Relativamente recente na paisagem de bandas de Feira de Santana (BA), os rapazes da Iorigun surgem com uma proposta que muitos esperavam acontecer, uma banda que trouxesse em sua música a sonoridade do presente, contemporânea daquilo que está acontecendo musicalmente nesse exato momento em Londres ou Nova Iorque, em Toronto ou Estocolmo.
Claro, a música não tem época, não tem lugar, ela é universal, mas sua linguagem adquire formas variadas em diferentes épocas, a Iorigun surge com a “linguagem” apropriada para os dias atuais no cenário musical feirense, um Indie-Rock de guitarras que conversam em dedilhados melódicos mas que podem cair para um lado mais noise, sem esquecer a pulsação que induz à dança.
A jornada da banda está no começo, há muito caminho pela frente, mas estes primeiros passos tem se mostrado promissores, atestado no viciante single Downtown. É um bom começo.
Formada por Iuri Moldes (Vocal e Guitarra), Moysés Martins (Baixo), Leonel Oliveira (Bateria) e Fred Lima (Guitarra), a banda fala sobre formação, influências, cantar em inglês, planos futuros e mais.
Como surgiu o nome Iorigun? Há algum significado?
R: Essa a gente prefere manter em segredo. É um mistério legal pra galera decifrar, e é perfeitamente possível que consigam. Algumas pessoas já sabem (risos). Entretanto, é cheio de significado. O nome quer dizer tudo o que a gente quer passar com o nosso som.
Quando a banda surgiu? Falem um pouco sobre a história de vocês.
R: Iuri e Moysés já estão juntos desde 2015, mas durante esse período era só composição e gravação de demos. No início de 2017, Leo entrou na banda e foi o empurrão que precisávamos para que de fato pudéssemos materializar as músicas que estavam no papel. Alguns meses depois Fred se juntou ao que conhecemos hoje por Iorigun, e em julho fizemos a nossa estreia já com o lançamento de ‘Downtown’.
No release passado para a imprensa há referência a bandas indie americanas surgidas no fim da década de 2000 e início de 2010, The Drums, Beach Fossils, DIIV e Wild Nothing, sentem-se próximos desses nomes?
R: Ao mesmo tempo que sim, não. São definitivamente influências diretas. Era o som que todos nós estávamos escutando na época em que juntamos os instrumentos, e ainda hoje estamos muito conectados com essas bandas. As referências são bem claras, mas buscamos deixar o processo de composição e produção aberto à novas perspectivas. Tem muita banda da década de 80 que estão nos pilares da Iorigun também.
No show do Fervura Feira Noise (06/10) vocês tocaram uma cover do Bloc Party, há outras que podem pintar em shows futuros?
R: É bem possível! Apesar de sempre buscarmos priorizar as autorais, tocamos algumas músicas do Bloc Party em ensaio por pura diversão, e como não gostamos de repetir repertórios, é bem capaz que alguma delas pinte no futuro. Bloc Party é inclusive uma dessas bandas que atualmente ouvimos muito juntos.
Cantar em inglês é uma opção devido ao som que fazem ou há um olho no mercado externo? A ideia é que todas as canções sejam cantadas em inglês ou pode surgir alguma letra em português?
R: A gente acredita que a música é como ela se revela. No seu projeto anterior, Iuri compunha músicas em português. Mas desde o embrião da Iorigun, as músicas sempre vieram em inglês sem nenhuma razão aparente. É a maneira como nos sentimos mais confortáveis no momento, o que pode ou não mudar futuramente.
Obviamente, as duas formas de composição tem seus prós e contras, mercadologicamente falando. Cantar em inglês, por exemplo, nos possibilita atingir um público bem maior em escala mundial. Hoje em dia a internet catapulta essa possibilidade. Mesmo tendo isso em consideração, o mais importante pra gente sempre foi ser um nome relevante na cena local. Achamos que a partir daí é que naturalmente são dados outros passos.
Na música de vocês há um lado bem melódico e dançante, às vezes ensolarado, mas em alguns momentos as guitarras se avolumam, reverberam, beirando o noise. Poderiam falar um pouco sobre o processo de composição?
Legal, a vibe é bem essa mesmo. Além das influências como um grupo, cada um traz uma veia pessoal bem forte pro som, o que acaba ocasionando essa mistura. Um curte mais dreampop, o outro traz um pouco do shoegaze, outro do math rock… Tem uma gama de sons que a gente gosta de explorar e que ainda vamos experimentar.
Nosso processo de composição contempla diversas etapas. Geralmente são feitas demos com esboços de ideias por Iuri ou Moysés. No segundo momento, a banda se reúne por completo e produz e finaliza a música. Muitas ideias, por exemplo, surgem até mesmo depois dessas etapas. Já no processo de gravação, como no caso de ‘Downtown’.
