10 Perguntas para Turmallina


Foto da banda Turmallina, 2022
Foto | Marina de Paula

Formada em 2018, entre mudanças (como em toda banda iniciante), Turmallina (com L dobrado mesmo!) lançou esse ano Aurora (Tratore / Shore Dive Records), EP de sete faixas, formado por canções repletas de altíssimos riffs de guitarra melodiosos e reverberantes, que quando se somam aos vocais submersos da vocalista Rose Oliveira criam ambientações totalmente oníricas e repletas de nostalgia, identificados com o Dreampop principalmente.

Essencialmente, mas nem só de “Pop dos Sonhos” estão assentadas as bases do grupo, atualmente um quinteto formado por Rose Oliveira (voz), Caio Silva (guitarra), Eduardo Campos (baixo), Marcos Marques (guitarra) e Maynara Lino (bateria). É possível encontrar ecos de Post-Punk, nas linhas de baixo, do Indie-Rock e também do Shoegaze (nas camadas de barulho) e Psicodelia. Tudo isso coberto por uma camada fina de Lo-Fi, que dá vibração e calor às canções, produzidas pela própria banda.

Em processo de divulgação do EP, e também de lançamento do seu novo single (“Febre” foi lançado dia 01/12, alguns dias após recebermos as respostas da entrevista), a banda falou sobre origens, influências, parceria com o selo Shore Dive Records, a importância dos sonhos em suas composições e a urgência de criar e existir, de “criar músicas e performances, seja criar laços, mas também existir, fisicamente e politicamente, como uma banda formada por pessoas LGBTQIA+ e que nasceu e se criou na periferia de São Paulo”.

A turmalina e suas propriedades piroelétricas bem como a capacidade de repelir energias negativas é de conhecimento geral. A banda Turmallina é um “segredo a ser descoberto”. Se você desconhece as qualidades de ambos…bem, a entrevista com a banda está aqui.


Para iniciar, que tal contarem um pouco sobre as origens da banda: pontapé inicial, motivo da escolha no nome Turmallina, entradas e saídas, quem está atualmente…
Turmallina: A banda começou em 2018, alguns meses após o Caio conhecer nossa primeira guitarrista, a Nathalie, em um show do Máquinas. Logo surgiu a ideia de montar uma banda, então convidaram seus amigos Daniel Ishii (baixo) e Rose Oliveira (vocal) para o projeto. Para fechar o quinteto– que foi responsável pela gravação da primeira demo de “Automático” – Victor Ângelo assumiu as baquetas. Nathalie deixou as guitarras ainda naquele ano, Daniel foi para a guitarra e Eduardo Oliveira assumiu o baixo. Essa formação foi responsável pelos primeiros shows da banda, que agora definitivamente se chamava Turmallina, e pela gravação do EP “Aurora”. Logo após o lançamento do EP, Daniel Ishii deixa a banda rumo à Itália e Marcos Marques toma seu posto de guitarrista. Victor acabou deixando a banda em julho desse ano e Maynara Lino assume as baquetas, pouco antes da gravação dos singles e de diversos shows previamente marcados. Foram dois meses de muita correria, mas, sabe-se lá Deus como, deu tudo certo!
O nome vem do fato do Caio ser geólogo. Após diversas tentativas de nomes que nunca agradavam a todos, ele decidiu passar no Museu de Geociências da USP, tirar fotos de vários minerais da exposição e encontrar um nome que todos gostassem. Turmallina foi unanime. Os Dois L vêm do fato de já haver uma cidade com esse nome, o que fez o Instagram proibir a gente de nomear nossa página como Turmalina!

Vocês lançaram o single “Interruptor” em 2019 (que inclusive ficou de fora), e gravaram as canções do EP entre 2019 e 2020. Por que esse espaço relativamente longo entre a gravação de ‘Aurora’ e o lançamento, e como é que foi todo esse processo?
Turmallina: A pandemia acabou atrasando muito nossos lançamentos. Fizemos tudo de forma 100% independente, ninguém podia se dedicar exclusivamente à banda, o que gerou vários problemas de agenda por conta de trabalho e faculdade. Sem contar o desgaste mental de ter que aprender a fazer tudo do zero, como registrar uma música, como distribuir, como usar as redes sociais, como mixar e masterizar. E “Interruptor” acabou ficando de fora por ter sido composta e gravada muito antes das músicas do EP e de forma bem mais amadora. Além disso, achamos que ela não combinava tanto com o restante do EP, no começo até achávamos difícil colocá-la no setlist, mas muita gente gosta da música e canta com a gente no show.

Passados alguns meses desde o lançamento do EP, qual a avaliação que fazem em relação a recepção do público e da mídia?
Turmallina: Tanto a recepção, quanto o alcance foram uma grata surpresa. Somos uma banda que surgiu do nada, com poucas conexões dentro da nossa cena e do nada começamos a sair em diversos blogs, fomos citados em vários podcasts, tocamos em diversas rádios independentes gringas e por aí vai. E o mais surpreendente é que o disco continua circulando. Sempre recebemos mensagens de novos fãs, principalmente após os shows.

Como é que aconteceu essa parceria com a Shore Dive Records, que até lançou ‘Aurora’ em mídia física? E até que ponto isso tem ajudado na divulgação?
Turmallina: Quando escrevemos o release do EP, enviamos para diversas rádios gringas, nessa mesma época a Shore Dive entrou em contato conosco, talvez tenha alguma relação com a rádio DKFM, da Califórnia, de onde surgiu muita gente no nosso Bandcamp. Eles nos ajudaram bastante, tanto financeiramente com a venda dos CDs quanto na difusão do nosso som fora do Brasil.

