Assim que Bob Mould encerrou as atividades de sua seminal e influente banda Hüsker Dü, o prolífico compositor emendou logo dois álbuns solo, em que adotou uma sonoridade mais branda, com músicas mais longas, lentas e com pouca distorção nas guitarras. Os discos tiveram recepção morna, pois careciam da fúria e da inspiração dos tempos anteriores.
Em paralelo a isso, artistas como My Bloody Valentine, Pixies e Nirvana revolucionavam o Rock Alternativo tendo por base o estilo de fúria melódica criado pelo Hüsker Dü. Mould ficou fascinado com as guitarras de Kevin Shields (My Bloody Valentine) e voltou à ativa com um novo projeto, denominado Sugar, em que colocava novamente o peso das guitarras em primeiro plano.
O disco de estreia do grupo, Copper Blue, foi o maior sucesso de vendas de toda a carreira de Mould (300 mil cópias vendidas) e ganhou o prestigiado prêmio de álbum do ano da revista New Musical Express. Mould se reinseria na cena que ajudara a criar e ainda conseguia acrescentar algo novo, fruto de seu prodigioso talento para compor ganchos e riffs de guitarra. A sonoridade de Copper Blue foi a base para o grunge de arena que elevou o Foo Fighters às alturas do universo pop.
O disco abre com guitarras a todo vapor em “The Act We Act”, com uma letra melancólica sobre um relacionamento desgastado. ‘If I Can Change Your Mind” tem temática semelhante, retratando uma relação mergulhada em desconfiança: “And if you can´t trust me now/You´ll never trust in anyone”.
A tocante “The Slim” aborda a perda de um amigo pelo vírus da Aids, e ajudou a aumentar os rumores acerca da homossexualidade de Mould, que acabou assumindo ser gay numa entrevista para uma revista.
“A Good Idea”, a melhor música do disco, é levada por uma linha de baixo infectante, batida dançante e efeitos originais de guitarras que entram e saem de forma frenética. É quase uma releitura de “Debaser”, do Pixies, e uma forma de homenagem de Mould ao quarteto de Boston. A letra aparentemente inofensiva aborda nas entrelinhas um assustador assassinato de uma mulher por afogamento, e ainda deixa no ar se ela havia consentido em ser morta: “Now that´s a good idea/She said, she said/To be alone with you/She said, she said/I´ve been waiting for years/And I´d rather be dead”.
A banda ainda deixou seis músicas de fora do álbum, grande parte delas com temática ainda mais pesada e sonoridade corrosiva, sendo duas que tratam de um tema não muito comum no universo de Mould: religião. Elas foram lançadas no ano seguinte como um EP intitulado Beaster.
Em 1994, foi lançado o segundo álbum do grupo, File Under: Easy Listening, uma agradável coleção de canções pop que fazia jus ao título, mas que não chegava nem perto do peso e impacto de Copper Blue. A banda se separou em 1995, e Mould continuou em carreira solo, passando por experimentos com música eletrônica e retornando nos últimos anos ao peso das guitarras – que ele domina como poucos.
FAIXAS DE DESTAQUE: The Act We Act, A Good Idea, Man on the Moon
Confiram também:
Beaster –EP (1993)
File under: easy listening (1994)
* Texto originalmente publicado no livro ‘ROCK ALTERNATIVO: 50 ÁLBUNS ESSENCIAIS’, de Daniel Rezende.
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