“No Chão Sem o Chão”, de Romulo Fróes, é um dos melhores discos brasileiros do século XXI


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Foto | Luan Cardoso

Foi num finado (e saudoso) Conexão Vivo BH que, em 2010, ouvi falar sobre o trabalho do paulistano Romulo Fróes. O festival, que fez parte da educação musical de muitos aficionados por música da minha geração, promovia (através de sua extensa programação) um autêntico intercâmbio cultural, trazendo para a capital mineira artistas variados de todo o país. Tal iniciativa era, não só, um grande exercício de curadoria, mas também uma potente amostra de como a música brasileira vivia momentos de efervescência e pluralidade.

Voltando a Fróes, na época o músico divulgava o terceiro disco (e duplo) No Chão Sem o Chão (2009) e fez uma performance memorável, e, porque não dizer, estranha aos meus ouvidos acostumados ao Rock tradicional e sexista. Saí de lá com o álbum na sacola e entrei num processo de imersão musical que há tempos não experienciava.

Produzido por Romulo e Clima, o disco é composto por 33 faixas e divido em duas sessões: a primeira, e mais barulhenta, “Cala a Boca Já Morreu” e a segunda, “Saiba Ficar Quieto”, na qual canções mais introspectivas e cadenciadas dão o tom. Com um material tão abrangente em mãos, é difícil pontuar quais são as canções de destaque, mas “Do Ponto do Cão”, “Anjo”, “Mochila”, “Só Você Faz Falta”, “A Anti-Musa”, “Para Fazer Sucesso”, “O Que Todo Mundo Quer” e “Ninguém Liga” se sobressaem.

Ao longo das quase duas horas de material, Fróes traz à tona ao longo das canções uma das características mais marcantes da geração de compositores pós anos 2000, a de trafegar entre estilos com naturalidade, destreza e ousadia. Tal fato só confirma (e expande) as intenções que os anos 90 evidenciaram. O Samba é a força motriz do disco, mas ele é acrescido de camadas e associações que vão desde guitarras distorcidas a naipe de metais.

Fróes é, na essência, um compositor que atua como um cronista urbano, trazendo um olhar poético e agridoce para o quotidiano e o fazer artístico. Sua versatilidade lírica, inclusive, fez com que suas composições fossem gravadas por diversas vozes femininas como Elza Soares, Mariana Aydar, Nina Becker, Juçara Marçal, Ná Ozzeti e Juliana Perdigão.

Romulo sempre se cercou de grandes parceiros musicais, e aqui não foi diferente. Curumin, Guilherme Held, Nuno Ramos, Fábio Sá, Tatá Aeroplano, a Velha Guarda da Nenê de Vila Matilde, Lulina, as já citadas Nina Becker e Mariana Aydar são alguns dos exemplos de artistas que estão presentes no disco.

+++ Leia a crítuca do álbum ‘As Palavras I e II’, de Rubel

De lá para cá, Fróes se envolveu em outras tantas parcerias, criou o poderoso grupo Passo Torto (junto a Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Marcelo Cabral), produziu discos (seus e de outrem), lançou discos instigantes (“Barulho Feio”, “O Disco das Horas”) e segue sendo uma das vozes mais importantes da nossa MPB.


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Ano | Selo: 2009 | YB Music
Faixas | Duração: 33 | 1:58h
Produtor: Romulo Fróes e Clima
Destaques: “Do Ponto do Cão”, “Anjo”, “Mochila”, “Só Você Faz Falta”, “A Anti-Musa”, “Para Fazer Sucesso”, “O Que Todo Mundo Quer” e “Ninguém Liga”
Pode agradar fãs de: MPB, Samba, Pop-Rock

 

 

 


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