Cheio de boas ideias, ‘Tic-Tac: A Maternidade do Mal’ perde-se ao adotar clichês de gênero


Qualquer apreciador do Cinema de Terror provavelmente já notou que, nos últimos anos, Hollywood vem abrindo muito espaço para produções que escancaram suas críticas a algo. Entretanto, não como normalmente era feito, com alegorias, metáforas e afins. No cenário atual – com bastante influência do inexistente horror elevado –, não basta, por exemplo, levar zumbis ao shopping para criticar a sociedade de consumo, é necessário incorporar, com elementos cristalinos, o que está sendo criticado. O Poço (2019), O Que Ficou Para Trás (2020), Fantasmas do Passado (2022) e Santa Maud (2019) são bons exemplos do cinema que não está interessado em deixar seu público desnorteado desde o inicio.

Tic-Tac: A Maternidade do Mal, filme de estreia da diretora Alexis Jacknow, segue o mesmo modelo. Mais que ser um filme de horror que busca falar sobre a maternidade, a produção adota explicitamente elementos que norteiam nossa compreensão sobre o que está sendo expressado. Dessa forma, não há nada metafórico em um mundo que busca representar a pressão sofrida pela mulher quanto ao seu relógio biológico, ao contrário, Jacknow não poupa que o mundo de Ella (Dianna Agron) seja cercado de micro agressões quanto a sua escolha de não ter filhos e, a partir disso, comece a incluir componentes do Cinema de Terror, principalmente do terror psicológico.

É uma pena que o filme seja tão complacente quanto a sua personagem principal quando aceita “consertar seu relógio”, sucumbindo ao interesse de ser mais comercial que autoral e, portanto, menos criativo. O que vemos, na verdade, é um afunilamento de um filme que, à medida que os acontecimentos vão se desdobrando, vai limitando-o a ser um projeto com ideias reaproveitadas e exaustivas do terror comercial. Nada é relativamente novo, tudo se torna previsível e restando 45 minutos para o final de uma produção de 1h30. Torna-se perceptível que nada mais poderia ser extraído de um filme que até se inicia de maneira promissora ao lidar com a possibilidade de ‘‘reajustar’’ mulheres com a ciência e ter boas passagens com a dinâmica familiar de uma família judia.

Por mais que não seja o papel do crítico imaginar o que um filme poderia ser, vou me conceder uma permissão para comentar brevemente sobre a dinâmica familiar, uma peça importante para a produção que é muito mal aproveitada. Como já mencionado anteriormente, Ella é de família judia e, para complicar a situação, é filha única. Vinda de uma linhagem no qual sua avó esteve em um campo de concentração, há uma percepção interessante sobre vida e fim da família, afinal, para uma pessoa ser judia, é necessário que nasça de uma mulher judia. No núcleo familiar, há uma tensão dramática aterrorizante nas cenas entre Ella, seu pai Joseph (Saul Rubinek) e seu marido Aidan (Jay Ali) e eu certamente gostaria bem mais do filme se ele seguisse por esse caminho.

+++ Leia a crítica da série ‘Gêmeas: Mórbida Semelhança’, do Prime Vídeo

Mesmo com uma ótima atuação de Dianna Agron que chama a responsabilidade de um projeto de qualidade questionável para si, Tic-Tac: A Maternidade do Mal é aquele filme típico para preenchimento de catálogo. Nem bom, nem ruim, mediano e esquecível.

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

TÍTULO ORIGINAL: Clock
ANO: 2023
GÊNERO: Suspense, Terror
PAÍS: EUA
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 1:32h
CLASSIFICAÇÃO: 12 anos
DIREÇÃO: Alexis Jacknow
ROTEIRO: Alexis Jacknow
ELENCO: Dianna Agron, Melora Hardin, Jay Ali, Grace Porter, Saul Rubinek, Laura Elizabeth Stuart e outros
AVALIAÇÕES: IMDB | Rotten Tomatoes

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