A música dos Smiths é, ainda, algo que penetra os corações dos espíritos atormentados da juventude como nenhuma outra. Foi assim comigo – como tem sido com muitos desde que The Smiths soa pelos ares. Os graves de Andy Rourke são, ainda, os que pulsam e vibram pelos corpos soltos do desamparo melancólico da eterna juventude.
Na composição do som da banda de Manchester, todo elemento é preciso e necessário. As linhas de baixo ocupam lugar quase de guia melódico por entre a harmonia virtuosa de Johnny Marr e o ritmo estridente de Mike Joyce. Morrissey canta com falsettos e lamentos em dosagens de desespero e delicadeza. São as baixas frequências, no entanto, que se posicionam como a espinha dorsal da cozinha soturna, quase pós-romântica, dos Smiths.
É o baixo de Andy Rourke que te faz dançar sobre as ironias e terríveis percepções da fragilidade humana das letras de Morrissey. A música de Marr só atinge o seu máximo nos contastes e contrapontos que pairam os acordes que se desenham junto às linhas de Andy.
Não são poucas as músicas em que o baixo é perceptível como componente indispensável da gravação. O que seria de “Heaven Knows I’m Miserable Now” sem as cores de tons terrosos que o baixo traz logo na introdução? Ou de “Rubber Ring”? Ou de “You’ve Got Everything Now”? Ou de “Cemetry Gates”? A dança sonora de “Barbarism Begins at Home” se solta entre as quatro cordas em um transe de Indie-Funk que é, até hoje, uma das coisas mais legais que eu já ouvi.
Andy Rourke foi essencial não só como fundamento das músicas dos Smiths, mas como uma perpetuação do que entendemos como Rock Alternativo. Na forte presença que deu às suas linhas de baixo, contribuiu para estabelecer o uso de cada instrumento naquele momento no tempo. Um momento em que as bandas Pós-Punk já faziam sons menos compenetrados. Joy Division mudou para New Order, e os Smiths ofereceram a continuidade dos instrumentos clássicos de Rock’n’Roll (guitarra-bateria-baixo) em meio à profusão de bandas usando synths.
O baixo não poderia ter assumido melhor forma do que a que foi desenhada por Andy Rourke. Ele preencheu nas quatro cordas os sentimentalismos reais e poesias sonoras de uma geração. E, como escreveu Morrissey, simpático à perda do ex-companheiro de banda: “será alguém que sempre viverá em sua música”.
“Don’t forget the songs that made you cry and the songs that saves your life”.
Não esqueceremos!
Abaixo uma Playlist com o Top 10 das linhas de baixo de Andy Rourke com os Smiths:
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