Em ‘O Assassino’, Fincher investe no minimalismo e faz um thriller apático


Michael Fassbender em O Assassino (2023)

David Fincher é referência quando se refere a thrillers e isso é um fato irrefutável. Diante de seu legado, quando sua carreira vive de constantes ápices ao realizar produções como Clube da Luta, Quarto do Pânico, Seven e Garota Exemplar, é impossível não se esperar algo tão grandioso quanto aos filmes supracitados.

A grandiosidade, no entanto, não aparenta ser a atual fase, o ritmo de Fincher nos últimos projetos. Quando me refiro à grandiosidade, não estou falando, a princípio, da qualidade de suas obras (por mais que também possa ser aplicado nesse sentido), mas ao estilo, a técnica. Fincher está mais contido, visando uma possível excelência através do uso do minimalismo.

Esse cenário é interessante, pois ele sempre foi um diretor perfeccionista e seus trabalhos tentam ser o mais bem planejado possível, pensado através de detalhes e muito controle. O Assassino dá continuidade a essa marca de Fincher, não podemos nos enganar sobre isso, entretanto, apresenta um diferencial que se torna visível a partir de Mank. Fincher tenta aplicar seu controle, sua meticulosidade em um filme que é assumidamente feito de detalhes.

Nesse sentido, essa atenção demasiada aos detalhes é assumida quando acompanhamos um assassino profissional que busca vingança. Esse assassino (Michael Fassbender) é cauteloso, silencioso e, sobretudo, paciente, espera pela oportunidade perfeita de realizar seu trabalho. Exibindo o personagem de Fassbender desse modo desde o início, Fincher faz o mesmo ao adotar a visão de seu personagem sobre o mundo. Dessa forma, se o assassino faz longas observações do bairro onde está trabalhando, Fincher nos fará conhecer também aquele território. Se o assassino é silencioso, Fincher usa diálogos apenas quando necessário para continuidade da narrativa, optando constantemente pela narração em voz-off.

Michael Fassbender em O Assassino (2023)

Esse assassino, no entanto, não é perfeito. Uma bala errada ou um cão furioso às vezes estão bem longe de seus planos, mas ele é obrigado a lidar com isso. Mesmo que o filme, dessa forma, tenha momentos onde o protagonista aparenta perder seu controle, Fincher, em contraposição, continua a mantê-lo em um controle compulsivo. E é compreensível que assim ele o faça, essa é a unidade estilística de seu filme, no entanto, essa forma aparenta deixar o ‘‘público de fora’’, justamente por estar tão investido em um mundo muito particular, privado ao personagem de Fassbender.

Mesmo que o assassino tenha uma motivação pessoal personificada em sua mulher Magdala (Sophie Charlotte), há a continuidade de uma frieza, de uma estabilidade e até indiferença que não permite uma comunicação maior com o personagem de Fassbender e, em certos casos, até o interesse pelo filme. E essa é uma consequência justamente do risco que Fincher quis correr novamente, do afastamento da emoção em prol de um racionalismo exacerbado.

+++ Leia a critica de ‘Trem Bala’, de David Leitch

É digno de crédito o que Fincher quis fazer. Para um diretor com grandes obras, é legal que ele não se coloque em uma zona de conforto, que explore suas possibilidades, busque novos horizontes ao realizar seus filmes. O Assassino é um começo de um trabalho formal que, futuramente, pode ser muito bem executado em outra produção do diretor, mas que aqui é falho.

CLIQUE PARA ASSISTIR AO TRAILER

Cartaz-de-O-Assassino-2023

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

TÍTULO ORIGINAL: The Killer
ANO: 2023
GÊNERO: Ação, Crime, Thriller
PAÍS: EUA
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 1:58 h
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
DIREÇÃO: David Fincher
ROTEIRO:Alexis Nolent, Luc Jacamon e Andrew Kevin Walker
ELENCO: Michael Fassbender, Tilda Swinton, Charles Parnell, Sophie Charlotte e outros
AVALIAÇÕES: IMDB

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