Renomada banda americana retorna depois de um hiato de cinco anos trazendo um som complexo e expandindo os conceitos do gênero folk-rock.
Em dez anos de carreira, podemos dizer que a banda americana Fleet Foxes tem dois momentos. A exaltação por parte de público e crítica no lançamento do début (‘Fleet Foxes de 2008) colocando imediatamente a banda como uma das promissoras no cenário do folk-rock. O outro momento, a separação repentina e prematura de um grupo com o segundo (e igualmente bem avaliado) disco fresco na cabeça de muitos ouvintes. Há quem diga que essa separação veio por conta de uma crise existencial do líder e vocalista Robin Pecknold, outro fato foi a saída do baterista Josh Tillman para tentar uma carreira solo. Somos humanos e compreensíveis ao ponto de entender que cansaço, idiossincrasias e rusgas rondam, principalmente, esse universo da música.
Depois de um hiato de 3 anos (2013-2016), Robin Pecknold refletiu e até mesmo numa de suas entrevistas, o próprio músico dizia que o Fleet Foxes tinha ‘negócios inacabados’. Reuniu novamente as ‘raposas’, retorna ao estúdio para compor ‘Crack-up’. O título do álbum é inspirado numa obra de 1936 de F. Scott Fitzgerald onde, exatamente, o escritor descreve uma crise existencial. A dificuldade e o impasse vividos pelo grupo refletem no álbum que é longo, difícil, fragmentado e que pode fazer algum ouvinte despreparado abandonar logo nos primeiros acordes. ‘Crack-Up’ é, sem dúvidas, um dos discos que mais necessitam de inúmeras audições em 2017.
Fugindo do tradicional conceito de que folk é apenas banquinho, violão e uma melodia pastoril/barroca (mesmo que ‘I Should See Memphis’ possa revelar isso), o Fleet Foxes extrapola sua amplitude sonora nesse trabalho.
O grupo continua redimensionando sua sonoridade, gerando novas perspectivas e reorganizando as características de um gênero que parece ter erroneamente seus conceitos e características pré-estabelecidos.
Assumindo um tom épico, variando entre a calmaria e a tempestade, muitas faixas tomam um aspecto de suítes. Estamos hipnotizados com um trecho da música, de repente tudo para. Outra faixa? Ainda não, mas essa estética de canções distintas dentro de uma mesma faixa é uma ideia funcional do Fleet Foxes que vai se encaixando corretamente (‘I Am All That I Need / Arroyo Seco / Thumbprint Scar’ e ‘Third of May / Ōdaigahara’).
A proposta dos americanos de criar uma ruptura do padrão comum de canções com estruturação verso/refrão dá chance à melodias fragmentadas, progressões épicas de orquestração e o inesperado sonoro. Fato certo que isso já acontecia em ‘Helplessness Blues’ (2011), em ‘Crack-Up’ o alcance é maior. Fácil ser enganado com ‘Cassius, -‘ que de início opta apenas pela voz de Robin Pecknold, entretanto possui uma melodia crescente, se agigantando, para no final surgir com violinos e pianos decisivos. Harmonias vocais, guitarras dedilhadas e uma pseudo-melancolia são também constantes no álbum, a exemplo de ‘On Another Ocean (January / June)’.
Há uma máxima popular de que as melhores obras saem em momentos conturbados. Talvez seja verdade ou apenas mais um mito ou uma lenda que ficou no tempo. Serviu para o Fleet Foxes. Entretanto prefiro opinar que tal disco com qualidades poderia ter saído também na fase boa do grupo. Saiu porque eles continuam fazendo o que gostam, porque desde o début estão mais amadurecidos e como o próprio Pecknold citou, porque precisam terminar os ‘negócios inacabados’.
NOTA: 8,5
:: FAIXAS:
01. I Am All That I Need / Arroyo Seco / Thumbprint Scar
02. Cassius, –
03. Naiads, Cassadies
04. Kept Woman
05. Third of May / Ōdaigahara
06. If You Need To, Keep Time on Me
07. Mearcstapa
08. On Another Ocean (January / June)
09. Fool’s Errand
10. I Should See Memphis
11. Crack-Up
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:: Assista ao vídeo de ‘Fool’s Errand’
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