Novo do The National, ‘First Two Pages of Frankenstein’ é convite à introspecção


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The National | Foto: Divulgação

A música do The National acompanha as idiossincrasias de seu vocalista, o deprimido Matt Berninger. Dono de um vocal monocórdico e letras tão confessionais que agarram e arrastam o ouvinte para uma mesa de bar, onde ele abrirá seu coração e sua caixa de palavras para narrar histórias de relacionamentos despedaçados, lembranças e pensamentos persistentes que machucam, sentimentos de deslocamento e outros tantos temas instigantes que costumam rondar as letras do grupo. Berninger se alinha a uma leva de letristas que primam por colocar em palavras aqueles momentos dolorosos marcados pelo silêncio.

Essa postura de crooner de almas desamparadas encontra eco na música construída por seus companheiros de banda, cujo humor parece estar à disposição ou acompanhar o de seu vocalista. E é dessa relação em que música voz/letras se completam que surgem os trabalhos do grupo, em graus diversos de exposição emocional e de resultados também de alcançados. Sejam eles catárticos ou apenas OK, estão sempre pontuados por aquela sensação de fina melancolia.

First Two Pages of Frankenstein, nono álbum de carreira do quinteto (quinto pela gravadora 4AD), é o retrato de um momento para lá de turbulento para Berninger, marcado por momentos de total falta de confiança e uma crise profunda de depressão. Como reflexo inevitável, o The National esteve bem perto de seu fim e, com certeza, carregará as marcas desse período por algum tempo, ainda que elas já estejam dispostas em seu novo disco, dos mais soturnos já lançados pelo grupo, principalmente pelos temas abordados nas letras, identificável de cara em títulos como “This Isn’t Helping” e “Your Mind is not Your Friend”. Ambas tratando, basicamente do mesmo tema, as peças que a mente prega e a forma como certos pensamentos surgem e tendem a nos levar para lugares escuros.

Diferente de trabalhos anteriores, onde elementos eletrônicos ou guitarras distorcidas surgiam pontuando o arranjo de algumas faixas, aqui a banda segue trabalhando suas canções com o piano como elemento básico, num martelar de melodias em geral melancólicas, como na abertura com a intensamente confessional “Once Upon a Poolside”, escrita por Berninger para falar sobre “a sensação de ter que subir no palco todas as noites, mesmo quando ainda estava nas profundezas de sua depressão”, conforme declarado pelo próprio músico.

Encontrar as palavras e construir frases para, em seguida, colocar no papel, sobre toda uma gama de sentimentos e pensamentos sombrios pode ser algo devastador, e pode ser também algo libertador, e muitos artistas já usaram desse expediente como forma de purgar ou apenas suportar uma dor que dilacera, e seguir em frente na sequência. Não há como não pensar, por exemplo, em Boatman’s Call, de Nick Cave. Há muitos outros exemplos na história da música.

Os momentos orquestrados (cortesia da London Contemporary Orchestra) e as parcerias estão mantidos aqui: Sufjan Stevens (na faixa de abertura já citada), Taylor Swift em “The Alcott” e Phoebe Bridgers em “This Isn’t Helping” e “Your Mind is not Your Friend”, são os convidados da vez. Stevens e Bridges tem participação discreta, apenas complementando as linhas vocais de Berninger; Swift, por outro lado, faz um dueto realmente belo com o vocalista, mais que isso, parte da letra foi escrita pela própria artista.

Apesar da discrição, essas participações se mostram suportes essenciais para o processo criativo de Berninger, assim como o livro Frankenstein, de Mary Shelley, foi a leitura que esteve ao lado do músico ao longo do processo de criação do novo álbum, daí o título homenageando-o. Berninger contou também com a ajuda da esposa, Carin Besser, em algumas letras e com os backing vocals de Mina Tindle, esposa do guitarrista Bryce Desner, que participou de vários álbuns do grupo.

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First Two Pages of Frankenstein é um álbum marcado pela introspecção, necessário para ajudar o grupo a passar por uma de suas fases mais turbulentas. Pode não ser o disco mais marcante do grupo no quesito construção de arranjos, aqui bastante focado na repetição e certo minimalismo. Já no quesito lírico, está entre os mais poderosos do grupo, e daí vem esse sentimento repleto de melancolia que se instala em muitas das canções, seja na melodia triste do piano (presente em várias faixas) ou nos acordes repletos de saudosismo do violão de “Ice Machine”. Nesse contexto, “Eucalyptus”, “Tropic Morning News” e “The Alcott” são os pontos de maior destaque do disco, marcado pela densidade.

“Tropic Morning News” faz parte de nossa Playlist de 2023, e você pode CURTIR/OUVIR clicando AQUI.

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2023
GRAVADORA: 4AD
FAIXAS: 11
DURAÇÃO: 47:40
PRODUTOR: The National
DESTAQUES: “Eucalyptus”, “Tropic Morning News”, “The Alcott”, “Grease in Your Head”
PARA FÃS DE: Canções melancólicas, Iron & Wine, Kurt Vile, Jenny Lewis

 

 

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