Apesar do medo de errar, Coldplay abraça a World Music brilhantemente em ‘Everyday Life’


Coldplay-Everyday Life
Foto: Tim Saccenti

Disco duplo, ‘Everyday Life’, oitavo álbum do Coldplay,  toca em temas mais abrangentes e difíceis de serem abordados

Talhado forçosamente como álbum duplo, dividido nas partes “Sunrise” e “Sunset”, apesar da duração de um álbum simples, Everyday Life, o oitavo trabalho do Coldplay, uma das bandas britânicas mais bem sucedidas dos últimos anos, deixa um pouco de lado as inclinações mais pop e dançantes dos últimos álbuns em busca de novos caminhos e experimentos.

Esses novos caminhos surgem através da parceria da banda com artistas paquistaneses e nigerianos, fazendo a banda passear por paisagens persas, budistas, árabes, norte americanas, com uma sonoridade pungente que remete a Paul Simon, U2, Peter Gabriel, e só perde força quando a banda veste novamente a melancolia que sempre lhe caiu bem, porém sem a mesma inspiração dos primeiros álbuns.

Outro ponto de destaque em Everyday Life são as letras que, diferentemente dos outros trabalhos, tocam em temas mais abrangentes e difíceis de serem abordados como a intolerância religiosa em “Church”, racismo e violência policial em “Trouble In Town”, discriminação contra refugiados na excelente “Arabesque”, crítica antiarmamentista em “Guns” e as mazelas da guerra na Síria em “Orphans”.

Para desviar o foco e não pesar demais nos discursos político/sociais, obviamente a banda também navega por temas mais amenos. Quando versa sobre questões mais íntimas e melancólicas como o abandono parental na cortante balada “Daddy”, ou descreve uma amizade inabalável em “Old Friends”, ou emula um africano com saudades da sua terra natal em “Èkó”.

Fora da curva, temos ainda os corais gospel de “Broken” e “When I Need A Friend”, o manifesto lo-fi de “WOTW/POTP (Wonder of The World/Power To The People)” e a baladinha inusitada de sonoridade cinquentista “Cry Cry Cry”.

Como em quase todo álbum que se propõe a ser mais grandioso do que realmente é, Everyday Life também acaba se perdendo em algumas faixas instrumentais belas porém dispensáveis (“Sunrise” e “بنی آدم”) e termina sem o mesmo frescor inicial com duas faixas, que apesar de corretas e bem executadas, são liricamente inofensivas e exercitam a fórmula de fazer canções fáceis e comerciais dentro do já consagrado estilo da banda.

Assim, “Champion of The World” e “Everyday Life” encerram o álbum trazendo o Coldplay que todos conhecem, e embora isso não seja algo ruim, acaba frustrando um pouco a expectativa pelo final apoteótico que a própria banda parecia anunciar com suas diferentes incursões sonoras e temáticas iniciais.

+++ Leia a crítica de ‘All This Life’, do Starsailor

Embora este álbum seja uma grata surpresa e consiga tirar a banda do marasmo criativo confortável no qual se encontrava, talvez um pouco menos de medo de errar tivesse sido fundamental para que o Coldplay finalmente atingisse o tão desejado patamar de maior banda do mundo, mas infelizmente ainda não foi dessa vez, fica pra próxima.

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2019
GRAVADORA: Parlophone / Atlantic
FAIXAS: 10
DURAÇÃO: 53:35
PRODUTOR: Rik Simpson, Dan Green, Bill Rahko, Angel Lopez, Federico Vindver, Max Martin
DESTAQUES: “Church”, “Trouble In Town”, “Daddy”
PARA FÃS DE: Coldplay, U2, Paul Simon, World Music

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