Sentimental e poderoso, ‘The Record’ mostra a força do supergrupo boygenius


Destaque Boygenius resenha de The Record (@urgesite)

Quando boygenius lançou suas primeiras gravações no longínquo ano de 2018, os devaneios indies do mundo se alinharam em um só projeto. Apesar de a capa do EP fazer referência ao primeiro álbum do supergrupo de Folk-Rock Crosby, Stills & Nash, de 1969, Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker sempre fizeram a música de seu tempo, de sua geração. Como compositoras sempre tiveram uma força criativa maior do que a emulação de uma década que há muito já se foi. No lançamento de 2018, “Me and My Dog” fala sobre distúrbios alimentares e dissociação, nas vias de se sentir sentimentalmente dependente de alguém; enquanto “Ketchum, ID” usa de harmonias de grupos antigos de Folk para dizer sobre a necessidade ficar no celular para não lidar com a ânsia de ter de dizer algo. E o que dizer de The Record?

O mundo de 2023 parece outro. Em uma realidade pós pandemia, as ambições artísticas do boygenius aumentaram e suas qualidades se ampliaram. As três singer-songwriters lançaram álbuns aclamados em suas respectivas carreiras solo desde então. Phoebe se tornou (junto com a nipo-americana Mitski), a rainha desse quase subgênero que é o Indie melancólico feito por mulheres. Foi indicada ao Grammy pelo faladíssimo Punisher, álbum com atmosférica perfeita para o momento de quarentena. Fez parcerias com Taylor Swift, Metallica, SZA e Sir Paul McCartney, e foi no Primavera Sound de São Paulo, no ano passado, onde, depois de seu show, subiu no palco para cantar uma música com a Lorde.

A acapella “Without You Without Them” anuncia um álbum que foi feito para ser isso: um álbum. The Record tem 42:13 minutos de duração e se forma com músicas feitas para serem ouvidas uma atrás da outra. “$20”, talvez a canção mais rápida do disco, corta a calmaria em um ímpeto de guitarra e 4/4. “É uma má ideia, e eu estou muito afim disso” canta Julien Baker. Essa faixa junto com as duas que se seguem, “Emily I’m Sorry” e “True Blue”, foram lançadas quando o álbum foi anunciado e receberam um projeto de três vídeos compilados em um, “The Film”, dirigido pela Kristen Stewart, a eterna Bella de Crepúsculo, e que muito tem a ver com o mundo LGBTQIAPN+ que todas as artistas aqui fazem parte e se posicionam ativamente.

“Cool About It” tem uma aliteração melódica muito clara com “The Boxer”, da dupla Folk sessentista Simon & Garfunkel. Em nota na edição física, Paul Simon é agradecido pela inspiração. Essa coleção de referências diretas sempre serviu muito bem à música solo das três compositoras. Aqui não é diferente. Em “Not Strong Enough”, Julien canta sobre cantar “Boys Don`t Cry”, do The Cure. “Revolution” é uma referência aos Revolutions (1 e 9) dos Beatles. “Leonard Cohen” já chama por nome o compositor e poeta canadense que dá base para a catarse da canção. As três agem como “Andy Warhols” do Indie-Folk contemporâneo. Cortando e colando com sarcasmo referências de épocas que ao contrário de como faz, por exemplo, Lana Del Rey, nunca são reverenciadas.

“Anarchist” tem a ver com o mundo de polaridades em que parece muito tentador escolher uma personalidade entre todas as que estão dispostas por aí. Essa crise de não se saber ao certo o que se é aparece como um tema frequente em todo o álbum. É claro, um reflexo de uma geração cada vez mais perdida em sua própria órbita. E muitas vezes, em sua própria bolha.

Algumas pessoas tentam descobrir para quem as canções são endereçadas. Isso, muitas vezes, as fazem perder o ponto de como a Arte deve ser subjetiva. Mesmo que muitas canções aqui descrevam situações reais, como “Anti-Curse”, uma experiência de quase morte na praia, vivida por Julien e presenciada por Lucy e Phoebe, elas ainda representam coisas únicas para cada pessoa que ouve e se põe junto com o narrador na música.

+++ Leia a crítica de ‘There’s No Other’, de Isobel Campbell

“We’re In Love” e “Letter to an Old Poet” são as faixas que mais se propõem a ser momentos de catarse emocional profunda para quem ouve e se identifica com as situações de vulnerabilidade, fragilidade, e finalmente, força, das letras. O álbum todo representa um momento único na música dessa década até então.

A união de forças que esse supergrupo explora faz com que as composições alcancem lugares que não seriam possíveis em projetos solo. O sentimento está em todo lugar como deveria estar. E a música é o que vem disso: do sentimento.


Boygenius-The-Record

 

 

 

Ano | Selo: 2023 | Interscope
Faixas | Duração: 12 | 50:24
Produtor: Boygenius
Destaques: “True Blue”, “Satanist” e” Letter To An Old Poet”
Pode agradar fãs de: Indie-Folk, Lana del Rey

 

 

 


 

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2 Comments

  1. vicente vasquez
    03/04/2023

    muito bom o texto adorei

  2. 03/04/2023

    Valeu, Vicente. Obrigado pela leitura e pelo feedback!

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