Mogwai segue alargando suas fronteiras musicais em ‘The Bad Fire’


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Foto | Steve Gullick

The Bad Fire é o décimo primeiro álbum da carreira da banda escocesa Mogwai. Ele dá sequência a As the Love Continues, lançado em 2021, durante a pandemia, e que deu ao grupo, pela primeira vez, a primeira posição na parada britânica. O álbum foi produzido por John Congleton nos estúdios Chem19 em Blantyre, Escócia. 

Em um comunicado à imprensa no anúncio do álbum, o Mogwai comentou: “Após a euforia de lançar As the Love Continues, os anos seguintes foram pessoalmente difíceis para nós. Lidamos com muitas perdas e, no caso de Barry, com uma doença familiar séria de uma de suas filhas. Voltar a se reunir para escrever e gravar este disco pareceu um refúgio e com John Congleton sentimos que fizemos algo especial”.

Perguntado em entrevista se o fato de As The Love Continues, o álbum de 2021, ter atingido o topo da parada britânica gerou algum tipo de pressão para o novo álbum, Stuart Braitewhite, vocalista e guitarrista do Mogwai, respondeu que não, pelo contrário, pois se as pessoas gostaram das canções daquele álbum então também iriam gostar de The Bad Fire, o mais recente álbum de inéditas dos escoceses – décimo primeiro em uma carreira de 30 anos (sem contar as trilhas sonoras).

São cinco anos desde o último álbum de estúdio, lançado em plena pandemia. Normal para o Mogwai, uma banda já estabelecida no mundo da música, sem falar que nesse intervalo eles ainda produziram a trilha sonora da série Black Bird (AppleTV, 2022) e com uma outra a ser lançada em breve.

Seu Post-Rock à base de camadas de guitarras distorcidas e tendência instrumental encontrou em algum ponto de sua carreira a possibilidade de adição de camadas e efeitos de sintetizadores, que deu à sua música tons mais cinematográficos ainda. É dessa mistura que se constitui o repertório dos últimos álbuns da banda. E essa combinação está em The Bad Fire, uma expressão antiga usada na Escócia para designar o Inferno. Aqui o inferno pode ser entendido como uma metáfora para situações de perda pela qual a banda passou nos últimos anos e também pela luta enfrentada pelo guitarrista Barry Burns contra uma doença da filha, que exigiu seu afastamento do grupo por algum tempo, e foi felizmente vencida.

No sentido oposto do título do álbum e do clima pesado que poderia ter sido inserido no disco, a abertura com a sonoridade cinematográfica de “God Gets You Back” aparece como símbolo de uma mensagem positiva em seu título e algo que a banda quer passar nessas novas composições. Composta e cantada por Burns com uso de vocoder, a faixa tem letra escrita por sua filha de sete anos (“conte as estradas/olhos de Dallas/não respire ar”). Soa como o Mogwai tentando fazer um Synthpop e falhasse na proposta inicial, mas saindo vitorioso no resultado final, já que a canção é um belo cartão de visita para The Bad Fire.

Em “Hi Chaos” eles aplicam o conhecido formato calmaria/explosão, mas sem enfatizar tanto esse lado “vulcânico” de outrora. Texturas melódicas dão lugar a parede de guitarras furiosas e também sintetizadores de clima atmosféricos. É uma peça musical de andamento cadenciado e repleta de altos e baixos, fazendo jus ao caos usado no título. Na instrumental “What Kind Of Mix is This” eles mostram um lado mais sinfônico e contemplativo, também soando como parte de uma trilha sonora.

Os títulos curiosos seguem preservados aqui, além da saudação ao “caos”, há ainda “Fanzine Made of Flesh” (Fanzine Feito de Carne) , “Pale Vegan Hip Pain” ( Dor no Quadril Vegano Pálido) e “If You Find This World Bad, You Should See Some of the Others” (
Se você acha esse mundo ruim, você deveria ver alguns dos outros ). A primeira é um dos singles do álbum, e foi descrita por Stuart como um improvável cruzamento entre ABBA, Swervedriver e Kraftwerk. O vocal modificado com o efeito vocoder e faz imaginar o Air com guitarras. Sem o efeito modulador na voz, poderia ser das faixas mais Pop do Mogwai, faceta que eles mostraram em “Richie Sacramento”, do álbum anterior. A letra traz a ideia do fim de uma relação: “Acabou quando você disse que tinha que perder o contato com tudo o que você queria? / Meu coração se parte a cada batida, mas você está faltando / Tentando muito encontrar uma maneira de viver”. E o final é uma profusão sonora atordoante.

“Pale Vegan Hip Pain” é uma faixa instrumental que enaltece a contemplação e é conduzida por uma melodia básica de guitarra num compasso de valsa com camadas de sintetizadores fantasmagóricos ao fundo, e “If You Find This World Bad, You Should See Some of the Others” tem uma estrutura semelhante, com o arranjo crescendo e se tornando uma tempestade de riffs e bateria poderosa, lembrando o coração Post-Rock que ainda pulsa no coração do Mogwai. Elas preparam o ouvinte para a sequencia com a cortante/marcante “18 Volcanos”, um Shoegaze melancólico/hipnótico que remete ao My Bloody Valentine mas com o toque “subversivo” do Mogwai, que brinda o ouvinte com uma faceta pouco usual.

+++ Leia a crítica de As the Love Continues, do Mogwai

The Bad Fire fecha com “Fact Boy”, mais uma instrumental de andamento cadenciado e sons reconfortantes de piano e violinos cortantes, antes passando por “Hammer Room”, a canção menos marcante do disco, provavelmente composta para alguma trilha sonora que ficou de fora. Mas “Lion Rumpus” é um dos momentos intensos do álbum. A faixa é conduzida por uma cozinha poderosa ao lado de sintetizadores épicos, arpejos, riffs furiosos de guitarra em feedback e microfonia, em par com os trabalhos iniciais do M83.

Para quem ainda pensa no Mogwai como uma banda Post-Rock, não está de todo errado, pois ainda bate um coração que muitas vezes tende a seguir nesse ritmo. Mas não está de todo certo, porque esse coração muitas vezes “pulsa” num ritmo diferente e sem prejuízos, pelo contrário, salutares. Se não há em The Bad Fire uma canção que marque de primeira quanto “Ritchie Sacramento”, há um conjunto que ratifica a condição do Mogwai de banda para além da TAG usual.

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2025
GRAVADORA: Rock Action / Temporary Residence
FAIXAS: 10
DURAÇÃO: 54:51 min
PRODUTOR: John Congleton
DESTAQUES: “God Gets You Back”, “Fanzine Made of Flesh”, “18 Volcanos” e “Lion Rumpus”
PARA FÃS DE: Post-Rock, instrumentais cinematográficos

 

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2 Comments

  1. Rocque Moraes
    01/02/2025

    Parabens amigo, excelnte resenha !

  2. 03/02/2025

    Obrigado pela gentileza e pela leitura, Rocque. Abraço.

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