‘Surprise Surprise Surprise’, do Miracle Legion, uma joia oitentista a ser descoberta


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Disco de estreia do Miracle Legion, ‘Surprise Surprise Surprise’, a despeito das comparações com o R.E.M., traz excelentes composições de Mark Mulcahy e Ray Neal

O período entre 1980 a 1990 pode ser considerado a época áurea do College-Rock, termo mais associado a grupos norte-americanos (mas que também incluía bandas britânicas), geralmente formados nas universidades (não exclusivamente). Nessa época, muitas dessas bandas norte-americanas faziam mais sucesso e tinham mais espaço na Inglaterra do que em seu próprio país.

O termo não era usado para designar um gênero, mas uma espécie de política interna das rádios universitárias norte-americanas, que tocavam músicas de artistas novatos, pouco conhecidos ou cuja sonoridade não se encaixava na programação das rádios convencionais ou mainstream. Nomes como R.E.M., Sonic Youth, Pixies, Violent Femmes, The Replacementes, Meat Puppets são alguns exemplos de bandas que fizeram sucesso nas rádios universitárias e, posteriormente, viriam a assinar com grandes gravadoras.

O quarteto Miracle Legion, de New Haven (Connecticuit), foi outro nome que fez bastante sucesso nas rádios universitárias. Tendo à frente o vocalista e guitarrista Mark Mulcahy, o grupo foi formado em 1983, e era completado por Ray Neal (guitarra solo e fundador, junto com Mark), Joel Potocsky (baixo) e Jeff Wiederschall (bateria). A ideia musical inicial, conforme declarado em entrevista, era fazer uma sonoridade próxima ao que o Gun Club, grande influência para a formação da banda, além de Mission of Burma e Husker Dü.

No quesito sonoridade, as coisas não saíram como eles esperavam e não direcionam para a banda de Jeffrey Lee Pierce. Em 1984, o EP Backyard é lançado de forma independente e faz grande sucesso nas rádios universitárias norte-americanas e atrai a atenção para o grupo em terras britânicas, inclusive dos semanários NME e Melody Maker.

O álbum de estreia do grupo, Surprise Surprise Surprise (1987), é lançado já pela gravadora Rough Trade (a mesma dos Smiths). Tanto o EP quanto no álbum, mostra uma banda totalmente inclinada para o Jangle-Pop executados pelo R.E.M. (a quem serão comparados constantemente) quanto dos próprios Smiths – inclusive o timbre de Mulcahy, de alguma forma, lembra o de Michael Stipe.

Simples, cru e direto, Surprise Surprise Surprise é um álbum sem firulas, mostra uma banda em processo de desenvolvimento de sua sonoridade e com a adição da gaita em algumas canções, dando-lhes um toque mais Folk, como na abertura como “Mr. Mingo”, escrita em homenagem ao cachorro de Mulcahy, mas em que o vocalista aproveita para fazer algumas metáforas sobre relacionamentos: “Não estou apaixonado o suficiente para ficar / Mas estou apaixonado o suficiente para saber que deveria ir embora”, ou o saxofone de “Country Boy”.

O lado lírico do Miracle Legion é um ponto que os distancia da banda de Athens, as letras de Mulcahy são mais diretas, em geral falando sobre relacionamentos ou situações pessoais. A balada “Little Man”, faixa que encerra o álbum, é uma homenagem ao irmão falecido, encapsulando o sentimento de saudade: “Sinto sua falta quando a chuva está caindo / Sinto sua falta quando o herói está chamando / Ouço você quando estou ajoelhado, chorando”.

Co-Produzido pela banda, em parceria com o produtor Jon Russel, Surprise Surprise Surprise traz a quantidade clássica de canções utilizadas nos álbuns, 10, e alguns momentos luminosos da carreira do Miracle Legion, como a ótima “All for the Best” – que ganharia uma versão de Thom Yorke para o tributo beneficente Ciao My Shining Star – The Songs of Mark Mulcahy, (que tem nomes como The National, DInosaur Jr., Michael Stipe, LAura Veir, Juliana Hetfield e outros) em prol de Mark Mulcahy, após a morte de sua esposa. Também são destaque, a balada “Trully”, sobre fazer tudo para agradar a outra pessoa; e a bonita “Storyteller”, que tem todos os ingredientes de uma típica canção do R.E.M.

+++ Leia a crítica de ‘Daydream Nation’, do Sonic Youth

Impulsionado por riffs e dedilhados de guitarra, é um álbum com qualidades que levariam a banda a alçar voos maiores na sequência de sua carreira, inclusive abrir para o Sugarcubes.

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