Lançado em 26 de agosto de 1985, The Head on The Door é o sexto álbum do The Cure, ele marca o retorno do baixista Simon Gallup (que saiu após o álbum Pornography), do guitarrista Porl Thompson que esteve brevemente com a banda em seus primórdios, e a estreia do baterista Boris Willians (The Thompson Twins), que junto com Robert Smith e Lou Tolhurst, viria a ser uma das formações mais duradouras do grupo, e não só isso, responsável por expandir o nome The Cure ao lançar alguns dos álbuns mais aclamados do grupo, a começar por este, que traz uma de suas canções mais conhecidas, “In Between Days” (também escrita como Inbetween Days ou In-Between Days), faixa marco na carreira do grupo, principalmente nos Estados Unidos.
Após um período traumático, que culminou na desastrosa e destrutiva turnê de Pornography e o quase fim do grupo, Smith resolveu “brincar” com a música pop, lançando alguns singles mais alegres, fugindo da trilogia sombria lançada entre 80 e 82 (17 Seconds, Faith e Pornograhy), e que viriam a fazer parte da coletânea Japanese Whispers. E enquanto tentava colocar a “cabeça no lugar” (sim, isso é uma piada!), juntou-se a Siouxsie and The Banshees em turnê. De quebra, criou um projeto The Glove com Severin (baixista de SATB). Desse período, o resultado foram três álbuns de estúdio: Hyaena, Blue Sunshine e The Top, que marcou o retorno definitivo de sua banda principal com um álbum consistente.
Enfim com uma formação completa, que levou Smith a afirmar em entrevista ao semanário Melody Maker: “It’s a group again” (Somos um grupo novamente), o The Cure daria início a sua fase áurea. Para quem busca enigmas ou significados nas letras, é como se os versos finais de The Top, na faixa homônima estivesse se concretizando, já que Smith canta: “Please come back, all of you”. Em mais de uma entrevista ele deixou transparecer essa sensação empolgante de ter novamente uma banda consigo, afirmando: “Era como estar nos Beatles – e eu queria fazer música pop substancial, no estilo de ‘Strawberry Fields Forever’. Queria que tudo fosse bem contagiante”.
A abertura do álbum com “In Between Days” acaba sendo então sintoma desse momento menos pesado pelo qual Smith e banda estavam passando, pelo menos musicalmente. Pontuada por violões efusivos e teclados marcantes, a canção tem um clima bem pra cima, e letra é pra baixo: “Ontem eu me senti tão velho que pensei que poderia morrer, ontem me senti tão velho que isso me fez chorar”. O que não impediu de ser um grande sucesso na época, perdendo apenas para “Close to Me” (em termos deste álbum), e assim permanecendo até hoje, uma olhada na página do grupo no Spotify mostra isso.
The Head on the Door mostra um The Cure eclético, aberto a influências diversas, indo das já bastante comentadas influências de música flamenca em “The Blood” e oriental em “Kyoto Song”, passando pelo pop dos anos 60 transmutado para os 80 em uma faixa que ao mesmo tempo soa disco com clima de cabaré, na estrondosamente bem sucedida “Close to Me”, faixa que ganhou um clip claustrofóbico – com a banda espremida dentro de um guarda roupas jogado ao mar – pelas mãos de Tim Pope , que também dirigiu o de “In Between Days”, ambos com alta rotação na MTV. Essa presença imagética ajudou a alicerçar o crescimento da banda mundialmente.
O grupo revisita os mesmos elementos pop de canções como “The Lovecats”, no pop de tons psicodélicos de “Six Different Ways” e enfia um inesperado solo de sax em “A Night Like This”, cortesia de Ron Howe, da banda Fools Dance. “Push” é outro bom momento do disco, com um formato direto e um arranjo que poderia ter sido melhor desenvolvido, já que tem um potencial incrível, a faixa tem uma progressão de acordes e um baixo contagiante, e estrutura que se assemelha ao que viriam a fazer com mais sucesso em “Just Like Heaven”.
Enquanto isso, “Sinking”, uma das melhores e mais para baixo dentre as faixas do álbum (nas palavras de Smith, sobre desespero, envelhecer e se tornar menos confiante) tem densidade, camadas de teclado e trabalho de guitarras que apareceriam efusivamente dali a quatro anos, em Disintegration. O próprio tema da canção se aproxima dos que são tratados no álbum de 89: “Eu estou desacelerando / À medida que os anos passam / Eu estou afundando / Caçoando de mim mesmo/ Como todo mundo… Eu me agacho com medo e espero / Nunca mais sentiria /Se eu pudesse, se eu pudesse, se eu pudesse / Me lembrar de qualquer coisa”.
Produzido por Robert Smith e David Allen e gravado nos estúdios Angel, Townhouse e Genetic, The Head on the Door também quebrou outros dois paradigmas, foi o primeiro álbum que teve dois singles (“In Between Days” e “Close to Me”) e também foi o primeiro que não foi lançado em abril ou maio, como de costume em outros trabalhos.
Sucesso internacional, com o semanário Melody Maker elegendo álbum do ano, chegou ao Top 10 na parada britânicas e ao Top 100 na americana. Ele abriria caminho para o lançamento da coletânea Standing on a Beach (1986) [outro sucesso grandioso], e para uma turnê de sucesso, com destaque para o show em Paris, em 1986, capturado no vídeo In Orange, dirigido por Tim Pope.
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Rememorando a sensação com The Head on the Door, Smith afirmou que “Tudo que eu tinha sonhado em fazer estava dando frutos. De repente percebi que havia um número infinito de coisas que poderia fazer com a banda”.
7 CURIOSIDADES SOBRE “THE HEAD ON THE DOOR” NÃO CITADAS NO TEXTO:
– As versões demo gravadas previamente por Smith para serem trabalhadas em em estúdio foram lançadas na versão de luxo lançada em em 2005, totalizando quinze faixas, gravadas entre dezembro de 84 e fevereiro de 85;
– “Sinking” foi composta na época do álbum Pornography (82);
– Em “The Blood”, Smith canta o verso “I am paralyzed by the blood of Christ / Though it clouds my eyes / I can never stop”; na verdade ele está falando de uma experiência que teve com um vinho do Porto chamado Lágrima de Cristo, que foi apresentado por amigos;
– Durante as gravações, Tolhurst enfrentava problemas sérios com álcool, tanto que Smith chegou a comentar que: “Ele estava fora do mundo toda noite e tinha de voltar para casa de táxi”;
– “Kyoto Song” foi escrita após uma das muitas farras que Smith participou com Budgie na época do The Glove;
– “Close to Me” é a quarta música do The Cure mais ouvida no Spotify, atás de “Friday I’m in Love”, “Boys Don’t Cry” e “Just Like Heaven”; “In Between Days” é a sexta;
– Comenta-se que a base de piano usada em “Six Different Ways” é a mesma que Smith usou em “Swimming Horses” (de Siouxsie and the Banshees).
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