Apesar da irregularidade de ‘Unbroken’, New Model Army segue cheio de “fôlego”


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NMA | Foto: Tina Korhonen

Décimo sexto álbum de carreira do New Model Army, ‘Unbroken’ acabou “espremido” entre pandemia, celebrações e álbum orquestrado

Com mais de quatro décadas e mudanças diversas em sua formação ao longo desse tempo, o New Model Army, atualmente um quinteto, segue na ativa lançando álbuns e, por que não dizer, surpreendendo. Exemplo disso é que From Here, o álbum de 2019, alcançou uma marca histórica, obtendo um 13º lugar na parada britânica, a melhor posição de todos os álbuns já lançados pelo grupo – um total de dezesseis, incluindo o essencial Vengeance (1984), coletânea de singles, e o recém lançado Unbroken.

Justin Sullivan é o nome principal por trás do New Model Army não só por ser o único remanescente da formação original, mas por ser o vocalista, guitarrista e principal responsável pelas composições do grupo. De origem essencialmente Punk, o grupo rapidamente mudou sua sonoridade para um Pós-Punk com linhas de baixo soladas à frente, e personalidade própria, ao adotar um discurso politizado – em par com nomes como Gang of Four, por exemplo.

Ao longo da carreira o NMA foi mudando sua sonoridade para uma espécie de Folk-Rock com os elementos acústicos, orquestrados, e também com guitarras pesadas surgindo de forma pontual. As letras politizadas, a pegada poderosa do baixo, as batidas fortes da bateria (espécie de DNA da banda) e a força das interpretações vocais (às vezes soando raivosas) de Sullivan para letras ácidas (ou histórias) são os elementos costumeiros numa discografia de muitos pontos altos e bastante consistência. E dentro dessa dinâmica “interna” a banda encontra forma de dar tons diversos às canções e álbuns. Diferente de bandas que com os anos parecem perder a chama inicial, o NMA consegue manter aquele fulgor inicial sempre aceso, e isso se deve à capacidade de Sullivan de não só manter sua voz “congelada no tempo” e de cantar com a mesma intensidade e paixão de outrora.

Thunder and Consolation (1989) pode ser considerado um divisor de águas na sonoridade da banda, marcando profundamente a música do New Model Army. Praticamente todos os álbuns que vieram na sequência estão conectados com ele, apesar de tantos anos de seu lançamento, e não é diferente no novo trabalho.

Soa proposital, Unbroken abre com “First Summer After”, um dos singles do álbum, e uma canção que tem todos os elementos clássicos do New Model Army: abertura com um riff de guitarra de timbre característico, a voz de Sullivan na sequência e, em seguida, os outros elementos vão se juntando, com bateria e baixo entrando no fim dando potência. E não é novidade que baixo e bateria tem papel prepoderante na música do NMA, é algo que vem desde o início da carreira e que mesmo com as mudanças sonoras, e de integrantes, se mantem até hoje.

É algo evidente na oitentista “Language”, que leva de volta àquela banda de meados dos anos 80. A pegada percussiva de “Reaload” também faz ponte com os idos 80, de imediato remete a “Inheritance” (do álbum de 1989), só que enquanto esta última era uma espécie de Rap torto só com bateria, voz e um piano econômico, aqui eles trataram de fazer um arranjo mais rebuscado, que inclui teclas atmosféricas, baixo e distorção.

Em “I Did Nothing Wrong”, há que se prestar atenção em como a mixagem de Tchad Blake “brinca” com os recursos de estúdio nos momentos iniciais, enquanto Sullivan canta sobre os riscos da tecnologia, narrando o escândalo nos Correios do Reino Unido, em que milhares de donos de franquias foram condenados (e alguns presos) por fraude, por um erro no programa de computador. Inclusive esse acontecimento é o tema da série britânica Mr. Bates vs The Post Office. A faixa tem o trabalho de guitarra mais interessante do álbum, com solos de guitarra furiosos.

A atmosférica “Cold Wind” é o momento balada inevitável em álbuns do NMA, e é uma bonita faixa, com linha de baixo poderosa e adornada por violoncelos. Em “Coming or Going” a sensação é de influência do Grunge na música do NMA, um grupo alheio a modismos e cuja música existe dentro de um “universo próprio”. Os riffs graves de guitarra/baixo e a progressão de acordes no refrão de pronto remetem a algo do Nevermind (1991), do Nirvana, e é o momento mais inusitado do disco.

Em termos de composições, é inescapável e evidente como muitos arranjos estão centrados no lado mais percussivo/tribal, na bateria de Micheal Dean, tanto na já citada “Reaload”, mas também em “If I Am Still Me” (sobre o poder de corromper do dinheiro) – “Se eu tiver que ver outro maldito sindicalista/voando sob ordens do governo/vou ficar doente” -, “Legend” e na esotérica “Idumea”, que ganha um coral gospel, toques folclóricos soa como uma aventura pela Word Music.

+++ Leia a crítica de ‘From Here’, do New Model Army

Unbroken começou a ser gestado em 2021, mas teve suas gravações interrompidas pela preparação da banda para os shows de celebração dos 40 anos, postergados por conta da pandemia, e também pelas gravações do álbum acústico (lançado em 2023). Esses contratempos talvez expliquem a de falta de uniformidade do álbum no todo. Ainda que algumas canções consigam certa conexão, no todo é um álbum em que o New Model Army aponta para várias direções, diferente de seus trabalhos anteriores, que soam bem mais focados.

"First Summer After" também está em nossa Playlist de 2024

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2024
GRAVADORA: earMUSIC
FAIXAS: 11
DURAÇÃO: 45:15 min
PRODUTOR: New Model Army
DESTAQUES: “First Summer After”, Language”, “I Did Nothing Wrong”, “Cold Wind”
PARA FÃS DE: Pós-Punk, Folk-Rock, New Model Army

 

 

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