Em 1994, o Nirvana era a maior banda do planeta. A improbabilidade disso provocou uma das maiores tragédias da história do Rock, quando Kurt Cobain tirou sua própria vida em 05 de abril daquele ano.
Dos remanescentes do Nirvana, Dave Grohl se reencontrou com a música no Foo Fighters, e com ele está Pat Smear, guitarrista que também integrou a última formação do Nirvana.
Mas…e Krist Novoselic?
Em 1994, pouco mais de um mês após a morte de Cobain, Novoselic completou 29 anos de idade. Na ocasião, uma amiga contratou uma música de rua para “animar” sua festa de aniversário. Seu nome: Yva Las Vegas.
Venezuelana, fã de Nina Hagen, de voz potente, aparência exótica e performática, Novoselic viu a oportunidade de ajudar a artista a gravar um álbum. A ajuda, no entanto, virou parceria, e logo o duo virou banda.
Novoselic empunhou uma guitarra de 12 cordas, Yva o contrabaixo (às vezes trocavam funções), e Bill Rieflin (ex-Ministry, Revolting Cocks, KMFDM) foi chamado para fazer as baterias e percussões. O simples envolvimento de Novoselic rendeu um contrato com a Geffen, e o álbum autointitulado foi lançado em 1997.
Distante da sonoridade do Nirvana, ou mesmo do que foi chamado de Pós-Grunge, Sweet 75 não teve destaque (a não ser as repercussões negativas de quem esperava algo nirvanesco), mas, ouvindo em 2023, afirmo categoricamente que é um álbum que envelheceu muito bem, e à frente do seu tempo.
Rock Alternativo furioso de influências Pós-Punk, agregado de latinidades, Country, Lounge, Blues, Jazz, letras confessionais e uma estupenda performance vocal. O único álbum do Sweet 75 soa ótimo hoje em dia, mas, sim: era um som estranho em 1997.
“Fetch”, “Lay Me Down” (a melhor do álbum), “Red Dress” e “La Vida” já eram composições de Yva, e “Cantos De Pilon” é uma canção tradicional venezuelana. A rápida e pesada “Bite My Hand” flerta com o Hardcore. “Oral Health”, que fecha o álbum, foi a primeira música composta pelo duo.
As letras de Yva (e Novoselic) são ásperas, suburbanas, usam metáforas que sugerem relações abusivas, consumos nocivos e sentimento de exclusão. Por exemplo, “Ode To Dolly”, mistura deliciosa de Country com um acesso de fúria em homenagem a Dolly Parton, tem Yva falando que não tem um vestido nem cabelão pra ser como Dolly. Já “Poor Kitty” é direta: “Why don’t you fuck yourself/ ’Cause I don’t want to fuck / Not with you”.
Yva soa uma Johnette Napolitano (Concrete Blonde) com mais drive (ou raiva) na voz. E a guitarra de 12 cordas de Novoselic preenche espaços e cria um som exótico e além dos padrões do Rock noventista.
O álbum tem participação de Peter Buck (R.E.M.) em “Cantos de Pilon”, e do lendário trompetista Herb Alpert em “La Vida”.
Até meados de 2000 havia uma possibilidade de haver um segundo álbum, mas Novoselic e Yva se desentenderam – possivelmente sem chances de reconciliação: há boatos pela internet de que Yva reconheceu em Novoselic atitudes racistas.
Yva é bastante atuante nas redes sociais em prol de causas progressistas, socialistas e LGBTQIA+.
+++ Leia a matéria ‘Três bandas para quem curte Nirvana, e você não conhecia’
E Novoselic… bem… Após o Sweet 75 chegou a tocar (com Jello Biafra do Dead Kennedys; e Kim Thayil do Soundgarden) no projeto Punk No WTO Combo. Mas, parafraseando sua antiga banda, parece que ele se tornou “bored and old” (“Teenage angst has paid off well / Now I’m bored and old” – Serve The Servants): ele apoiou Trump, e isso diz tudo.
Ano | Selo: 1997 | Geffen
Faixas | Duração: 15 | 49:43
Produtor: Paul Fox
Destaques: “Fetch”, “Lay Me Down”, “Ode To Dolly”
Pode agradar fãs de: Rock Alternativo, Hole, PJ Harvey, Concrete Blonde
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