‘Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe’ é o pior da Hollywood sedenta por números


Nicolas Cage e Nicholas Hoult in Renfield - Dando o Sangue Pelo Chefe

De tempos em tempos, um cinéfilo e/ou crítico de cinema inicia uma discussão sobre questões de mercado, homogeneização dos gostos e outras dinâmicas da indústria estadunidense de cinema, principalmente dos grandes estúdios. Quando assisti a Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe, foi logo após acompanhar parte do debate e ler textos inflamados tanto em defesa ou ataque de Hollywood. Um timing terrível, devo admitir, pois logo após, eu passei 1h30 lamentando cada interesse mercadológico hollywoodiano que eu observava surgir em Renfield.

Renfield mistura tudo que anda em alta nas telonas do Tio Sam. Em noventa minutos de produção, o diretor Chris McKay, além de resgatar um personagem histórico da literatura e referenciar a obra cinematográfica mais famosa sobre o Drácula, integra elementos famosos de outras partes de Hollywood. Dessa forma, há uma tentativa de incluir violência gráfica como em John Wick e filmes de David Leitch, há Terror Trash como o de O Urso do Pó Branco. Para agradar outra parcela do público, há um romance em meio a violência, tão apático quanto o de Ghosted: Sem Resposta, além de, é claro, um tópico sério para causar uma mensagem para o público. Todos esses elementos serão regidos por uma condução de forte tom humorístico (que vai lembrar o humor Marvel) e uma narração em off que ajuda a manter a produção dentro do PG13.

De toda essa mistureba poderia sair um bom filme, afinal, tudo é possível no cinema, mas não é isso que acontece. Ao não deixar indícios de ser uma sátira sobre Hollywood, um recurso que poderia possibilitar que o filme não fosse levado a sério, Renfield escolhe ser o oposto, incluindo nisso, a obediência aos protocolos batidos de boa parcela do cinema blockbuster. O padrão é reconhecido, ou seja, pode ser mais apreciativo aos olhos de quem é bombeado pelo cinema estadunidense, mas o torna facilmente esquecível, afinal, o filme não consegue superar expectativas ou fazer algo minimamente decente dentro do limite imposto pela cartilha, pelo contrário, complica-se ainda mais.

Quanto à narrativa, a produção tem dificuldade em justificar suas histórias secundárias, assim como desenvolvê-las dentro da premissa e proposta inicial do filme que é acompanhar Renfield e sua determinação de cortar laços empregatícios com seu chefe. Em dado momento, as histórias secundárias tomam conta da tela e fazem de Drácula (Nicolas Cage), o grande provedor de terror psicológico do filme, um coadjuvante sem importância. Nesse sentido, me parece que não houve um interesse verdadeiramente genuíno em trazer a clássica história para o cinema e modernizá-la, afinal, como se pode fazer isso quando passamos mais tempo vendo perseguições policiais e planos da máfia – com inúmeros erros de continuidade, devo apontar – que acompanhando as interações entre Renfield e Drácula?

+++ Leia a crítica de ‘Corra, Querida, Corra’, de Shana Feste 

Preocupado unicamente em lucrar a partir da inserção de um personagem histórico nos novos moldes hollywoodianos, Renfield é decepcionante.

Poster do filme Renfield

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

TÍTULO ORIGINAL: Renfield
ANO: 2023
GÊNERO: Comédia, Fantasia, Ação
PAÍS: EUA
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 1:33h
CLASSIFICAÇÃO: 18 anos
DIREÇÃO: Chris McKay
ROTEIRO: Ryan Ridley, Robert Kirkman
ELENCO: Nicholas Hoult, Nicolas Cage, Awkwafina,  Ben Schwartz, Shohreh Aghdashloo e outros
AVALIAÇÕES: IMDB | Rotten Tomatoes

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