Apnea revitaliza o Stoner Rock fugindo de clichês em ‘Sea Sound’


Sea Sound, do Apnea

Quando se junta músicos veteranos da cena santista – tradicional celeiro Hardcore brasileiro – imediatamente imaginamos algo extremo: Hardcore, Grind, Thrash ou Crossover.

O Apnea, projeto encabeçado pelo Maurício Boka (ex-Psychic Possessor, Ratos de Porão) e Marcus Vinicius (ex-Safari Hamburguers, ex-Bayside Kings) contrariam a lógica esperada e entregam um dos mais significantes álbuns da música pesada em 2022, apostando num ‘rockão pesado’, conforme a própria banda auto intitula seu som. Ou, se preferir, Stoner Rock.

O Stoner Rock pode ser entendido como uma adaptação da gênese da música pesada (Led Zeppelin, Black Sabbath, Blue Cheer, Hawkwind e outras) para uma nova geração de ouvintes. Bandas como Fu Manchu, Monster Magnet, Kyuss e até o Soundgarden acabaram revitalizando aquele som e abrindo proposta para as cenas posteriores, com bandas como Sleep, ASG, Cave In e outras. Aos poucos, elementos de Acid Rock, Psicodelia e Punk foram sendo incorporados, condensando várias influências no estilo.

Mas não é justo reduzir o som do Apnea ao mínimo múltiplo comum do Stoner Metal. A banda soube extrair dessas influências setentistas, noventistas e contemporâneas o peso e a melodia, mas identidade é algo que se conquista, do contrário tudo seria mera cópia. E identidade é a primeira das características que impressionam no som da banda em Sea Sound (Peculio Discos), o primeiro álbum do Apnea, lançado esse ano.

Apnea, destaque resenha de 'Sea Sound'

Outro detalhe impressionante: a produção do álbum é impecável! As guitarras são altas, claras, com timbres muito bem definidos e riffs. MUITOS riffs. Fernando Zambeli (ex-Garage Fuzz) e Marcus Vinícius têm a competência de entregar muita melodia e peso, porcionados na medida correta. Os solos são competentes, vide “Outside”, ou a maravilhosa “Deepness”. A bateria de Boka impressiona pela precisão e pela criatividade – estamos habituados a ouvi-lo em alta velocidade, e aqui a bateria oferece cadências, introduções à trechos mais pesados das músicas, ou ditando dinâmicas incríveis como em “The Child” e na pesadaça “What Future Holds?”. O baixo de Gabriel Imakawa (da banda Jerseys) segura a onda na cozinha com peso e gordura necessários para o estilo.

Se o mundo fosse justo e não precisássemos pagar tanto por ele, “Bus Ride” seria hit absoluto em qualquer FM, streaming ou o que quer que seja. Tem peso, tem riff, mas também tem um apelo pop que pode agradar fãs de Foo Fighters, por exemplo.

+++ A coluna Prazeres Plásticos resenha ‘Necropolítica’, do Ratos de Porão 

Recomendo, além das nove canções poderosas que estão no álbum, a busca pelos sons preliminares: “In Search Of Peace” (lançado como single em formato digital), além de “Cruel” e “Star King”, que foram lançadas no compacto 7” Salt Water, em 2020.

Por fim, Salt WaterSea Sound…a cidade, o mar, o Surf… tudo isso permeia a atmosfera sonora do Apnea. A identidade tá no som e na história dos caras.


Sea Sound, do Apnea

INFORMAÇÕES:

LANÇAMENTO: 09 de setembro de 2022
GRAVADORA: Peculio Discos
FAIXAS: 09
TEMPO: 37:11 minutos
PRODUTOR: André Freitas
DESTAQUES:  “Deepness”, “The Child”, “What Future Holds?”, “Bus Ride”
PARA QUEM CURTE: Stoner-Rock, riffs pesados
CURIOSIDADE: A arte da capa é de autoria de Daniel Toledo, renomado tatuador de Porto Alegre (RS) e fotos de Jair Bortoledo

 

 


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