El Perro del Mar confronta a dor da perda no assombroso ‘Big Anonymous’

Em ‘Big Anonymous’, oitavo álbum sob a alcunha de El Perro del Mar , Sarah Assbring se debruça sobre a efemeridade da vida e a dor do luto

A experiência de ouvir Big Anonymous, o oitavo álbum do El Perro Del Mar, projeto da sueca Sarah Assbring, é nada menos do que avassaladora, e talvez poucos estejam preparados um encontro com essas composições tão devastadoras lírica e musicalmente falando.

As dez faixas que formam o novo disco foram compostas originalmente para uma apresentação no Royal Dramatic Theatre de Estocolmo, e daí surge a explicação para a sensação de uma trilha sonora imersiva e densa no percurso do disco.

Big Anonymous é uma experiência sonora quase cinematográfica, que busca em cada mudança de faixa tocar o âmago do ouvinte com sentimentos que vão da completa desolação à intensa reflexão através de arranjos lentos, conduzidos por uma instrumentação minimalista, mas ao mesmo tempo atmosférica e envolvente, e completada pela voz quase etérea da artista e letras repletas de frases que queimam. Os títulos das canções entregam um pouco do conteúdo.

Sarah canta cada canção com o “coração na mão”, e discorre sobre a efemeridade da vida, a dor da perda e a necessidade de valorizar as pequenas coisas – exemplo disso é a emocionante “One More Time”, onde implora: “Me dê mais uma vez / Só mais uma vez/ Com você / Por favor, me perdoe / Por ter outra coisa / Em minha mente / Além de você”.

A artista perdeu várias pessoas próximas, e o luto está refletido nas opções artísticas para o álbum. A própria Sarah confessou que se sente atraída pelo sentimento de melancolia. A ideia que ela pretendia para o trabalho foi perfeitamente captada pelos seus colaboradores Jacob Haage (parceiro de longa data e principal colaborador musical) e Petter Granberg, responsáveis pelos sintetizadores.

Construído a partir de camadas de sintetizadores, batidas ecoantes,  e elementos orquestrados, Big Anonymous é uma obra ao mesmo tempo atraente e assustadora. Musicalmente se distancia por de tudo que a artista já fez até aqui com o seu projeto, cuja sonoridade nunca esteve presa a gêneros musicais em específico. O novo álbum marca um momento único na carreira do El Perro del Mar, que já havia mostrado o anseio por mudanças em singles lançados anteriormente, como “Broder” (2018) e “Please Stay” (2019).

A primeira parte do álbum é formada por um bloco espesso quase intransponível, calcado em experimentações – comandado pela sufocante “Suburban Dreams” e a assustadora “Cold Dark Pond”, onde ela parece dialogar com a figura paterna sobre sentimentos herdados: “Você tem a mesma escuridão que eu…Eu coloquei isso em você”.

Na segunda parte há canções menos experimentais e com formatação mais acessível, iniciando com “Between You and Me Nothing” e finalizando com a dolorosa “Kiss of Death”, onde Sarah canta sobre a dor da perda e a aceitação.

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Longe dos padrões convencionais da música pop, Big Anonymous é uma obra que requer atenção e audição cuidadosa. Quem se dispuser a isso, encontrará um álbum sublime, apesar de toda a dor que transborda.

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