Em meados de 2020, momento em que a pandemia havia se alastrado mundialmente e atingido a todos com golpes de angústia e medo, o quarteto bdrmm lançou Bedroom, seu álbum de estreia, e teve uma surpreendente recepção tanto de crítica quanto de público, que encontrou na sonoridade do grupo, calcada em influências tanto de bandas do Shoegaze clássico quanto do Pós-Punk, um sopro fresco de originalidade, e identificação nas letras: uma distração da tristeza da época, disse acertadamente o vocalista Ryan Smith recentemente, buscando elaborar os motivos que levaram a banda a se destacar.
Quase três anos depois, o quarteto de Hull, que tem um outro Smith na formação, Jordan (irmão de Ryan), e é completado pelo guitarrista Joe Vickers e o baterista Conor Murray, está de volta com I Don’t Know, seu segundo álbum. Entre um disco e outro, a banda mudou de gravadora, da independente e cultuada Sonic Cathedral para a (também independente, mas com maior poder de divulgação) Rock Action, comandado pelo Mogwai. A ligação com os escoceses vai mais adiante: bdrmm foi convidado para abrir alguns shows da banda de Post-Rock. E a conexão parece ter indo mais adiante, influenciando no novo álbum, que abranda as distorções, concentrando-se em ambientações. Ao mesmo tempo, enquanto avança no uso de elementos eletrônicos e camadas de sintetizadores.
No processo de criação de climas e texturas envolventes, substituem a euforia que marcou o primeiro trabalho pela criação de arranjos marcados pela densidade e uma instrumentação reconfortante e que prima pela sutileza. Essa é a sensação que percorre todo o disco: da abertura mais agitada com as batidas pesadas de “Alps” ao encerramento de uma placidez quase etérea, com a devidamente nominada “A Final Movement” – com camadas de teclados que remetem a “The Carnival is Over”, do Dead Can Dance. Observa-se uma coleção de canções que se encadeia de forma precisa e em alternância de movimentos. Embora funcionem de forma isolada, é no conjunto do disco, com a audição sucessiva que é possível perceber a coesão do novo trabalho dos ingleses.
Dentro desse microcosmo, é possível encontrar referências bastante explícitas ao Radiohead/Thom Yorke, em faixas como a sincopada “Hidden Cinema” ou “It’s Just a Bit of Blood”, onde peso e ambientações encontram seu espaço; e de Krautrock, na famigerada batida Motorik de “We Fall Apart”, onde os vocais ecoantes surgem em camadas, aumentando e diminuindo para puxar o ouvinte cada vez mais pra dentro da canção, que tem versos curtos e repetitivos.
O Shoegaze e o Dreampop seguem presentes no coração do grupo, aqui em forma de referências menos diretas, num nível quase abstrato, como em “Be Careful” – de ritmo e elementos incomuns para os dois gêneros citados. Se há uma faixa em que o grupo acena para a sonoridade do disco de estreia é “Pulling Stitches”, quando as guitarras rangem alto e a distorção surge no modo de quase soterramento, enquanto Ryan canta sobre chances perdidas: “Por que isso parece / Como um sonho? / Uma terceira, segunda chance / Simplesmente não parece real / A primeira / Nós perdemos / Os tempos / se foram”.
+++ Leia a crítica de ‘As The Love Continues’, do Mogwai
Há um processo evolutivo e de transição, que abandona o mais característico de antes para seguir em busca de novas possibilidades, sem necessariamente estar filiado a gêneros ou rótulos musicais específicos, e essa é a grande virtude do bdrmm em I Don’t Know, apesar de mais próximos do Post-Rock e do cinematográfico.
FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:
ANO: 2023
GRAVADORA: Rock Action Records
FAIXAS: 08
DURAÇÃO: 41:09 min
PRODUTOR: Alex Greaves
DESTAQUES: “We Fall Apart”, “Hidden Cinema”, “A Final Movement”
PARA FÃS DE: Post-Rock, Shoegaze
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