O legado dos Racionais em ‘Racionais – Das Ruas de São Paulo pro Mundo’

A década de 90, para a música nacional, é geralmente lembrada por ser o período em que a mistura de gêneros atingiu o seu ápice. São desta época, por exemplo, discos essenciais como Usuário (Planet Hemp), Calango (Skank) e Afrociberdelia (Chico Science e Nação Zumbi) que cada um à sua maneira soube levar o Rock nacional a novos patamares.

Mas se o Rock vivia momentos de efervescência, o Rap, literalmente, comia pelas beiradas e começava a construir uma cena solida, protagonizada por nomes como Xis, Sabotage e, principalmente, pelos Racionais MC’s. Se antes a periferia não podia ter a sua voz ouvida nas rádios brasileiras, aquela década foi o momento de guinada, onde a MTV e mídia especializada vislumbraram algo que não poderiam mais ignorar.

Em sua essência, o grupo primou por trazer um retrato visceral da realidade da periferia. Tal artificio, ao ser alinhado aos versos mordazes de Mano Brown, Ice Blue e Edi Rock e aos beats criativos de DJ KL Jay, fez com que ganhassem o status de maior grupo do Brasil.

Nos últimos anos, iniciativas literárias escritas por Maik Antunes (“A Cor e a Fúria”), Acauam Oliveira (responsável pela introdução do livro com as letras de “Sobrevivendo no Inferno”) e Arthur Rocha (que escreveu sobre o mesmo disco na série “O Livro do Disco”) são bons exemplos de análises que conseguem dar dimensão sobre o legado do grupo, mas faltava um documentário que consolidasse de maneira audiovisual a história do grupo.