‘Phrenology’, álbum clássico do The Roots, celebra duas décadas


The Roots em 2002
Foto | Malcolm Beckford

Fruto da efervescente e multifacetada cena nova-iorquina dos anos 90, o The Roots é um dos melhores expoentes da cena Rap norte-americana de ontem e de hoje. Dono de uma sonoridade versátil, o grupo é um ponto fora da curva não só por mesclar ritmos diversos, mas também por apostar numa sonoridade mais orgânica.

Liderado pelo baterista, produtor, escritor, diretor e podcaster Ahmir Khalib Thompson (?uestlove), junto a Tariq Luqmaan Trotter (o MC Black Thought), o grupo tem em sua discografia uma série de trabalhos elogiados que figuram no seleto hall de discos que ajudaram a moldar a cultura Hip Hop. Nesta seara, um dos mais celebrados é Things Fall Apart (1999), registro que chegou a figurar na parada de sucesso da Billboard e rendeu-lhes o primeiro Grammy por “Melhor Performance em Duo ou Grupo de Rap” com “You Got Me” (parceria com Erykah Badu).

O sucesso do disco fez com que se alimentassem expectativas, por parte do público e da crítica, sobre qual seria o próximo passo a ser dado pelo grupo. Três anos mais tarde, lançariam aquele que seria o seu melhor e mais versátil disco: Phrenology (2002).

Produzido pela própria banda, junto com ícones da cena Hip Hop como DJ Scratch, Karriem Riggins e Scott Storch, Phrenology é um disco abrangente cuja abordagem temática traz reflexões profundas sobre a vida e as adversidades que temos que enfrentar diariamente.

O título, por sua vez, faz alusão a frenologia, pseudo estudo científico que era usado para determinar a inteligência e o caráter humano a partir do formato da cabeça. Tal premissa foi usada, erroneamente, para racionalizar o racismo no século XIX nos Estados Unidos.

Capa de Phrenology, do The Roots

Musicalmente, o grupo promove uma miscelânea de sons que vão além do Rap, unindo o Rock ao Soul, passando pelo Hardcore/Punk, o Jazz e o Techno. Tamanha versatilidade permitiu que saíssem de sua própria bolha, fazendo com que singles como “The Seed (2.0)” (parceria com Cody ChesnuTT) chegasse a públicos mais segmentados como o das rádios orientadas ao Rock convencional.

No hall das participações especiais, além de Chesnutt, contribuíram para o resultado final um time diversificado de artistas como as cantoras Jill Scott (em “Complexity”), Nelly Furtado (“Sacrifice”), Ursula Rucker (“Phrentrow” e “WAOK (Ay) Rollcall), mais o rapper Talib Kweli (“Rolling With the Heat”), o cantor Musiq (no single “Break You Off”) e o escritor Amiri Baraka, que participa da belíssima faixa “Something in The Way of Things (In Town)”, que versa sobre as agruras da vida sob a perspectiva de um afrodescendente norte-americano.

+++ Leia na coluna Prazeres Plásticos sobre os trinta anos de ‘Check Your Head’, do Beastie Boys

Ao longo de mais de 35 anos de estrada a banda produziu uma série de outros discos de mesma relevância como Game Theory (2006) e How I Got Over (2011), mas Phrenology, mesmo vinte anos após o seu lançamento, segue como disco de referência para ouvintes entusiastas da boa música, numa clara amostra de que a ousadia sonora pode render bons frutos.


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