‘Ursinho Pooh: Sangue e Mel’ é tão ruim que te fará defender o fim do domínio público


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A Morte do Demônio: A Ascensão, O Urso do Pó Branco e Terrifier trouxeram o trash de volta ao mainstream. Com exceção do último, que fez bastante sucesso no streaming, os dois primeiros, surpreendentemente, chegaram até aos cinemas brasileiros, muito devido a tanto burburinho, uma visível indicação do interesse de uma parcela da sociedade sobre o subgênero. Esse cenário favorável para filmes trash se relaciona com o estranho caso do Ursinho Pooh: Sangue e Mel, mesmo que o novo filme do Pooh não seja trash e esteja, na verdade, muito longe disso.

Para início de conversa, Ursinho Pooh: Sangue e Mel é muito mais como um filme ‘‘mockbuster’’. Aos que não estão muito familiarizados com o termo, ele é usado para definir um filme realizado para capitalizar com o sucesso de um outro filme de grande orçamento. Geralmente, há inúmeras semelhanças entre eles, algo proposital, pois o mockbuster visa lucrar a partir da confusão dos espectadores. Quanto à produção, eles são extremamente baratos e, na maioria das vezes, são desenvolvidos ao mesmo tempo que a produção na qual os ‘‘inspira’’ também está em processo de gravação. Quando o ‘‘filme original’’ é lançado, o mockbuster chega em plataformas digitais, principalmente a de aluguel, para pesadelo dos desavisados.

Dada às informações, uma implicação vai vir à mente: Como Ursinho Pooh pode ser um mockbuster se não tem outro filme do Pooh, o original, nos cinemas?! Bom, isso é uma questão válida que pode arruinar todo meu argumento para alguns. Mas persisto na ideia, substituindo a hype gerado em torno de um blockbuster pela hype em torno de um personagem mundialmente conhecido que, desde janeiro de 2022, entrou em domínio público. Nesse sentido, da mesma maneira que um produtor pode ver uma oportunidade de fazer um mockbuster se inspirando em Elementos, da Disney, por exemplo, Rhys Frake-Waterfield enxergou essa oportunidade quando Pooh entrou em domínio público, anunciando o slasher pouquíssimas semanas depois, durante o ápice da discussão sobre direitos autorais.

Pensar nessa situação também causa uma outra implicação: Se mockbusters dependem da propaganda enganosa, como explicar o sucesso ‘‘legítimo’’ e de consumo autoconsciente do público do Ursinho Pooh maníaco?! É exatamente nesse ponto que eu penso na influência do Horror Trash. Isso em conjunto com a curiosidade de ver um urso que sempre foi retratado como dócil e bondoso, ganhar traços horripilantes. Dessa forma, a propaganda pode não ser enganosa no sentido de nos confundirmos com um filme original do Pooh, mas, desta vez, de nos enganarmos quanto ao conteúdo, quanto a forma. E aí entra a influência do trash.

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Simon Ellis, Jase Rivers, Craig David Dowsett, Marcus Massey em Richard D. Myers em Ursinho Pooh: Sangue e Mel (2023)

A desculpa do trash, nesse sentido, alavanca uma produção que nunca foi pensada para o ser e sim tornou-se, honraria cedida erroneamente. No trash verdadeiro, os elementos exagerados, toscos e completamente esquisitos são propositais e tais aspectos são ausentes em Pooh. O filme até tem sua intencionalidade, mas ela está muito distante do trash e se aproxima, novamente, da lógica do mockbuster. A intencionalidade é, portanto, apenas lucrar com a imagem do Pooh e, dado tal objetivo, a qualidade do filme nunca foi prioridade.

Investindo menos de US$100 mil dólares e obtendo como retorno US$5,2 milhões (até agora), Rhys Frake-Waterfield está de parabéns, pensando unicamente na lógica comercial. Enquanto diretor, o seu primeiro filme é catastrófico, horripilante, sem um pingo de inspiração, originalidade ou qualquer vestígio que indica domínio sobre algum aspecto do Cinema.

A figura do Pooh ou do Leitão não podem ser mostradas constantemente devido a caracterização ser feita com máscaras, que não chegam aos pés de assustar e incomodar como a do nosso carismático Fofão. Tais figuras sempre estão distanciadas da câmera, para disfarçar a falta de expressão que os personagens obrigatoriamente teriam que ter. Esse defeito, na verdade, é um dos menos piores apresentados pelo filme.

+++ Leia a crítica de ‘Corra, Querida, Corra’, Shana Feste

Para não me alongar muito e falar de cada aspecto negativo, vou centrar no que deve ser a principal motivação para as pessoas assistirem: as mortes. Bom, elas são igualmente tenebrosas e no sentido ruim da palavra. Waterfield parece dividido entre querer fazer algo explícito, mas, ao mesmo tempo, enfrenta limitações próprias enquanto diretor. Ele até mostra cabeças sendo esmagadas e corpos sendo açoitados, mas não existe um clima, uma atmosfera que cative o nosso sensorial para repudiarmos, compadecemos ou até mesmo nos divertimos com as cenas, tudo isso graças a sua pobre direção.

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

TÍTULO ORIGINAL: Winnie-the-Pooh: Blood and Honey
ANO: 2023
GÊNERO: Terror, Mockmuster
PAÍS: Reino Unido
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 1:24 h
CLASSIFICAÇÃO: 18 anos
DIREÇÃO: Rhys Frake-Waterfield
ROTEIRO: Rhys Frake-Waterfield, A.A. Milne
ELENCO: Craig David Dowsett (Pooh), Chris Cordell (Leitão), Amber Doig-Thorne (Alice), Natasha Tosini (Lara), Richard D. Myers (Logan) e outros
AVALIAÇÕES: IMDB | Rotten Tomatoes

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