‘Clube Zero’ é mais um filme que demonstra a pobreza das atuais “sátiras inteligentes”


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Seguindo uma tendência de filmes recentes, ‘Clube Zero’, de Jessica Haussner, adota o tom da sátira social explícita mas sem sucesso

Nos últimos anos, tornou-se popular sátiras assumidamente explícitas que adotam um tom bobo para trabalhar com suas respectivas temáticas. Em Não Olhe Para Cima, o fato de quase todos os personagens serem estúpidos, garante uma sequência assustadora de ações estúpidas. Em Triângulo da Tristeza, a mesquinhez dos personagens ricos é usada para causar cenas constrangedoras. Sobre os filmes citados, é comum encontrar elogios na internet, principalmente por eles adotarem a estupidez para retratar o estilo de vida contemporâneo, criando, assim, um retrato perfeito de nossa sociedade.

O sucesso de ambas produções indica uma aprovação do público quanto a esse tipo de abordagem. Logo, não precisou de muito tempo para começar a surgir filmes similares, como O Menu e Glass Onion: Um Mistério Knives Out. Clube Zero, nesse sentido, não esconde que também quer tentar um espaço entre os elogiados (e duvidosos) filmes com crítica social. Honestamente, em minha opinião, ele até faz parte desse grupo popular, mas, assim como os citados anteriormente (com exceção Glass Onion), é igualmente abominável.

Clube Zero aparenta partir do pensamento de que só é preciso elevar ao extremo: elevar o tom explícito ao extremo, tornar os personagens idiotas, mesquinhos e egoístas ao extremo, com o objetivo de apresentar o quão perigoso são as teorias conspiratórias disfarçadas de ciência. Apesar da boa intenção na temática, Clube Zero falha, pois não consegue ser mais do que um compilado de cenas que tenta esmiuçar, de cada plano, o pior que está sendo apresentado. Assim, a diretora, Jessica Hausner, aparenta estar fazendo um trabalho minucioso, mas não minucioso no sentido que favorece a qualidade da obra, mas minucioso no sentido de adição, o que pode ser adicionado para que cada cena se torne mais auto explicativa possível.

Dessa maneira, com referências surgindo de todos os lugares, a consequência é um afastamento visível do drama. Hausner não consegue nos envolver, não consegue nos fazer sentir o que deveria ser o mais importante: a empatia com os adolescentes, em visível situação de alienação, negligência parental e escolar. Mesmo com a visível anorexia, pigmentos amarelados na pele e discursos perigosos propagados por todos, o único sentimento que nutrimos por eles é de indiferença.


 Leia a crítica de ‘Triângulo da Tristeza’, de Ruben Östlund


É uma pena que Hausner entenda que o caminho para ‘‘humanizar’’ seus personagens é submetê-los a experiências que serão tratadas, às vezes, como “nonsense”. Em Clube Zero, ela tem a falsa ideia que os aspectos externos garantem a emoção, mas ela está terrivelmente enganada e isso custou a qualidade de sua obra.

CLIQUE PARA ASSISTIR AO TRAILER

https://youtu.be/U51bVaV7TGc

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

TÍTULO ORIGINAL: Club Zero
ANO: 2023
GÊNERO: Drama, Comédia. Suspense
PAÍS: Áustria
IDIOMA: Inglês, Francês, Chinês
DURAÇÃO: 1:50 h
CLASSIFICAÇÃO: 18 anos
DIREÇÃO: Jessica Hausner
ROTEIRO: Jessica Hausner e Géraldine Bajard
ELENCO: Mia Wasikowska, Ksenia Devriendt, Luke Barker, Florence Baker e outros
AVALIAÇÕES: IMDB

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