Falando em divulgação, vocês utilizam muito redes sociais? Qual a relação de vocês com as redes, enquanto banda? Dividem as tarefas, essas coisas?
Turmallina: Gostaríamos de usar mais, mas como ninguém pode se dedicar exclusivamente a isso acaba sendo difícil. O Eduardo cuida mais, planeja os posts, mas quando ele não tem tempo alguém sempre tenta dar uma ajudinha.
Atualmente sentimos que criamos uma casca e aprendemos como usá-las a nosso favor. Para o lançamento de Febre, por exemplo, nos organizamos melhor, contamos com assessoria da Mariana Marvão, uma grande amiga jornalista. Temos notado um crescimento nos últimos meses, graças a esse trabalho mais profissional, além de também notarmos que algumas páginas tem nos divulgado constantemente por simplesmente gostarem do nosso trabalho, como a @gordurinhasindie.

Vi que um site polonês comentou sobre ‘Aurora’ e destacou “Escadas” e “Nádia” e apontou a banda como “a resposta brasileira ao The Pains of Being Pure at Heart”. É uma referência para vocês e como é que vocês foram “parar na Polônia”?
Turmallina: Temos eles como referências sim, acho que principalmente nos timbres de guitarra que o Caio gosta de buscar, mas não foi exatamente uma influência direta, porque também podemos citar Yuck e Westkust, por exemplo, que tem um som na mesma pegada. Na época da composição do disco todos ouviam sons diversos, convergindo pouco nos gostos até, por isso é difícil falar de influências diretas. E sobre como paramos na Polônia, eles nos descobriram através do Bandcamp, já que compraram o disco antes de fazer o review. É um dos reviews que mais gostamos, pra ser sincero, captou toda a essência da banda, desde entender as limitações técnicas até o momento que vivemos, essa transição louca do fim da faculdade para a vida adulta.

Já que falamos em referências, quais referências musicais ou não tiveram influência no resultado de ‘Aurora’? Os sonhos são uma delas?
Turmallina: Foram muitas referências e as composição surgiram há bastante tempo, difícil lembrar de todas. Sempre foi uma grande mistura de Westkust, The Cure, Pinkshinyultrablast, My Bloody Valentine, Slowdive, DIIV. Como foi nosso primeiro lançamento, reflete muito esse sentimento de tentar misturar tudo aquilo que gostávamos de ouvir. Tirando Aeronave, que é uma letra extremamente pessoal, todas letras viajam em tornos de sonhos, de pensamentos que acontecem antes da dormir e sobre a vida adulta batendo na porta, nos fazendo sonhar, mas também temer o futuro o tempo todo, por mais que a gente lute contra.

Tem algo em ‘Aurora’ que vocês mudariam se isso fosse possível?
Turmallina: Não mudaríamos nada! Aquele disco reflete perfeitamente quem éramos em 2019. Pensamos muito em alterações ao longo da pós-produção, mas manter a essência do que gravamos na época foi uma decisão acertada. É muito difícil prever o que o público vai ou não gostar, gostámos de colocar as músicas no mundo e ver o que rola. Lembro que na época quase deixamos “Escadas” de fora do EP, e hoje em dia é uma das músicas que as pessoas mais gostam, até lançamos um clipe dela!

Vocês se sentem parte do cenário Shoegaze/Dreampop nacional? Quais bandas/artistas nacionais destacariam, independente de gêneros?
Turmallina: Sendo 100% sinceros não nos sentimentos parte de nenhum cenário em específico no momento. Sentimos que recebemos apoio de bandas de todos os estilos, mas estamos felizes de estarmos criando laços com bandas com Homeninvisível, Morro Fuji e Cianoceronte e basicamente criando uma cena própria em torno da gente. Recentemente entramos pro casting da Delírio Produções, selo novo com artistas de diversos estilos como Sonhos Tomam Conta, Meu Quarto é Vazio e Malditos Jovens do Reggae, então estamos sempre criando novas conexões e amizades, independente do som que a galera produz.
Bandas como Adorável Clichê, Boogarins, Lupe de Lupe, Terno Rei, Eliminadorzinho foram fortes influências para nós, influenciando em aspectos do nosso som, desde ambiência, efeitos que gostamos de usar, até na forma que fazemos psicodelia e sujeira. Nos conhecemos em shows de bandas como essas, quando eles não eram tão famosos, e ver o caminho que eles trilharam nos empolga muito.

Vocês têm agendado o lançamento para o início de dezembro do single “Febre”, o que podem adiantar sobre essa nova canção?
Turmallina: Será nossa primeira gravação em estúdio, com produtores e equipamentos de ponta. Inclusive mandar um abraço para o Zep e para o Pacheco, que tornaram tudo isso possível. Febre é um ponto fora da curva em relação a tudo que produzimos até agora, foi uma música composta durante a pandemia, feita à distância. Óbvio que ainda tem os elementos que o público mais gosta, mas sentimos que tem muito mais a nossa cara, mais o nosso dedo. Ela é delicada, pessoal e minimalista. E em breve ele receberá um clipe que aumentará ainda mais a experiência da música, aguçando os sentidos visuais e complementando a narrativa contada ao longo da canção.

Finalizando, gostaria de fazer a pergunta clássica do site: Turmallina tem urgência de quê?
Turmallina: Temos urgência de criar e de existir. Depois de tanto tempo parados por conta da pandemia, precisamos colocar muita coisa para fora. Seja criar músicas e performances, seja criar laços, mas também existir, fisicamente e politicamente, como uma banda formada por pessoas LGBTQIA+ e que nasceu e se criou na periferia de São Paulo.

MAIS SOBRE TURMALLINA: Instagram | Facebook | Bandcamp | Spotify

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