Parece que houve uma descoberta bastante tardia sobre filmes de Terror também serem sobre problemas sociais, psicológicos e filosóficos. E isso, nos últimos anos, vêm moldando uma nova onda de realização de filmes, onde o principal interesse é o valor simbólico, este que continua sendo estruturado em alicerces clássicos do gênero, mas valoriza uma metáfora, utiliza elementos do Horror como alegoria para falar sobre algo supostamente relevante para a sociedade. Dentro dessa nova fórmula, existe uma outra particularidade que é a intergenericidade, ou seja, pegar emprestado de outros gêneros características que, por convenção, não pertencem ao terror, é o caso de Fale Comigo.
Nesse sentido, Fale Comigo se difere, por exemplo, de Morte Morte Morte (2022). Ambos falam sobre a geração Z, ambos enfatizam o poder da tecnologia na vida dos jovens. Enquanto Morte Morte Morte se constrói como um slasher bem próximo do tradicional e, devido a isso, deixa seu ‘‘tema relevante’’ de lado, e sua crítica fica espaçada na narrativa. Fale Comigo faz o oposto, ele quer falar seriamente sobre um problema e, para isso, adota elementos do drama. Nesse sentido, o filme segue um modelo do inexistente, mas popular Pós-Horror. Nessa falsa subversão, Danny e Michael Philippou fazem um Terror arrastado, que valoriza a condição psicológica de sua protagonista para, no fim das contas, usar a possessão como uma grande metáfora, seja para exibir o malefícios do uso de drogas ou das consequências de ‘‘se encaixar’’, de fazer coisas que não deseja para pertencer a algum grupo.
O problema é que, após um começo promissor, Fale Comigo não sabe sair do buraco no qual o mesmo se enfiou. Ao deixar se levar por essas novas tendências, a dupla de irmãos, ambos relativamente novos no cenário cinematográfico, demonstram a falta de capacidade de criar uma identidade própria para o filme. Desse modo, é como se estivéssemos assistindo a um resultado final de um remendo feito através da colagem de diversas produções, afinal, os Philippou vão acrescentando elementos que vão além de um levíssimo horror corporal, aderindo também a sonhos, alucinações e cenas assumidamente mais violentas. Esses recursos funcionam, por exemplo, em Noites Brutais, onde Zach Cregger usa justamente dos símbolos de inúmeros subgêneros para estimular nossa relação com a obra, brincar com nossas expectativas. Mas em Fale Comigo não há ao menos razão para isso, principalmente se considerarmos que é um filme que tenta ao máximo se aproximar do Pós-Horror, ou seja, tenta ser uma obra mais séria, algo que geralmente se traduz em suas escolhas estilísticas.
Ademais, é uma pena que o filme não aproveite de seu elenco. Há um potencial desperdiçado no grupo de adolescentes que, de uma hora para a outra, acabam se separando propositalmente para potencializar os danos psicológicos de Mia (Sophia Wilde). E também cabe evidenciar que a escolha de Miranda Otto é um tanto agridoce, por um lado, sua presença como coadjuvante dá credibilidade à produção – principalmente fora da Austrália – por outro, quando ela desaparece de cena, vai se criando um vazio um tanto incômodo, principalmente por ela ser uma figura importante momentos antes da possessão.
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Com muito hype e marketing pesado, Fale Comigo é apenas mais um filme esquecível de Terror.
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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:
TÍTULO ORIGINAL: Talk to Me
ANO: 2022
GÊNERO: Terror, Supense
PAÍS: Estados Unidos
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 1:35 h
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
DIREÇÃO: Danny Philippou, Michael Philippou
ROTEIRO: Danny Philippou, Bill Hinzman, Daley Pearson
ELENCO: Sophie Wilde (Mia), Miranda Otto (Sue), Otis Dhanji (Daniel), Alexandra Jensen (Jade) e outros
AVALIAÇÕES: IMDB | Rotten Tomatoes
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