Fenômeno no TikTok, ‘Megan’ prova que para ser bom não precisa ser elevado


M3gan, cena do filme

Na última terça-feira (24) a cerimônia de anúncio de indicados à 95.ª edição do Oscar movimentou diversas redes sociais, locais onde vários usuários debateram sobre temas como os filmes de terror e também acerca do impacto do aplicativo TikTok na indústria do consumo e como, por consequência, o Cinema foi atingido pelo App.

O primeiro tema estava relacionado, principalmente, aos esnobes sofridos por filmes de Terror como Não! Não Olhe!, Crimes do Futuro e Pearl, levantando, inclusive, vítimas de edições passadas como Hereditário, Nós e Midsommar. Bom, se esses filmes ignorados pelo Oscar estão sendo atribuídos para fazer uma crítica a academia, é de se considerar que, para um grande grupo de pessoas, são obras de qualidade.

Cabe aqui, entretanto, um contraponto sobre esses filmes “consensos”, pois em minha perspectiva, eles abrem brechas para que uma parcela preconceituosa com cinema de Horror, ao classificá-los como ‘‘Pós-Horror’’ ou ‘‘Terror Elevado’’, desmereça o gênero e desmoralize todos os filmes que não sejam ‘‘conceituais’’ ou ‘‘de arte’’.

Dessa maneira, eu devo lançar outra luz sobre essa questão ao dizer que o ‘‘terror elevado’’ tornou-se moda. Podemos ver essa nova orientação do cinema a partir de uma grande quantidade de lançamentos em um curto espaço de tempo, obras como O Menu, Fresh, Men, Lamb, Relíquia Macabra e dentre vários outros. Esses filmes, de maneira indireta e a partir dos discursos atrelados ao preconceito estrutural com o cinema de Terror, ajudam a descredibilizar outras obras, realizações que abraçam o absurdo como Noites Brutais, Maligno e, agora, M3GAN.

Amie Donald, Allison Williams e Violet McGraw em M3gan
Amie Donald, Allison Williams e Violet McGraw em M3gan

É a partir dessa descredibilização do gênero que o TikTok também atuará, ou melhor, os críticos ao aplicativo atuarão. Nesse momento, há uma defesa sobre o Cinema estar sofrendo uma tiktoklização e, dessa forma, nada que saia da rede de consumo mais rápida da atualidade pode aparentar ser minimamente decente. A partir disso, M3GAN leva nas costas um duplo preconceito: É um filme de Terror ‘‘raiz’’ que despertou as atenções por ter um marketing no TikTok, feito através de uma dancinha ao som de ‘‘It’s Nice to Have a Friend’’ de Taylor Swift.

Para a surpresa de muitos, M3GAN é um bom filme, e o que faz dele uma boa produção é a negação ao que se encontra no Terror ‘‘de arte’’, começando pela própria figura central da história que é uma ‘‘killer toy’’, personagem tradicional do cinema ‘‘galhofa’’ de Terror da década de 1980 e 1990, que encontra pouco espaço no Terror atual.

Dando fôlego a um novo brinquedo assassino, a história feita por James Wan e Akela Cooper não se aproxima da comprometida e bem sucedida franquia da boneca vitoriana Annabelle para fazer de M3GAN apenas um ‘‘Filme B’’. Na verdade, M3GAN se apresenta como se fosse um B-side de um disco: Nós já conhecemos muito do que é apresentado, mas há algo autêntico e ao mesmo tempo descompromissado.

A direção de Gerard Johnstone, por sua vez, abraça essa abordagem de não tentar ser inovador, pedante ou falsamente profundo em suas camadas emocionais. M3GAN se aproxima das obras de ‘‘Terror Trash’’ do diretor Sam Raimi, como Uma Noite Alucinante ou Arraste-me para o Inferno, afinal, acaba por ser um filme que detém consciência do que ele é, permitindo uma maior exploração de suas limitações, que se faz propositalmente através da sátira, do humor.

M3GAN, deste modo, aposta em arcos dramáticos vazios, críticas rasas e sequências previsíveis para nos entregar a pura essência da obra: o entretenimento através da estranheza e do incômodo causado pela boneca, seja quando ela canta “Titanium” ou quando corre por uma floresta como um animal quadrúpede.

+++ Leia a crítica do filme ‘Corra, Querida, Corra!, de Shana Feste  

Em um momento crítico onde o Terror deve fazer pensar, ser próximo da realidade ou profundamente indagador a algum problema na humanidade, M3GAN é, desde o marketing às telonas, um filme de puro entretenimento, brincalhão, absurdo e nonsense.


Poster de M3gan

 

Título Original | Ano: M3gan  | 2022
Gênero: Terror, Suspense, Ficção
País/Idioma: Estados Unidos/Inglês
Duração: 1:42 h
Classificação: 14 anos
Direção: Gerard Johnstone
Roteiro: Akela Cooper e James Wan
Elenco: Allison Williams (Gemma), Violet McGraw (Cady), Amie Donald (M3gan) e outros
Avaliações: IMDB| Rotten Tomatoes

 

 

 

 


Previous 'Give a Glimpse of What Yer Not' e a receita da longevidade do Dinosaur Jr.
Next 'Babilônia' é a celebração funesta de uma Hollywood imponderável

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *