‘Retorno a Seul’ explora o conceito de pertencimento para expatriados


Park Ji-min em Retorno a Seul

É interessante como Retorno a Seul se transforma em um conto extremamente real sobre expatriação. E consegue fazer bem isso justamente por ser o retorno de uma mulher que muito nova foi obrigada a partir para França e, por impulso, voltou ao seu país natal duas décadas depois. Dessa forma, temos um cenário duplamente doloroso, o filme não é apenas sobre Freddie – com face da Coréia Ancestral –  muito provavelmente não se enquadrar no ocidente, especificamente vivendo com uma família branca em um bairro branco. É também sobre não pertencer à Coréia do Sul, principalmente, quando sua mãe biológica se nega a conhecê-la.

Para dar vida a essa tragédia tão familiar para algumas nacionalidades, Davy Chou tem a inteligente decisão de não resumir sua história a uma única experiência, a um único evento. Temos então um trauma contínuo, uma constante busca e, por sua vez, a expansão do vazio, da solidão de uma pessoa que não sabe mais onde é o seu lar. Chou faz isso adotando pausas temporais, avançando a história sempre que lhe é conveniente, fazendo Freddie voltar inúmeras vezes a Seul e sempre diferente.

Oh Kwang-rok, Guka Han, and Park Ji-min em Retorno a Seul
Oh Kwang-rok, Guka Han, and Park Ji-min em ‘Retorno a Seul’

Dessa maneira, Retorno a Seul se torna um filme que se diferencia por essa abordagem. Na verdade, o filme é até provocativo para nós ocidentais e a nossa comum percepção de que a mãe pode ter inúmeros defeitos, mas ainda assim é uma mãe e jamais negará conviver, ajudar ou, nesse caso, (re)conhecer seu filho. Nesse sentido, ver a passagem temporal de um ano após as últimas horas de Freddie na Coréia do Sul podem até soar estranhas para nós e, nesse caso, desinteressar algumas pessoas que esperavam um encontro caloroso nesses momentos finais de viagem. Mas eu reforço que é nesse ponto que Retorno a Seul cresce, além de ser um ato corajoso, os próximos capítulos não perdem o sentido, não enfraquecem o que estava sendo construído. Pelo contrário, ampliam a crítica e brutalidade que envolve o retorno para ‘‘casa’’.

Retorno a Seul tem uma imersão melodramática que funciona, mas não nos nega a beleza, o humor e a trilha sonora animadora. Chou, nesse ponto, é um diretor que gosta de trabalhar com as sugestões feitas através da imagem e se você permanece atento a esse filme por muito tempo, logo vai começar a entender isso. Nesse filme, cenas de dança significam o contrário do que naturalmente entendemos quando vemos alguém dançar. Presentes, nessa narrativa, também vão significar outra coisa, assim como fotografias. Nesse aspecto, o diretor consegue causar a sensação de desconforto mesmo quando vemos algo que, em tese, significa algo bom. Não importa o que você está vendo, por mais bonito que seja, há algo cru lá, há um significado triste já impregnado.

+++ Leia a crítica de ‘Decisão de Partir’, de Park Chan-Wook

Representante do Camboja no Oscar 2023 e selecionado para o Un Certain Regard de Cannes em 2022, Retorno a Seul é um filme pouco comentado, mas que merece toda a atenção.

CLIQUE PARA ASSISTIR AO TRAILER

Retorno a Seul - Poster

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

TÍTULO ORIGINAL: Retour à Séoul
ANO: 2022
GÊNERO: Drama
PAÍS: Camboja
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 1:59H
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
DIREÇÃO: Davy Chou
ROTEIRO: Davy Chou
ELENCO: Park Ji-min, Oh Kwang-rok, Guka Han, Sun-Young Kim e outros
AVALIAÇÕES: IMDB | Rotten Tomatoes

 

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