Quarteto australiano Vacations chega ao terceiro álbum após sua música viralizar e trazer junto uma avalanche de situações que estão encapsuladas em ‘No Place Like Home’
Pouco mais de três anos desde Forever Bloom (2020), a banda australiana Vacations está de volta aos álbuns com No Place Like Home (No Fun Records), seu terceiro trabalho. Formado em 2015, Vacations é um quarteto de Portland, e tem em sua formação o compositor. vocalista e guitarrista Campbell Burns, além de Jake Johnson (baixo), Nate Delizzotti (guitarra) e pelo Joseph Van Lier (bateria). Burns é o cara que deu o pontapé inicial para que o grupo se formasse e muito do que representa a música do grupo está ligado a si, ou seja, é ele quem leva a banda adiante.
No período que separa Forever Bloom de No Place Like Home, alguns acontecimentos marcaram definitivamente a carreira do grupo. Além da angústia do lockdown, provocado pela pandemia, o grupo viu, em 2022, a canção “Young” do EP Vibes (2016), se tornar viral graças ao uso em um vídeo postado no Tik-Tok. Isso impulsionou as audições da banda no Spotify, levando-os a alcançarem números acima dos milhões e receberem certificado de platina em alguns países. E com a volta dos shows, o grupo fez apresentações para públicos cada vez maiores, inclusive nos Estados Unidos.
No Place Like Home documenta essa montanha russa pela qual a banda passou, acrescentando mais alguns pontos chaves, o bloqueio criativo do vocalista por cerca de três anos, o diagnóstico médico de TOC e sua mudança para os Estados Unidos em 2023.
Se nos primeiros trabalhos do grupo havia uma típica banda de Indie-Rock movida a guitarras e com elementos de de Lo-Fi, o novo álbum direciona a música do Vacations para uma cruza entre o Indie-Pop/Indie-Rock adicionando elementos de gêneros ligados à eletrônica, como o Synth-Pop e o Electro-Pop. Nesse sentido, embora clichê, não há como negar uma progressão natural em relação a tudo que fizeram antes e ainda um refinamento em relação às ideias que geraram o álbum anterior.
O novo trabalho conta, pela primeira vez, com um coprodutor externo. No Place Like Home foi produzido por Burns em parceria com John Velasquez, e gravado em Los Angeles. O resultado dessas mudanças já era sentido na ensolarada “Next Exit”, o primeiro dos quatro singles lançados pelo grupo. Desde a abertura da canção, que tem uma melodia sintetizada grudenta, aos “sons cintilantes” da guitarra, e a maior exploração do falsete (usado efusivamente ao longo do disco) durante o refrão, além de camadas de sintetizadores lá no fundo, Vacations já informava seus propósitos musicais por vir: canções com toques melancolia, impulsionada pelo vocal, se chocando com os riffs, às vezes ensolarados, da guitarra.
Uma das faixas que melhor resume esse paradoxo citado logo acima é a ótima “Slow Motion”, onde Campbell canta sobre fragilidade e incertezas: “Se eu me apoiar em você / Você vai me segurar? / Não consigo ver outra saída para isso / Cuidado com meus passos / Acertar ou errar / Não consigo ver outra saída para isso / Retomar o fôlego”. Aliás, a própria “Nex Exit” já tem bastante disso, já que fala sobre estagnação e insegurança em relação ao futuro, sensações típicas da época da pandemia. Fala também sobre o desejo e a possibilidade de voltar ao começo.
Em “No Place Like Home”, a faixa que dá título ao álbum e carrega muito do sentimento que perpassa todo o disco, Burns reflete sobre a contraditória necessidade de mudança e, por outro lado, a saudade de “casa”, ou do que ficou pra trás: “Mudança de rumo, navego para longe de seus braços / Não é mais seguro aqui / Não somos mais o mesmo / não posso mais escolher permanecer aqui”. Lenta e melancólica, a canção tem um arranjo que se desdobra aos poucos. Começa com elementos mínimos e aos poucos vai sendo preenchida por camadas de instrumentos e até um curto solo de slide-guitar.
Os elementos de Synth-Pop surgem mais intensos em faixas como a tristonha “Over You” (sobre alguém que está obcecado por outra pessoa) e também nas batidas eletrônicas e camadas de synths da romântica “Midwest”, onde o vocalista canta sobre a saudade de alguém que está distante: “Você está sempre em minha mente / Porque eu sinto sua falta / Porque eu não quero que você vá”.
De acordo com o vocalista, há muitos sons pré-gravados que foram sutilmente inseridos nas canções, desde sons de elevador, gravações em aeroporto e muito mais. Parte disso pode ser ouvido mais claramente na instrumental “Arizona”. A faixa marca uma mudança no ritmo do álbum que começa a desacelerar após a agitada “Close Quarters”, outro dos singles do disco, onde o esgotamento psicológico provocado pela indústria musical e pelas turnês é o tema central, provocando o desejo de queimar tudo e desaparecer.
“Off Season”, “Term & Conditions” e “Lost in Translation” encerram o álbum e são canções de climas mais meditativos, com uma clara mudança de humor em relação ao início quase eufórico. Os arranjos abrem espaço para o uso do violão acústico e de guitarras com texturas límpidas. “Olá, estranho / Por um minuto, nos perdemos na tradução / Vamos começar de novo”, canta Burns em “Lost in Translation”, e retoma ideia de que sempre é possível recomeçar, retomando as ideias de mudança exploradas no início com “Next Exit”.
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No Place Like Home é um trabalho curto – pouco mais de trinta minutos -, onde a banda agrega muitos elementos sem saturas os arranjos e nem o ouvinte. É um álbum que fala muito sobre fragilidade e vulnerabilidade. Um disco em que a sensibilidade está à flor da pele a todo instante, sem resvalar em sentimentalismo açucarado. É a travessia do Vacations após uma turbulência e o resultado de todas as marcas que ficaram gravadas. Acompanhar o grupo nessa jornada é um misto de euforia e melancolia.
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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:
ANO: 2023
GRAVADORA: No Fun Records
FAIXAS: 10
DURAÇÃO: 32:43 min
PRODUTOR: Campbell Burns e John Velasquez
DESTAQUES: “Nex Exit”, “Slow Motion”, “No Place Like Home” e “Lost in Translation”
PARA FÃS DE: Indie-Rock, Indie-Pop, The Drums, Beach Fossils
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