‘Decisão de Partir’ aposta no Neo-noir para contar uma história de amor



Amando ou detestando o cinema de Park Chan-Wook, todos precisamos concordar que o diretor sul-coreano é um mestre em nos surpreender com as bem articuladas reviravoltas de suas obras. Não é por menos que projetos como OldBoy (2003) e A Criada (2016) se tornaram fenômenos entre a comunidade cinéfila e referências no que se diz respeito a filmes orientais surpreendentes, isso bem antes da existência de Parasita (2019).

Em Decisão de Partir, entretanto, Chan-Wook se afasta de um cinema onde uma perturbação inesperada surge no meio do ato de confrontação – pensando em uma estrutura de roteiro, Wook normalmente procura criar um ‘‘plot’’ na parte em que o protagonista busca resolver o incidente incitante – e se aproxima de um mistério romântico a seu molde, isto é, sem abrir mão da violência, humor e da luxúria que, mesmo tímidas em relação a outras obras, se fazem elementos coesos e importantes.

No filme, acompanhamos o detetive que nunca dorme, Jang Hae-Joon (Park Hae-il), sendo designado a investigar a morte de um homem que caiu do topo de uma montanha. Ao longo do caso, o detetive conhece a viúva do falecido, Seo-Rae (Tang Wei), mulher a qual Joon termina por nutrir obsessivos sentimentos que aparentam ser recíprocos.

Park Hae-il em 'Decisão de Partir' (2022)
Park Hae-il em ‘Decisão de Partir’ (2022)

Mesmo admitindo que não gosta de filmes noirs e que o gênero não o inspirou na criação de Decisão de Partir, Chan-Wook faz uma obra que, em minha opinião, se aproxima dos filmes policiais famosos durante a década de 1940 e 1950 por cumprir alguns dos fundamentos do gênero.

Na trama, o protagonismo é de um policial em conflito moral, há a forte presença de uma femme-fatale (que aqui mais se parece uma viuva negra), a produção é carregada pelo atmosfera de desejo carnal, flashbacks e ocorre o destaque, sempre que possivel, de objetos significativos narrativamente.

A grande diferença de um noir clássico para o que Chan-Wook promove – além do fato do mesmo negar a relação entre ambos, o que nos levaria a uma análise profunda sobre ficção noir enquadrar-se ou não em uma ficção de mistério, o que não cabe nessa crítica – é que o diretor troca o típico cenário noturno onde se valoriza o jogo de luz e sombra e investe em um filme policial à luz do dia, promovendo uma composição visual vivida e rica (e até maneirista), tanto na construção de seus cenários, quanto na fotografia.

Nesse ambiente em que tudo afigura ser tão nítido, Chan-Wook busca nos conectar com o detetive que vive colocando colírios em seus olhos na intenção de extrair alguma pista da verdade, verdade que, desde o início, está bem a nossa frente e nós só precisamos encontrar caminhos que a atestam.

+++ Leia a crítica de ‘Corra Querida, Corra’, de Shana Feste

No final das contas, existem margens para o diretor realmente pensar que seu filme não é um noir e sim um mistério romântico, afinal, Decisão de Partir não é um filme policial com romance e sim um filme romântico que precisa, assim como a relação entre Jang Hae-Joon e Seo-Rae, do mistério para existir.


Poster do filme 'Decisão de Partir'

INFORMAÇÕES:

Título Original | Ano: Heojil kyolshim / Decision to Leave  | 2022
Gênero: Policial, Drama, Mistério
País: Coreia do Sul
Duração: 2:19 h
Direção: Park Chan-wook
Roteiro: Park Chan-wook e Chung Seo-kyung
Elenco: Park Hae-il, Tang Wei, Lee Jung-hyun, Go Kyung-Pyo e outros
Data de Lançamento: 05 de janeiro de 2023 (Brasil)
Censura: 14 anos
Avaliações: IMDB | Rotten Tomatoes

 

 


 

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