‘Wakanda para Sempre’ atesta as muitas mortes do ator Chadwick Boseman


Still de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre

Nos últimos momentos do excelente Pantera Negra (2018), o Rei T’Challa, em um arroubo de boa fé (ou inconsequência), surpreende a todos numa reunião da ONU com a revelação de que a nação mais avançada do mundo é uma nação subestimada africana, lançando os olhos do mundo para Wakanda.

Estabelecia-se ali, após os créditos finais, um personagem de importância incomensurável para muito além das telas. Surgia uma representatividade atrasada e urgente, pelos anos sufocada e travada nas engrenagens do grande sistema de entretenimento. Surgia um símbolo com peso real, totalmente diferente de todos os outros heróis que povoavam as telas e o imaginário popular até então.

Depois disso, muita coisa mudou no mundo real. A doença que lamentavelmente levou à morte prematura do ótimo ator Chadwick Boseman foi o pontapé inicial de uma série de mortes conceituais e simbólicas que se seguiram diante de tudo que o primeiro filme havia significado para o público, reverberando finalmente no resultado do que é apresentado neste aguardado segundo filme.

Still de Wakanda para sempre
Angela Bassett, Isaach De Bankolé, Florence Kasumba, Danai Gurira e Dorothy Steel em ‘Pantera Negra: Wakanda para Sempre’

Neste sentido, Wakanda Para Sempre escanteia o conceito do herói infalível e destemido, talhado no primeiro filme para tornar Chadwick insubstituível. O que vemos é uma diluição do protagonista que havia sido construído anteriormente, para que paire no ar uma irremediável sensação de falta.

A tarefa árdua do diretor Ryan Coogler foi de equilibrar a pressão dos estúdios Marvel, com suas regras e receitas prontas para blockbusters, com a homenagem ao ator/amigo que se foi, e dar continuidade, com alterações drásticas de foco, ao que havia sido proposto no filme anterior.

Na história, enquanto o mundo inteiro tenta obter acesso ao vibranium, material raríssimo responsável por toda tecnologia de Wakanda, uma sonda descobre a existência abundante desse material perdido nas profundezas do oceano. Porém, misteriosamente, tripulações inteiras se suicidam ao se aproximar da área.

Entre erros e acertos, podemos dizer que o filme cumpre com maestria a ser quase tudo ao que se propõe.

Entre os erros, notamos uma mão mais pesada do estúdio em algumas decisões ruins. Como exemplo, a introdução forçada de uma personagem mal desenvolvida, que seria supostamente a sucessora do Homem de Ferro, ou a inclusão de cenas de ação inconclusivas, apenas pelo espetáculo visual.

Still do filme Wakanda para Sempre

Entre os maiores acertos: o apelo emocional bem dosado e pouco manipulativo, a apresentação de um “vilão” muito interessante e que carrega toda a carga de representatividade que o filme precisava. Os figurinos e o design de produção afro futurista enchem os olhos novamente, e a direção amarra todas as pontas frouxas com muita assertividade.

+++ Leia a crítica do filme ‘Pantera Negra’ (2018)

Porém, um ponto que contribuí tanto para o bem quanto para o mal é a diluição do protagonismo. Se por um lado é bom que se tenha a percepção da falta do herói, por outro essa apatia proposital afasta o público de uma das principais questões que o filme tenta responder: quem sucederá o rei morto?

O orgulho de vestir a armadura do Pantera Negra agora aparece como um peso, uma dúvida, um fardo. E quando a resposta finalmente surge, mesmo com tantas boas opções, acaba não impactando tanto e se torna bem menor do que a ausência sentida pelas muitas mortes de T’Chala/Boseman.


Poster do filme Wakanda para sempre

MAIS INFORMAÇÕES:

Título Original | Ano:  Wakanda Forever  | 2022
Gênero: Ação, Aventura, Herói
País: EUA
Duração: 2:41 h
Direção: Ryan Coogler
Roteiro:Ryan Coogler e Joe Robert Cole
Elenco: Letitia Wright, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Winston Duke, Angela Bassett, Tenoch Huerta, Martin Freeman e outros
Data de Lançamento: 10 de novembro de 2022 (Brasil)
Censura: 12 anos
Avaliações: IMDB | Rotten Tomatoes

 

 


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