Marcado por perdas, ‘Songs of a Lost World’ é o disco mais pessoal do The Cure


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Foto: Capitol Records

Décimo quarto álbum da carreira do The Cure, ‘Songs of a Last World’ foi todo escrito por Robert Smith e traz letras bastante pessoais

Com mais de quatro décadas de existência, o The Cure tem uma rica e bem documentada trajetória musical e extra musical. Com Songs of a Lost World, seu mais novo álbum, eles escrevem um novo capítulo: é a primeira vez que o grupo entra em um hiato discográfico de 16 anos. Talvez o último, já que Robert Smith anunciou que no simbólico ano de 2029 encerrará a carreira – o músico completará 70 anos de idade, e o The Cure 50 desde o lançamento de seu primeiro álbum, Three Imaginary Boys.

Trabalho a muito anunciado, Songs of a Lost World cumpre a tarefa de recolocar o The Cure em uma posição que parecia não mais possível, de compor um álbum no mínimo instigante e a altura de seus mais significativos trabalhos, podendo ser tranquilamente colocado entre os três álbuns escolhidos por Smith para compor o projeto Trilogy: Pornography (1982), Disintegration (1989) e Bloodflowers (2000), pela ligação que existe entre eles.

Esse direcionamento para canções longas, densas e repletas de camadas de teclados já era percebido no adiantamento de algumas das novas canções ao longo da sua de seus derradeiros shows e da Tour of a Lost World: “Alone”, “And Nothing Is Forever” e “I Can Never Say Goodbye”.

Repleto de atmosferas gélidas e instrumentação de tom entre o melancólico e o introspectivo, esse é um trabalho que pode ser considerado, desde já, liricamente o mais confessional de toda a carreira do The Cure. Smith canta sobre lembranças com o pai, a perda do irmão e também da mãe, momentos de sua infância e até mesmo do seu cotidiano, avançando ainda sobre temas como finitude, guerra, despedida e até mesmo sobre a sua posição de líder de uma banda aos 65 anos, algo talvez impensável lá no início, mas principalmente sobre solidão.

A capa do disco traz a escultura Bagatelle, do artista esloveno Janez Pirnat. “Alone”, faixa que abre o disco, tem inspiração num poema do escritor inglês Ernest Dowson. Escolhida para ser a primeira faixa de Songs of a Lost World, por ter, nas palavras de Smith “desbloqueado o disco”, fala sobre solidão e também sobre encerramento, seja de ciclos ou da própria existência. Apesar de colocada no início do álbum, caberia facilmente como encerramento, já que sua letra diz: “Este é o fim de cada canção que cantamos, sozinhos”. Ela se conecta com os versos presentes no encerramento, com a longa “Endsong”: “Deixado sozinho sem nada no final de cada música”.

É fácil perceber que a solidão é o tema mais recorrente no disco – está presente até quando Smith canta sobre o amor na belíssima “The Fragile Thing” -, combinando com a sensação de introspecção provocada pela sonoridade de grande parte das canções.

Apesar desse clima lento/longo/denso, típico de Disintegration/Bloodflowers, ao longo de vários momentos do álbum (quase como um upgrade destes), “Drone: Nodrone” foge do contexto geral. A canção é um Rock ao estilo do The Cure, e soa como uma releitura para “Never Enough”. Pesada, com uma linha de baixo distorcida poderosa conduzindo o arranjo, oferece a oportunidade para o “novato” Reeves Gabrels – esse é o seu primeiro álbum do guitarrista com o The Cure – recobrir o arranjo com riffs embebidos em distorção e wah-wah em profusão, como Porl Thompson fez na faixa de 1990. “All I Ever Am”, sobre envelhecimento, insegurança e lembranças, é o outro momento mais “relax” do disco, apesar dos versos um tanto sombrios.

+++ Leia a crítica de ‘Disintegration’, do The Cure

Da perspectiva do hoje, ninguém imaginaria que o The Cure levaria tanto o tempo para lançar seu novo álbum, talvez nem a própria banda, alguns até se perguntavam se de fato o álbum seria lançado. A espera valeu a pena, Songs of a lost World é o melhor álbum da banda desde Wish (1992), trazendo canções que agradarão em cheio aos fãs do The Cure fase Disintegration (1989), mas também com qualidades que não deixarão desamparados aqueles que preferem outras fases do grupo.

Com outros dois álbuns prometidos para breve, o The Cure colocou o sarrafo para si mesmo num nível bem elevado e difícil de ser superado.

"Alone", do The Cure, está em nossa Playlist de 2024

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2024
GRAVADORA: Fiction Records
FAIXAS: 08
DURAÇÃO: 49:14 min
PRODUTOR: Robert Smith e Paul Corkett
DESTAQUES: “Alone”, “A Fragile Thing”, “I Can Never Say Goodbye”.
PARA FÃS DE: The Cure, Pós-Punk

 

 

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2 Comments

  1. Rocque Moraes
    06/11/2024

    Não estará entre os melhores do Cure prá mim, mas é um The Cure !!! porem ele se torna “incrivel” considerando o hiato enorme e tanto tempo na estrada, pouquissimas bandas conseguem o que eles conseguiram nesse disco. Bob Smith genial !!!

  2. 07/11/2024

    Do que a banda lançou de 1989 pra cá ele está entre os melhores. Em relação à discografia como um todo, já é outra conversa. Obrigado pelo comentário!

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