Antes que o Dinosaur Jr se tornasse Dinosaur Jr de forma definitiva e com a formação que se tornaria clássica (J Mascis, Lou Barlow e Murph), e tocando e gravando até hoje, houve a obscura Deep Wound – uma banda de Hardcore muito rápida e que chegou a gravar um EP -, onde J tocava bateria e foi a primeira experiência com Lou. Com o fim do Deep Wound, J resolveu focar na guitarra (e nos pedais!) e, junto com Lou e mais Murph, formou o Dinosaur em 1984, que posteriormente se tornaria o Dinosaur Jr., já que havia uma banda com o mesmo nome, e entraria para a história da música.
Essa e mais algumas outras histórias envolvendo o Dinosaur Jr. do alto de três décadas de carreira estão reunidas em Freakscene: The Story Of Dinosaur Jr. (2021), documentário dirigido e roteirizado por Philipp Reichenheim, cunhado de J, e cujo objetivo está definido no subtítulo: contar a história de uma das bandas mais importantes (e disfuncionais) da cena alternativa dos anos 80 e 90, num trabalho que durou mais de dez anos para ser finalmente finalizado, conforme informado pelo diretor em entrevista, e teve o apoio e produção do próprio J Mascis. O filme inclusive foi exibido no Festival In-Edit Brasil 2022.
Seguindo o padrão entrevistas, apresentações e bastidores, o filme apresenta entrevistas em momentos diversos do trio de músicos, e mais um time de convidados e figurinhas carimbadas da cena alternativa norte-americana e também inglesa: Henry Rollins (do Black Flag), Sonic Boom (do Spacemen 3/Spectrum), Kim Gordon e Thurston Moore (do Sonic Youth), Bob Mould (do Hüsker Dü), Kevin Shields (do My Bloody Valentine), Frank Black (dos Pixies), , e ainda do ator Matt Dillon, que dirigiu o videoclipe e “Get Me” (do álbum Where You Been, de 1993), Kurt Vile, e da própria esposa de J, Luisa, e mais.
Mas, diferente de muitos, e como um bom documentário de música, Freakscene: The Story Of Dinosaur Jr. mantém seu foco principal na música. E ela é o fio condutor para a narrativa que segue trajetória da banda, ao longo de 82 minutos, desde os primeiros anos até seu derradeiro álbum, na época Give a Glimpse of What Yer Not (2016). Dessa forma, passa inevitavelmente pelas brigas e desentendimentos, e pelo hiato e volta em 2005, quando a banda parece ter, enfim, encontrado uma forma de lidar com as diferenças – especialmente Lou e J – e se manter funcionando e funcional, e assim segue até os dias de hoje pela música.
Como muitas das músicas do Dinosaur Jr., o documentário tem um ritmo acelerado e não pretende se aprofundar em questões relacionadas a produção de álbum ou coisas do tipo, focando mais nas diferenças internas que levariam a separação do grupo. Aí incluindo o clima insuportável que se instaurou quando a banda teve que conviver junto por alguns dias em um hotel, após a quebra da van que os levava aos shows durante a turnê do álbum You Living All Over Me (1987); a briga entre J e Lou no palco; o ciúme de J em relação a Lou, por acreditar que ele estava guardando suas composições para o Sebadoh (banda que ele formou quando ainda estava no Dinosaur Jr.); e uma espécie de terapia em forma de entrevista conduzida por Henry Rollins antes de algumas apresentações.
Outra informação curiosa do filme é saber que Kurt Cobain convidou J para se juntar ao Nirvana, prontamente recusado pelo guitarrista: “Não pensei nisso. Nos éramos muito mais conhecidos do que eles”, afirma J.
É interessante perceber a influência que o grupo de Amherst (Massachussets) exerceu no Grunge e também no Shoegaze, através de uma das bandas fundamentais desse gênero o My Bloody Valentine e seu guitarrista, Kevin Shields, ou do Sonic Youth, com quem excursionaram, e influenciaram na sonoridade do Dinosaur Jr. Como a mudança para Nova Iorque ajudou a impulsionar a carreira da banda. Ou como J optou por tocar uma guitarra Fender Jazzmaster, que se tornou uma espécie de marca registrada, e não uma Stratocaster, simplesmente por não ter condições financeiras. Ou, ainda, quando J procurou um guru espiritual. Mas há muito mais aqui.
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Apesar do foco na música, o documentário é pouco abrangente e deixa de entrevistar vários outros músicos que fizeram parte do Dinosaur Jr., bem como nem chega a citar o próprio Sebadoh, de Lou, ou mesmo os projetos paralelos de J. No fim, acaba soando como um trabalho de fã para fãs, com muitas lacunas a serem preenchidas pelos próprio telespectador, conforme disse o próprio diretor, e quem desejar conhecer melhor a banda deve buscar informações mais aprofundadas por outros meios. Apesar disso, é um bom (e cru) resumo da trajetória dessa barulhenta banda, regado a muita música e muitos registros de shows preciosos,
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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:
TÍTULO ORIGINAL: Freakscene: The Story Of Dinosaur Jr.
ANO: 2021
GÊNERO: Documentário, Musical
PAÍS: EUA
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 1:22 h
CLASSIFICAÇÃO: —
DIREÇÃO: Philipp Reichenheim
ROTEIRO: Philipp Reichenheim
ELENCO: J Mascis, Lou Barlow, Murph, Kim Gordon, Thurston Moore, Henry Rollins, Kevin Shields, Bob Mould e outros
AVALIAÇÕES: IMDB
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