafo norte-americano Joseph Szabo, retirada de seu primeiro e aclamado livro Almost Grown, lançado pela Harmony Books em 1978, eleito entre os “Melhores Livros do Ano” na lista da American Library Association.
A imagem em preto e branco de uma adolescente na praia com o cigarro na boca, jeito de durona, olhar perdido no vazio, se tornou, sem sombra de dúvidas, a capa de álbum mais icônica em toda carreira do Dinosaur Jr. A foto de Szabo e a música/letras de Mascis tornou-se uma perfeita representação e de fácil identificação com a chamada geração slacker, cuja figura do guitarrista se tornou um símbolo.
Em entrevista, Szabo comentou como capturou a imagem: “Priscilla foi um desses presentes que me foi dado em uma das primeiras vezes que fui a Jones Beach… Alguém disse: ‘Se você gosta de fotografar pessoas, vá para Jones Beach’. Então fui lá com minha câmera e, neste dia em particular, quando pisei na praia, lá estava ela, a menos de três metros de distância. Eu sabia que tinha que pegar a câmera e fotografar o mais rápido possível. Na verdade, só consegui tirar duas fotos e fui verificar se tinha a abertura e a velocidade do obturador corretas para a praia e, quando olhei para cima, ela tinha sumido, sumido completamente. Nenhum lugar na praia, nenhum lugar no calçadão. Ela era realmente uma garota misteriosa”.
Nascido em 1944, Szabo foi professor do ensino médio em Nova Iorque de 1972 a 1999, mas se tornou conhecido graças ao seu talento e trabalho como fotógrafo, com mestrado em fotografia no Pratt Institute, Nova York. Ele começou a usar sua câmera para fazer registros, sempre em preto e branco, de pessoas na praia, em shows (como o dos Rolling Stones) e também de seus alunos, com enfoque principal em adolescentes. Suas imagens são um retrato da juventude norte-americana, principalmente da década de 70. Além de Almost Grown, ele publicou outros quatro livros: Teenage (2003), Rolling Stones Fans (2007), Jones Beach (2010) e Lifeguard (2018).
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Perguntado sobre a foto em uma entrevista para um site canadense Mascis respondeu ao seu estilo: “Isso estava apenas em um álbum de fotos que um amigo meu tinha”. Mas em uma entrevista a Rolling Stone em 2019 ele foi um pouco menos lacônico afirmando que “Kim Gordon tinha este livro de fotos. Chama-se Almost Grown e esse cara [Joseph Szabo] tirou todas essas fotos. Essa foi uma delas. Acabei pedindo permissão para usá-lo. Foi legal”. Mas há uma outra versão que diz que foi Kim Gordon que sugeriu a foto para a banda porque achava que “Priscilla” lembrava J Mascis.
acredito que a Kim tem bom gosto então fico com a opção de ter sido sugestão dela o uso dessa imagem, realmente incomum, intrigante. quanto ao disco tô ouvindo sem muita expectativa, o DJ nunca me impressionou muito, más gosto. parabéns pela resenha sempre rica nos detalhes 👏👏👏👏