“Quando o New Model Army chegou ao ápice”
Feira de Santana, a cidade onde moro, nunca primou por coisas interessantes (entendam isso no sentido geral), em se tratando de lojas de discos nem se fala. Mas entre o fim de 80 e início dos 90 surgiram lojas que trouxeram algumas coisas bastante inusitadas. O “Bend Sinister” do The Fall, “Unknown Pleasures” do Joy Division, “Mask” do Bauhaus, “LC” do Durutti Collumn, são exemplos.
“Thunder and Consolation”, por incrível que pareça, não foi encontrado numa dessas lojas, mas na Modinha, uma loja (digamos) não especializada em pop/rock. Quando digo não especializada quero dizer que os álbuns de rock que apareciam por lá eram peças jogadas pelas prateleiras que nem os vendedores sabiam que existiam. Quantas não foram as vezes que, por brincadeira, eu perguntava por um disco que tava na prateleira e o vendedor dizia que não tinha, aí eu fingia procurar (já sabendo até onde o disco estava), depois pegava o disco e levava até o vendedor e dizia: “aqui!”.
Com o “Thunder and Consolation” foi assim.
Quando comprei o álbum, conhecia o New Model Army apenas pelo “Vengeance”, coletânea de sessões de rádio que havia saído aqui pela Stiletto. “Vengeance”, comparado com o “Thunder…” é um ábum cru, afinal são gravações do início da carreira, e feitas ao vivo. “Thunder…” é o quarto álbum do trio, um álbum rico em uso de cordas, teclados, levando a música do New Model Army para um outro patamar. Talvez por isso foi um dos álbuns da banda que obteve melhor posição nas paradas inglesas.
O discurso ácido comum nas letras do vocalista Justin Sullivan não saiu de cena em “Thunder and Consolation”, o som é que ficou mais brando, mais lapidado, em alguns momentos até épico, como na faixa “Vagabonds”, com seu violino marcante.
Coloque o álbum pra tocar e vá da primeira à última faixa sem encontrar derrapadas ao longo do trajeto, canções mais intensas, mais marcantes, mas nenhuma canção ruim. Ou seja, estamos falando de um álbum de 1989, época em que as canções eram parte do álbum, uma ideia “maior”, e não um punhado de canções para encher linguiça, algo muito comum hoje em dia, que gravitam em torno de um hit.
Não há como não viajar no tempo ao ouvir canções como a poderosa “I Love the World”, a viciante “Stupid Questions” (“Não me faça mais perguntas idiotas que você já sabe as respostas”), a climática balada “Gren and Grey” ou pulsação nos graves de “The Family”, com um baixão avassalador.
Ouvir “Thunder and Consolation” é ser transportado para uma época em que o sonho como aprendiz de contrabaixo era conseguir fazer linhas de baixo como as de Stuart Morrow (primeiro baixista do grupo) ou de Jason Harris, que foi quem tocou nesse álbum (e eu nem sabia), afinal todos sabem o quão era difícil informações nessa época.
Para muitos (eu me incluo), “Thunder and Consolation” é o melhor álbum do New Model Army, um clássico perdido dos anos 80.
Vamos lá, compre as cervejas e vamos sentar pra ouvi-lo enquanto as lembranças do passado flutuam em nossa memória, que insiste em afirmar que o passado tudo era melhor.
:: FAIXAS:
01. I Love the World
02. Stupid Questions
03. 225
04. Inheritance
05. Green and Grey
06. Ballad of Bodmin Pill
07. Family
08. Family Life
09. Vagabonds
10. Archway Towers
:: Assista ao vídeo de “Stupid Questions”:
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