À Procura de Rodriguez: Morre o herói de um conto de fadas da música


Sixto-Diaz-Rodriguez
Crédito: Katerina Sulova / CTK via AP file

A morte de Sixto Rodriguez na última terça-feira (08/08) põe o último capítulo de uma das mais interessantes histórias da música popular. O anúncio foi feito no site oficial de Rodriguez, onde o texto ainda prestava condolências às filhas Sandra, Eva e Regan, como também para toda a família.

O cantor-compositor descendente de mexicanos nasceu na cidade de Detroit, Michigan, nos Estados Unidos, e vivia nos submundos urbanos da metrópole industrial. A cidade, que fez explodir a Motown e despejou os ruídos das bandas de Proto-Punk como os Stooges e o MC5 no mundo, não fez sorrir para os talentos inegáveis de Rodriguez.

Seu primeiro álbum, Cold Fact, de 1970, tem uma coleção de canções poderosas com grande nível de expertise lírica que não passa despercebida pelas nébulas do frio cinza da cidade que as músicas espelham. Na época de lançamento, a profusão de cantores-compositores atingia seu ápice em um Folk-Rock que já era listado como contemporâneo-adulto.

A influência de Bob Dylan é clara até nos óculos escuros beatniks de Rodriguez. As canções contam histórias e pintam com pinceladas de cores vivas pasteis – abstratas, mas ao mesmo tempo realistas – as narrativas criadas. “I Wonder” é provocativa, sobre um delicioso riff de baixo, Rodriguez se pergunta quantas vezes sua interlocutora fez sexo e se ela sabe quem será o próximo: “I wonder how many times you had sex / And I wonder do you know who’ll be next”. A mística “Sugarman” traz referências virtuosas ao uso de drogas.

Todo o talento de Rodriguez não ressoou em sucesso comercial, pelo menos não nos Estados Unidos. Na África do Sul, no entanto, Rodriguez era maior que Elvis. Essa história é contada pelo documentário Procurando Sugar Man (Searching for Sugarman), de 2012. O longa ganhou o Oscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem na sua 85ª edição, e foi o modo pelo qual muitas pessoas ouviram falar de Sixto Rodriguez.

Procurando Sugar Man conta como na realidade de uma África do Sul, na prisão do Apartheid, Rodriguez virou, sem saber, a trilha sonora da contracultura que resistia em meio a repressão. Por meio de cópias bootleg e prensagens sul-africanas de seus dois álbuns desconhecidos nos Estados Unidos, as canções se espalharam e ecoaram sem que Rodriguez sequer tomasse parte disso tudo.

Em um conto de fadas da música popular, Rodriguez só entendeu todo o reconhecimento que recebeu quando um jornalista musical foi à sua procura. Sixto realizou uma série de shows na África do Sul como se fosse um beatle no auge da beatlemania. A luz então brilhou em sua obscuridade e, em um movimento nunca antes visto na lógica artística-comercial, o sucesso chegou, em vida, para Rodriguez.

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Os dois únicos álbuns de Rodriguez são grandes peças de um compositor que entendia seu estilo e que tinha tudo para ser o que não foi, ou melhor, foi em outras circunstâncias, em outras situações. A música é mágica.

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