Apesar da química entre atrizes, falhas comprometem ‘Meu Nome era Eileen’


meu-nome-era-eileen

Baseado no romance Ottessa Moshfegh, ‘Meu Nome era Eileen’ se distancia do livro e acaba comprometido por conta das falhas

Devo começar admitindo que não sou nada fã do livro que dá existência a essa produção. Não odeio Meu Nome era Eileen, da interessante autora Ottessa Moshfegh, mas seu estilo narrativo não me agrada. No livro, os acontecimentos são contados em primeira pessoa, por uma Eileen idosa, que narra eventos em sua antiga cidade chamada X (sim, a cidade se chama X). Como toda história contada de maneira real e espontânea, o livro se perde em informações inúteis e interrupções. É claro, essa condução foi uma escolha de Moshfegh, mas não me soa orgânica, tão pouco construtiva. Em suma, tenho a opinião que a autora transformou uma obra que poderia ter 80 páginas em algo desnecessariamente maior através de tais adições, e tais acréscimos não tornaram seu livro melhor.

O filme, no entanto, se distancia do humor estranho e narrações indecisas presente no livro. Meu Nome era Eileen se torna mais cru e também mais objetivo. Sua história é encurtada, alguns personagens desaparecem, e as indecisões de Eileen também somem, pois não há mais uma oratória, um alguém (personagem) que conte a história. A narrativa não está mais sob o controle de Eileen, ainda que o filme a acompanhe. Agora, o que vou dizer a seguir pode soar contraditório, porém admito que gostaria que a adaptação fosse como o livro. Faltam peças fundamentais e tais ausências impedem o filme de ter algo crucial: uma personalidade; algo que o faça ser lembrado, o diferencie.

Ignorando o caso Polk, a necessária presença de Randy e o padrão obsessivo de Eileen, o filme aposta unicamente nos laços entre Eileen (Thomasin McKenzie) e Rebecca (Anne Hathaway). Em tese, a ideia está longe de ser ruim, afinal, a confusão de sentimentos, que muitas vezes garante um subtexto de homosseuxalidade, garantiu grandes histórias para o cinema. O conflito ‘‘ser x ter’’ é clássico, basta olhar como ele está presente desde Rebecca (1940) e se mantém popular até a contemporaneidade através de filmes como Garota Infernal (2009) e A Filha Perdida (2021). No entanto, apesar dele funcionar muito bem de uma perspectiva “Eileen para Rebecca”, a história não está totalmente centrada no novo foco de nossa protagonista. Assim, reforço, ainda que utilize essa “conexão” de ambas como o meio, a história não é totalmente sobre a “conexão”.

Anne-Hathaway-e-Thomasin-McKenzie-em-Meu-Nome-Era-Eileen-2023
Anne Hathaway e-Thomasin McKenzie em ‘Meu- Nome Era Eileen’ (2023)

Como já mencionei, o caso Polk existe e, de certa maneira, ele rompe a ideia de uma obsessão que é apenas de Eileen para Rebecca. Embora a primeira exista e seja o meio para contar a história, eu acho melhor definir essa relação como uma corrente. Dessa maneira, Eileen está obcecada por Rebecca, mas Rebecca está obcecada pelo caso Polk. Meu Nome era Eileen, entretanto, se esquece de trabalhar essa última e essencial parte da corrente.

Se levantarmos todas as vezes que os Polk’s são citados ou algo do tipo, dificilmente teremos uma compilação que ultrapasse dois minutos. E esse problema mal pode se esconder através do argumento de que Eileen mantinha um foco que a fazia ignorar o caso, justamente porque seu foco era em Rebecca e, numa linha lógica, Rebecca deveria falar o tempo inteiro sobre. Nesse sentido, Oldroyd não consegue equilibrar o último arco de seu filme com os outros. Dessa forma, perdemos algo e isso não é fruto de um cochilo ou má atenção de nossa parte, mas do filme, que não consegue explorar, não consegue trabalhar uma obsessão dentro de outra obsessão.

Assim, restam duas coisas: a primeira é comprar a história a partir de sua frágil primeira camada, onde Eileen é apenas uma garota infeliz que, devido a sua carência, fez algo brutal para a primeira pessoa que lhe deu atenção. E essa primeira ação nos leva a segunda, que é ignorar a “construção” de seu suspense num estilo Original Netflix, em um estilo “receba essa reviravolta e ache esse filme incrível porque escondemos a verdade o tempo inteiro”. Bom, eu digo que não há o que achar de incrível nesse filme, principalmente porque ele não esconde seu plot, ele sequer constrói um.

+++ LEIA A CRÍTICA DE ‘O ASSASSINO’, DE DAVID FINCHER

 Meu Nome era Eileen poderia ter um grande potencial se adotasse mais a narrativa estranha, a sujeira de seus ambientes e do caráter de seus personagens. O filme infelizmente se distancia da obra original, mas também da grande reviravolta que acha que propôs. É uma pena.

CLIQUE PARA ASSISTIR AO TRAILER

https://youtu.be/Ao-8SI4JRqo

Eileen_2023_poster

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

TÍTULO ORIGINAL: Eileen
ANO: 2023
GÊNERO: Drama, Thriller, Mistério
PAÍS: Estados Unidos
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 1:37 h
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
DIREÇÃO: William Oldroyd
ROTEIRO: William Oldroyd, Ottessa Moshfegh (baseado no livro de Ottessa Moshfegh)
ELENCO: Thomasin McKenzie, Anne Hathaway, Owen Teague, Shea Whigham, Sam Nivola e outros
AVALIAÇÕES: IMDB

Previous Mix de Shoegaze e Rock Alternativo, Virgins disponibiliza 'Nothing Hurt and Everything Was Beautiful'; Ouça
Next Thurston Moore compartilha a nova “Rewilding”; Ouça

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *