7 ÁLBUNS QUARENTÕES EM 2018


Mil novecentos e setenta e oito, quatro décadas atrás. Enquanto na Inglaterra o punk rock iniciava seu declínio, abrindo espaço para o pós-punk, nos Estados Unidos a cena de Nova Iorque, concentrada em torno do CBGB, fervilhava com bandas explorando as mais variadas facetas musicais, desde a sujeira do rock de garagem com influência de Velvet e Stooges até o balanço da new wave. Paralelamente, a música a base de sintetizadores seguia seu desenvolvimento com as experimentações eletrônicas de melodias e ritmo. Selecionamos nessa primeira parte dessa Lista de 7, sete álbuns marcantes que completam quarenta anos nesse 2018.

TALKING HEADS – More Songs About Buildings and Food

Segundo álbum do Talking Heads, que já havia lançado no ano anterior o fundamental 77, de onde saiu “Psycho Killer”, um dos maiores hits da banda novaiorquina. Musicalmente é um álbum que se aproxima bastante da sonoridade apresentada pela banda em seu debut, com arranjos marcados pelo uso rítmico das guitarras e da exploração do balanço de perfeita sintonia do casal Weymonth/Frantz, responsáveis pela cozinha. “More Songs” tem qualidade, mas não consegue alcançar a envergadura de ’77’. Aqui os destaques ficam por conta da sacolejante “Found a Job”, que antecipa o que viria a acontecer dois anos depois no álbum “Remain in Light”, marcado pela world music e pelo suingue; e do inusitado cover de “Take me tot he River”, de Al Green. É um álbum de transição de uma banda com referências mais garagem para um som mais sofisticado.

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THE POLICE  – Outlandos D’Amour

Álbum de estreia do power trio The Police, ainda com uma sonoridade indecisa entre a pegada quase punk e o balanço de inspiração do reggae e ska. Entre canções que se tornaram clássicos da banda e outras que apenas parecem figurantes dentro do disco, Sting e seus companheiros mostravam que havia ali uma banda promissora e que precisava direcionar sua música e encontrar sua própria personalidade para irem mais longe. Apesar de um álbum irregular, onde parecem atirar para todos os lados, como se quisessem agradar gregos e troianos, conseguem emplacar três faixas que até hoje são poderosas: “So Lonely”, “Roxanne” e “Can’t Stand Losing You”. MEsmo assim, tecnicamente e musicalmente pode ser considerado um álbum menor na discografia da banda.

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KRAFTWERK  – Man Machine

Quando lançaram Man Machine os alemães do Kraftwerk já haviam conquistado uma reputação sólida no universo da música pop, estabelecendo-se como uma das bandas mais importantes daquela década ao utilizarem-se dos recursos eletrônicos como nenhum outro grupo até então. O álbum dá prosseguimento às explorações rítmicas do grupo, com um trabalho percussivo dos mais admiráveis construídos pelo quarteto, somado à magistral capacidade de criar melodias curtas mais grudentas, vide a trinca “Metropolis”, “The Model” e “Neon Lights”. Embora não possa ser considerado um álbum conceitual como foi “Radioactivity”, mostra a continuação da exploração de temas relacionados a tecnologia, explicitado no nome das faixas: “The Robots”, “Man Machine”, “Spacelab”, e o papel do ser humano dentro desse novo contexto tecnológico.

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THE CLASH  – Give ‘Em Enough Rope

Dando continuidade a seu punk-rock incisivo inaugurado no ano anterior em seu álbum de estreia de mesmo nome, a banda de Joe Strummer e Mick Jones cometem um de seus melhores álbuns, subestimado por muitos, e com uma das capas mais emblemáticas do rock’n’roll, eclipsada talvez pela primorosa arte de London Calling, seu sucessor. Aqui encontramos o The Clash em seu estado mais bruto, compondo canções simples, mas sem serem simplistas, como sugerem muitos dos críticos ao falarem dos famosos três acordes tão comuns às bandas de punk-rock, o Clash se mostrava um pouco acima disso, e comprovou posteriormente. Na verdade, a música do grupo londrino volta às raízes do rock’n’roll e acrescenta uma fúria que estava em falta nas músicas produzidas na época, falando de temas como terrorismo, e fazendo críticas à sociedade, aos políticos e aos grupos extremistas. O grupo parecia captar o clima daquela época e trazer para as temáticas de suas letras.

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PUBLIC IMAGE – First Issue

Com o fim dos Sex Pistols, Johnny Rotten AKA John Lyndon (o vocalista) resolveu que deveria formar uma outra banda, fundou então o Public Image LTDA, também conhecida como P.I.L. Ao lado do baixista Jah Woble, que alguns afirmavam que só usava uma corda do contrabaixo, e do guitarrista Keith Levine. Já no apagar das luzes de 1978, o Public Image lançou seu primeiro álbum, devidamente intitulado “First Issue”, álbum de oito longas faixas que insistem em arranjos repetitivos, linhas de baixo absurdamente altas e graves e riffs de guitarra cortantes, a trilha sonora perfeita para os vocais de Lyndon cantar sobre temas como religião. Muitos afirmam que esse foi o álbum que deu início ao pós-punk, devido tanto à estética musical quanto ao fato de ter à frente um refugiado da barca punk que começava a “afundar”. “First Issue” traz entre suas faixas “Annalisa”, uma das faixas mais emblemáticas da banda de Lyndon.

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MAGAZINE – Real Life

Em junho de 1978 Howard Devoto e seu Magazine estrearam nos discos com um álbum que pode-se considerar inclassificável. “Real Life” parece não querer  receber etiqueta nenhuma das usuais em fins da década de 70: nem punk e nem pós-punk. O debut da banda, para além dos instrumentos usuais utilizados pelas bandas enquadradas nos estilos citados, agrega também teclado e saxofone, daí resolveram acrescentar-lhes a pecha de new wave e art-rock. No fundo a música do grupo toma emprestado elementos de tantos estilos diferentes que acaba sendo uma espécie de caleidoscópio musical. “Shot By Both Sides”, uma das canções mais conhecidas do grupo, apareceu em diversas coletâneas de punk-rock, embora a faixa que mais se aproxima do formato punk, inclusive em sua duração, seja “Recoil”. Os efeitos sintetizados de teclado  dão as caras em algumas faixas acrescentando-lhes um ar psicodélico, até circense, e remetendo até a algo do The Doors. A conclusão é que Magazine era uma banda que se pretendia a frente de seu tempo, agregando muito e não se aproximando esteticamente de nenhum gênero musical em específico, e assim “Real Life” permanece até hoje: um álbum enigmático.

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SIOUXSIE AND THE BANSHEES – The Scream

O álbum de estreia da banda de Siouxsie Sioux é um petardo indeciso entre o punk rock que ia evanescendo e o pós-punk que ia dando seus primeiros passos. Ainda sem Budge nas baquetas, o quarteto mostrava-se bastante original em sua proposta, mesmo considerando-se tratar do primeiro álbum. A voz de Siouxsie (Suzi) surge marcante em todas as faixas, mas o baixo melódico de Severin, que viria a se tornar uma das marcas registradas da banda, ainda está num papel de coadjuvante, já que os riffs sujos e cortantes de guitarra de John McKay duelam pelo protagonismo com os vocais de timbre incomum da vocalista. “The Scream” foi muito bem recebido na época de seu lançamento, a banda surgia como um sopro novo no cenário musical alternativo da época. Há aqui algumas canções que se tornaram clássicos da banda, como “Switch”, “Metal Postcard(Mittageisen)”, “Mirage” e a versão para “Helter Skelter, dos Beatles, todas obrigatórias nos shows da banda durante boa parte da década de 80. Desenhava-se uma banda que se tornaria icônica.

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