Falar sobre o De La Soul é falar sobre a história e o legado da cultura Hip Hop em si. Formado em 1988, o influente trio de Amityville (EUA) é um dos maiores expoentes do Rap de todos os tempos. E dizer isso não é exagero algum, pois o grupo foi responsável por criar uma sonoridade única que influenciaria gerações.
Formado por Kelvin Mercer (Posdnuos), Vincent Lamont Mason Jr. (DJ Maseo) e o finado David Jude Jolicoeur (Trugoy), o trio é responsável por trazer ao Rap elementos que hoje são um tanto quanto presentes e perceptíveis na música contemporânea, como as conexões com a cultura africana, o bom uso de samples, e letras em prol da paz e a harmonia, que serviram, como afirma a autora Tricia Rose no livro Black Noise: Rap Music and Black Culture in Contemporary America (1994), como perfeito contraponto à cena crescente do Gangsta Rap, a banalização da violência e ao machismo. Por sinal, em 2021, o livro ganhou edição nacional sob o título Barulho de Preto: Rap e Cultura Negra nos Estados Unidos Contemporâneos, pela Editora Perspectiva.
Por mais que o grupo nunca tenha alcançado o mainstream como seus pares da época, álbuns como o debut 3 Feet High and Rising (1989), De La Soul is Dead (1991), Buhloone Minstate (1993) e Stakes is High (1996), lançados em seqüência, apresentam uma versatilidade musical invejável, que mostram não só a amplitude de estilos com os quais estabeleceram diálogos, indo do tradicional Funk de James Brown e George Clinton, e passando pelo francês Serge Gainsbourg e o brasileiro Odair Cabeça de Poeta.
O respeito conquistado na cena fez com que o trio estabelecesse parcerias com diversos artistas como Busta Rhymes, Mos Def, Jungle Brothers, Q-Tip, David Byrne, Chaca Khan, Common, Damon Albarn (do Blur/Gorillaz), Justin Hawkins (The Darkness), J Dilla, entre tantos outros. Tamanha versatilidade mostra como o grupo sempre esteve atento à música em seus mais diversos formatos.
O trio tem uma história intrínseca com o Brasil, com diversas turnês realizadas pelo país. A última foi em 2016 que, inclusive, passou por BH (via Queremos), apresentando uma performance explosiva e cheia de hits de várias fases como “Me, Myself and I”, “Verbal Clap”, “Ego Trippin’ (part 2)”, “A Roller Skating Jam Named ‘Saturday”, “Oooh” e “Stakes is High”.
Mas como nem tudo são flores, recentemente o grupo enfrentou uma longa batalha judicial com a Warner Records e a Tommy Boy Records, detentora dos direitos fonográficos. Após anos de embate, que teve vários desdobramentos, a discografia clássica do De La Soul agora está presente em todas as plataformas de streaming desde março de 2023.
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A morte precoce de Trugoy, em virtude de insuficiência cardíaca, refreou os planos de dominação mundial dos norte-americanos, mas o culto segue mais vivo do que nunca. Para iniciados, recomenda-se a audição da coletânea “The Best Of” que contém o suprassumo dos anos dourados do trio.
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