Como é ter uma banda fazendo o som que vocês fazem numa cidade como FSA?
Inicialmente não imaginávamos uma resposta tão positiva da galera. A gente faz um som diferente do que rola por aqui e achou que isso poderia ser um empecilho. Felizmente, o que rolou foi uma onda totalmente diferente, e muita gente enxergou no nosso som aquilo que só podia escutar na internet. Amamos nossa cidade e essa galera toda e esperamos que nosso melhor público seja sempre aqui.
O single ‘Downtown’ é muito bom, tem alguns “ganchos” interessantes, poderiam falar como foi gravado e produzido? De onde foi tirado o sample que ouvimos na canção?
R: Ele foi inteiramente gravado no Iori. É como chamamos nosso mini estúdio, um laboratório com alguns poucos equipamentos. Gravamos e produzimos em dois dias, de forma tranquila. Até algumas guitarras da demo foram utilizadas.
O processo de produção foi basicamente o mesmo das outras que estão por vir, tocamos, pensamos e experimentamos até sentirmos que está feito. A gente se mantém aberto à experimentação, e acreditamos ser esse o ponto chave.
O sample surgiu de uma ideia, no último dia de mixagem. Corremos pra implementar e achamos que funcionou bem legal.
Quais bandas nacionais ou gringas vocês recomendariam?
R: Leonel: DIIV que é do caralho! Bloc Party, principalmente o Silent Alarm (2005); Foals, todos os discos são muito bons, mas tenho um carinho especial pelo Holy Fire (2013); The Drums, com o Portamento (2011). Do cenário nacional, além do Boogarins, eu indico em primeiro lugar a IORIGUN (risos), Calafrio, Far From Alaska, O Terno, Maglore e Vespas Mandarinas.
Iuri: Recomendo bastante The Horrors, principalmente o álbum mais recente (V). The Maccabees, especialmente o terceiro álbum (Given To The Wild). Esse álbum tem uns timbres de guitarra sensacionais e é um álbum obrigatório pra mim e uma forte inspiração. Yuck (primeiro e segundo álbuns) é fantastico também. Julian Casablancas + The Voidz é uma banda que eu sou apaixonado e acho que muita gente não parou pra ouvir de verdade ou não se conectou com o som, mas é realmente um trampo genial com um conceito muito bem definido, eu curto isso. Escutem Peace. É uma banda foda. Além dos clássicos obrigatórios, The Cure, Slowdive, David Bowie, etc.
Moysés: Baiana System, a energia que eles promovem no palco é uma inspiração para mim. Viva a Bahia, porra! Boogarins, que chegou muito longe com um trampo gravado em casa (As plantas que curam), e nos inspirou a produzir nosso som. De nossa casa, Uyatã Rayra é o artista que mais me inspira. Lá fora, sem dúvidas, o Radiohead está no topo por sua profundidade e engenharia de áudio. Atoms for Peace que é difícil digerir, mas amo ritmo, e não entendê-los na primeira audição me deixa totalmente feliz. Tem o Tame Impala, com todos os seus timbres coloridos, o Grizzly Bear, que lançou um discão esse ano, o Fleet Foxes que invejo pra caralho e também lançou um disco foda esse ano, Kendrick Lamar e todas as suas obras primas (o “DAMN.” não sai do meu carro), Deerhunter e toda sua vibe experimental, Toro y Moi, Jorge Ben Jor, Metronomy, The War on Drugs, LCD Soundsystem.
Fred: Bem, nesses últimos tempos a maior parte do que ouvi tem a ver com nossas influências, referências e gostos em comum. Então deixo como indicação três dos álbuns que eu mais ouvi (em looping infinito rs) nos últimos seis meses: Fresh Air – Homeshake, Holy Fire – Foals e Ventre – Ventre. E, também, tenho que indicar Far From Alaska pelo ótimo álbum e shows que vêm fazendo por aqui. Vale a pena dar uma ouvida também nas playlists que fizemos lá no Spotify da Iorigun!
Planos futuros e recado que gostariam de deixar para os leitores.
R: Shows // Single // Shows // EP // Shows… Tocar o quanto for possível e produzir pra caramba. Nas próximas semanas vai rolar single novo, e se tudo der certo, até o final do ano sai o EP.
A gente agradece muito a energia que a galera compartilha com a gente. Escutando ‘Downtown’, espalhando o som, dando feedback, trocando ideia nas redes sociais, e principalmente curtindo nos shows. Os shows tem sido a melhor parte dessa nossa jornada, e a gente deve isso à vocês que colam e dançam muito com a gente. A melhor forma de agradecer é produzindo música boa e fazendo shows cada vez melhores!
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